09/08/2006

Na onda da política

Duas da tarde em Heliópolis, a maior favela da cidade de São Paulo. A rua principal está cheia, bem como suas vielas. Na quadra da associação de moradores, jovens ouvem rap e jogam bola. Rosemeire Alves de Lima, de 36 anos, aflita, procura por Gerô na sede da Rádio Heliópolis. Precisa anunciar o sumiço do filho. Não consegue: a rádio está fora do ar. Para Rosemeire, desempregada, que não tem acesso à internet nem sabe o que é YouTube ou podcast, direito à comunicação é poder anunciar o filho perdido na rádio da favela.

Estevam Avellar
Telona.
Cena de Uma Onda no Ar, inspirado na Rádio Favela, de Belo Horizonte
Dia 20 de julho, agentes da Polícia Federal e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) fecharam a rádio que funcionava há 14 anos sem outorga do Ministério das Comunicações, portanto, clandestinamente.

Gerô é Geronino Barbosa de Souza, de 36 anos, coordenador da emissora e um dos responsáveis pela consolidação da Rádio Heliópolis como instrumento de articulação da favela. A Heliópolis é um expoente do conceito de rádio comunitária: toca todo tipo de música e informa a população sobre direitos e deveres, faz campanhas de conscientização em saúde, educação e cidadania. Também anuncia documentos encontrados e mantém o serviço de localização de gente perdida, como o filho de Rosemeire.

Rádio comunitária é, de acordo com o Ministério das Comunicações, um tipo especial de emissora FM. A lei diz que deve ter alcance limitado a 1 quilômetro a partir de sua antena transmissora e operar com a potência máxima de 25 watts. Não pode veicular propaganda comercial nem ter fins lucrativos e ou qualquer tipo de vínculo (político, religioso etc.).

Na Heliópolis há oito anos, Gerô fica revoltado por não poder ajudar Rosemeire:

– Parece que me falta um pedaço. Aqui as pessoas são muito carentes e têm a gente como única salvação. Que justiça é essa que não me deixa continuar um trabalho construído em 14 anos de luta?

A pergunta reflete um problema ainda maior que mantém muitas rádios comunitárias na clandestinidade (

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