Num raio de aproximadamente
seis quilômetros na capital paulista - da Penha à Frequesia do Ó e do
Ipiranga à Barra Funda - vivem cerca de 400 mil latino americanos, que
migraram da Bolívia, Peru, Paraguai e Chile nos últimos anos em busca de
trabalho e melhores condições de vida. Estima-se que mais da metade deles ainda
seja clandestina, ou seja, não possui permissão para residir legalmente no
Brasil. Uma parcela da população maior que muitas cidades do interior paulista e
que praticamente inexiste na grande mídia.
Há um ano e quatro meses,
12 bolivianos se uniram para fundar uma rádio comunitária, a Latina Sat, e
abastecer essa população com notícias e serviços que não encontravam em lugar
algum. O transmissor, de baixa potência, não atingia tamanha quantidade de
imigrantes, mas ainda assim era a única fonte de informação para a grande
maioria dos latino americanos que vivem e trabalham em São Paulo. Apesar disso,
a rádio é considerada ilegal por não ter a permissão de funcionamento do
Ministério das Comunicações.
Foi alegando esse fato que dois agentes da Agência
Nacional de Telecomunicações (ANATEL) invadiram o prédio onde ficava a antena da
emissora, na rua Celso Garcia, Zona Leste, e lacraram seu transmissor, na
quarta-feira passada, dia 17. “Eles estavam funcionando sem autorização. Agora
devem mandar uma carta explicando as razões de a rádio usar ilegalmente o dial
de São Paulo”, disse um dos agentes.
Recolocar a emissora no ar promete não ser tarefa
das mais simples – sob ameaça de cadeia para quem o fizer. Mas o uso “ilegal” do
dial paulistano é facilmente justificável. Primeiro pela função social que
ela cumpre e, segundo, pela dificuldade de se legalizar uma rádio comunitária
atualmente em São Paulo.
Diversidade na
programação
Com programação transmitida em castelhano e também
em quéchua e aymará (idiomas falados nos pequenos municípios dos altiplanos da
Bolívia e do Peru, de onde vem a maioria dos imigrantes), a rádio leva ao ar
programas sobre saúde, cultura, educação e lazer. “Temos ainda o noticiário
sobre os nossos países e prestação de serviços à comunidade”, diz Franklin
Castro, locutor da rádio que, entre idas e vindas está há 15 anos no Brasil.
Ele se refere, por exemplo, à possibilidade de os
imigrantes reencontrarem seus familiares. “A primeira coisa que eles fazem ao
chegar é procurar a rádio para dizer que estão no Brasil. Daí sim conseguem
reencontrar os parentes”, completa o boliviano Francisco Rondo, também locutor.
Estevan Cavallero, diretor da Associação de Residentes Bolivianos, lembra de
outro serviço importante: “Há pouco tempo encontrei uns documentos de
permanência no Brasil de uma senhora boliviana jogados no chão. Imediatamente
liguei para a rádio. Na hora a rádio levou a informação ao ar e no dia
seguinte a senhora apareceu chorando e contando que tinha sido assaltada.”
Edgar Gandarillas, também locutor, veio para o
Brasil há quatro anos com a mulher e aqui tiveram dois filhos. Apesar das
dificuldades, não quer voltar tão cedo a La Paz, Bolívia, onde vivia. Nunca
havia trabalhado com rádio na Bolívia, mas aqui acabou aderindo à causa quando
percebeu o papel da Latina Sat entre a população latina imigrada. “É a principal
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