Para Audálio Dantas, grande reportagem é alma do jornalismo
A grande reportagem não morreu. Segundo Audálio Dantas, 80 anos, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros de todos os tempos, “o grande assunto pode estar debaixo do nariz”.
O assunto foi tema da sétima conferência de imprensa do 6º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter, do Projeto Repórter do Futuro. “É preciso exercitar a capacidade de identificar o que pode virar uma grande história”, disse.
O encontro aconteceu no sábado (13), na Câmara Municipal de São Paulo.
Audálio conversou com os 30 estudantes que participam do curso sobre as etapas de construção da grande reportagem: desde a importância da pesquisa para realização de uma entrevista à produção do texto. “Recomendo a vocês que adotem uma técnica muito usada por José Hamilton Ribeiro: perguntar sobre tudo, fazendo até mesmo a fonte dizer a você aquilo que já se tinha apurado na pesquisa”.
O jornalista disse quais foram as referências que o ajudaram a produzir bons textos ao longo de 60 anos de carreira. “Meu espelho no jornalismo foi Joel Silveira, mas minha maior inspiração foi Graciliano Ramos, por sua maneira de dizer as coisas de forma simples, direta, mas profunda”, disse Audálio, justificando sua opção por “economizar adjetivos” e evitar palavras de difícil entendimento para o leitor.
Audálio atuou em revistas que fizeram história na imprensa brasileira, como O Cruzeiro e Realidade, nos anos 1960, cuja característica principal era a grande reportagem. O jornalista lembrou que, durante a ditadura de 1964-1985, a autocensura imposta pelas empresas aos jornalistas foi tão ou mais prejudicial que as formas de controle impostas pelo Estado aos veículos de comunicação: “pouquíssimos jornais e revistas ficaram sob censura direta do governo, mas o controle era exercido por meio da autocensura, que partia do próprio diretor de redação”.
Para Audálio, há cada vez menos espaço para a grande reportagem na mídia tradicional. Ele aponta que as matérias de fôlego só são feitas devido à persistência do jornalista, que é obrigado a alternar a produção de reportagens especiais com as demais pautas diárias exigidas pelo veículo, sendo muitas vezes obrigado a trabalhar nas folgas e fins de semana para fazer uma grande reportagem.
Confira a programação do completa do 6º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter, -->