Na Sessão Averroes, "Intocáveis" provoca reflexão sobre o papel do "cuidador"
“Insuportável, vaidoso, orgulhoso, brutal e inconstante”. Com estas palavras Philippe Pozzo di Borgo, que ficou tetraplégico após sofrer um acidente de parapente, descreveu seu cuidador Abdel Sellou no livro “O Segundo Suspiro”.
Apesar da incompatibilidade da função médica com os adjetivos atribuídos a seu enfermeiro, Philippe conclui: “Sem ele, eu estaria morto por decomposição”.
A obra baseada na história real do milionário francês que tem sua vida transformada com a chegada do senegalês residente da periferia parisiense foi a inspiração para François Cluzet fazer o filme “Intocáveis”, que, em 2011, angariou duas das principais premiações francesas alcançando a segunda maior bilheteria histórica no país.
Por sua vez, a provocação ao estereótipo do tradicional cuidador sublinhada no jeito inconveniente do personagem “Driss”, apresentado comicamente no longa francês, foi a inspiração para a SESSÃO AVERROES de março, realizada nesta quarta (26), na Cinemateca Brasileira.
A Mesa de Reflexão, realizada na sequência, contou com a presença da médica fisiatra Liliana L. Jorge e do artista educador Arthur Amador, sob a mediação da terapeuta ocupacional Marília Othero.
“Estamos acostumados a catequizar a família sobre como cuidar e lidar com o paciente, mas de uma forma paternalista, quando, às vezes, como o filme nos mostra, o paciente quer ser tratado de forma igualitária, não com piedade ou compaixão”, explica Liliana, ainda ressaltando a dificuldade para alcançar o “ponto ideal” em cada caso.
Com larga experiência com equipes de reabilitação, a fisiatra explica que a lesão medular (o trauma apresentado pelo personagem Phillipe) é o processo mais brutal e chocante. “Porque a pessoa está com a cognição plenamente preservada, mas ela perde totalmente as ferramentas que tem para interagir com o mundo que são seus braços e suas pernas”, afirma Liliana.