Luciana Gabardo, relações públicas, tinha 13 anos quando uma úlcera nervosa prejudicou seu estômago. A vida estava difícil, seus pais se separavam e problemas financeiros desestabilizavam a casa. Foram cerca de três litros de sangue vomitados. Ao chegar ao hospital, sua mãe conversou com os médicos, que lhe receitaram medicações. Ela logo pôde ir para casa, onde percebeu que o tratamento que recebeu não foi tão eficaz. A pressão familiar que Luciana sofria não estava curada, tampouco sua úlcera. “Em nenhum momento, enquanto eu estive internada, alguém me perguntou o que estava acontecendo comigo”, diz Luciana. “O que eu menos vejo, em todos os discursos médicos, é uma preocupação com o que o paciente pensa.”
A história de Luciana se repete na vida dos milhares de pacientes que realizam tratamentos médicos, estão em leitos hospitalares ou em situação de terminalidade. “Infelizmente, isso é muito mais presente do que nós médicos gostaríamos de admitir, ainda estamos muito longe do ideal”, diz Dalva Matsumoto, médica oncologista e paliativista. “Quando a gente fala da autonomia, de respeitar o outro, nós temos que fazer valer essa autonomia. Não podemos falar da boca para fora”.
De que forma a família e, principalmente, os médicos de um paciente devem agir no momento em que uma doença é detectada? E na situação de terminalidade? É possível suspender os tratamentos médicos e deixar a morte acontecer naturalmente? Que parâmetros éticos norteiam uma decisão relacionada à saúde de outro ser humano?
Esses foram os temas discutidos na Sessão Averroes – Cinema e Reflexão, realizada no último dia 17 de setembro, na Cinemateca Brasileira, como parte das atividades do 3º Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer. O debate contou com a participação de especialistas da área da bioética, que desenvolveram a discussão a partir do longa ‘Uma Prova de Amor’, de Nick Cassavetes (EUA, 2009).
No filme, a jovem Kate possui leucemia. Diante do quadro, sua mãe Sara e seu pai Brian fazem de tudo para reverter a doença da filha, até que os tratamentos cessam e um médico os aconselha a fazer fertilização in vitro para que um segundo filho ajude a irmã com doações. Nasce Anna que, aos 11 anos, já havia passado por oito procedimentos cirúrgicos, até que chega o momento de ter que doar um rim para Kate. A jovem não aceita e contrata um advogado para mover uma ação contra sua mãe, também advogada, a fim de conseguir na justiça sua emancipação médica.
De acordo com José Henrique Rodrigues Torres, juiz da 1ª Vara do Júri da Comarca de Campinas e professor de Direito Penal, Anna não teria de forma alguma responsabilidade pela morte de sua irmã Kate, sob o aspecto jurídico brasileiro. Em sua explica&c