Discurso de recebimento do Prêmio Averroes
(Audálio Dantas – Hospital Premier, 09 de dezembro de 2017).
Audálio Dantas e sua esposa Vanira Kunc durante cerimônia de entrega do Prêmio Averroes. Foto: Sérgio Silva
Ao conceber como obra de arte o Troféu Averroes, a bela peça que acabo de receber, o artista plástico Jaime Prades decidiu fugir da ideia de alguma coisa exuberante, brilhante como em geral são os troféus.
Concentrou-se no fato de que o prêmio é destinado a personalidades que
“têm como patrimônio a sua história,
sua própria vida”.
É nessa condição que me encontro plenamente.
Meu patrimônio é a minha história, meu único cabedal.
O artista diz por que escolheu o material para a execução do troféu: aço oxidado, material que representa simbolicamente a própria efemeridade das coisas.
O artista sintetiza aí a concepção de seu trabalho.
E aí se encontra com o ponto central da medicina paliativa, que é o de que, além da busca da cura, está o dever de cuidar. Principalmente nos casos do tratamento das pessoas que se aproximam do fim da vida.
A medicina paliativa baseia-se na concepção de que cuidar é mais do que curar. Nesse sentido, cresce no Brasil um movimento que tem como ponto de partida a organização que reúne especialistas de vários ramos da Medicina. O Hospital Premier, voltado exclusivamente para os cuidados paliativos, é motor desse movimento, do qual participam, entre outros, os médicos Maria Goretti Maciel (Hospital do Servidor Público Estadual –SP), Kleber Lincoln Gomes (Faculdade de Medicina de Itajubá, MG.), Dalva Matsumoto (Hospital do Servidor Público Municipal – SP), Ricardo Tavares (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), Angélica Yamaguchi (Hospital Premier).
O prêmio que ora recebo foi instituído por Samir Salman, diretor do Hospital Premier, e pelo jornalista Sérgio Gomes da Silva, da Oboré Comunicação, curador.
A escolha do nome de
Averroes, sugerida pelo escritor José Luiz Del Roio, teve aprovação de participantes do movimento paliativista de todo o Brasil.
Esse nome, para muitos estranho –
Abul Walid Muhammad Ibn Rushd – Averroes, foi o de um sábio que iluminou a história de seu tempo – o século XII – no imenso território da Ibéria Muçulmana, chamado Al- Andalus.
O florescimento cultural e científico de Al-Andalus iluminou a Europa medieval. Nascido na cidade Córdova, em 1126, Averroes foi médico, filósofo, músico, jurista. Estudou e escreveu sobre todas as ciências e a filosofia de seu tempo. Foi o responsável pela redescoberta e divulgação do pensamento filosófico dos antigos gregos, notadamente o de Aristóteles. Enquanto as sombras da intolerância caíam pesadamente sobre a Europa, Averroes contribuía para a convivência, a tolerância que juntava árabes, cristãos e judeus.
Sua cidade, Córdova, assistia a um extraordinário desenvolvimento cultural e científico. A Biblioteca de Al Hakam lá abrigava 400 mil volumes.
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