Adib Jatene, conceituado médico, pesquisador e professor, ministrou uma aula magna aos participantes do
Projeto Repórter do Futuro no último sábado, dia 10/06/06, quando também participou de uma manhã de autógrafos de seu mais recente livro
Medicina, Saúde e Sociedade (Ed Atheneu) na sede da
OBORÉ.
Entre outros temas, o especialista traçou um panorama da situação da saúde no Brasil,
contextualizando a evolução do sistema de saúde pública nacional. Para Jatene, é fundamental compreendermos que "o futuro da saúde não é uma abstração, mas sim resultado do que fazemos no passado e das decisões do presente".
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Aula magna do professor Adib Jatene |
Na década de 30, por exemplo, o sistema de saúde era fragmentado: "Havia quem podia pagar por seu tratamento e quem não podia, que era encaminhado às Santas Casas. Naquele momento, os recursos de diagnóstico eram limitados e a população era majoritariamente rural", lembrou.
Com a era Getúlio Vargas, se consolidaram as instituições de previdência e assistência social,
e como não havia muitos aposetados, já que o sistema ainda estava começando, existia uma massa de recursos, direcionados à saúde.
Já nos anos 50, a lógica se inverteu - com a política de substituição das importações de JK, o país viveu um surto industrial. As grandes cidades, dessa maneira, funcionaram
como pólos atrativos para uma massa de trabalhadores que antes estavam restritos ao campo: "Essa urbanização extraordinariamente rápida não foi acompanhada pela infra-estrutura que a população necessita, como saneamento, água e saúde", avaliou o professor.
Para Jatene, cometeu-se um grande engano nesse processo: "Nós criamos as grandes comunidades periféricas, mas com um equívoco: nós fizemos um grande apartheid social. Colocamos uma massa imensa de gente morando em locais onde os profissionais que
elas necessitam não aceitam morar", revelou.
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Adib Jatene e Sérgio Gomes , da Oboré(dir). |
Paralelamente a essa questão, a Previdência Social, que antes era setorizada por profissão, não conseguia mais atender com a mesma velocidade que seus órgãos mantenedores gostariam. E então alguns grupos de atendimento pré-pagos começaram a se estabelecer. "Isso deu origem, na década de 60, aos grupos de pré-pagamento que, por sua vez, deram origem aos grupos de assistência suplementar". Com a ditadura, os institutos de previdência foram unificados: "mexeu-se exatamente no que o fazia funcionar", avaliou Jatene.
Foi apenas com a Constituição de 88 que esse quadro sofreu uma mudança significativa: estabeleceu-se o princípio do atendimento universal e o sistema público deveria atender,
indiscriminadamente, a todos.
Enquanto isso, o sistema suplementar de saúde se desenvolveu brutalmente: "Os hospitais privados detém toda a tecnologia e recebem de 5 a 6 vezes mais que os hospitais que trabalham com o SUS", comparou. Entretanto, o médico lembrou que "as pessoas não se dão conta de que esse sistema também é financiado pelo poder público. A única despeza que é descontada integralmente no imposto de renda é a despesa com
saúde. Então esse maniqueísmo público e privado é equivocado".
A idéia de que o SUS não funciona também é outro engano que, para o professor, não podemos aceitar: "O SUS financia 1 milhão de internaç