24/06/2005

Encontro reúne rádios públicas, universitárias e comunitárias

"Histórico, inovador, surpreendente e motivador" é como Ney Messias, presidente da Associação de Rádios Públicas – ARPUB – e da Fundação de Telecomunicações do Pará – FUNTELPA – mantenedora da Rádio e TV Cultura do Pará – avalia o encontro que pela primeira vez reúne emissoras públicas e universitárias de todo o país. O 1º Encontro Nacional da ARPUB acontece de 23 a 25 de junho, em São Paulo e integra o movimento Onda Cidadã: Radiodifusão, Cultura e Educação que o Itaú Cultural promove desde 2003 com o objetivo de construir uma rede de relacionamento com essas rádios.

Messias afirma não ter dúvida de que o encontro marca o início de uma nova fase para a ARPUB que só agora, um ano depois de ser criada, passa a existir "de fato". "As pessoas que estavam tocando a ARPUB estavam meio desmotivadas em função de não conseguir seduzir outras cabeças. Agora, acho que essa sedução teve ressonância".

O otimismo de Messias se justifica. A ARPUB, que chegou ao encontro com nove emissoras públicas filiadas, comemora seis novas adesões. A expectativa agora é que as rádios universitárias também se filiem. Para ele, esse primeiro exercício de articulação das rádios é importante para que o mercado e as autoridades responsáveis pelas políticas de comunicação enxerguem esse movimento.

O encontro reúne rádios públicas de 13 Estados – São Paulo, Piauí, Acre, Bahia, Alagoas, Pará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Tocantins, Sergipe e Paraná; rádios universitárias de 14 cidades de sete Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – representando 20 universidades. Ao todo, participam do evento rádios públicas / universitárias de 16 Estados.

Emissoras comunitárias da cidade de São Paulo e escolas municipais que participaram do projeto Educom.rádio também foram convidadas para o encontro. Desenvolvido, de 2001 a 2004, pela Secretaria Municipal da Educação de São Paulo e Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP, o Educom.rádio capacitou professores, alunos e membros da comunidade das 455 escolas de ensino fundamental da rede municipal para introduzir a comunicação, principalmente a linguagem radiofônica, nas salas de aula. Para isso, cada escola receberia um equipamento de rádio. O projeto inspirou a criação da lei municipal 13.941, sancionada em dezembro do ano passado, que respalda a implementação definitiva do programa nas escolas municipais de ensino fundamental de São Paulo.

A experiência brasileira e os modelos internacionais

As atividades do primeiro dia do encontro começaram com o painel "Radiodifusão Pública e missão institucional" que teve a participação de Laurindo Leal, sociólogo, jornalista e professor da ECA/USP, do jornalista José Alberto, um dos fundadores da ARPUB, e Ney Messias. Em seguida, o debate sobre as experiências internacionais reuniu Chistian Boudier, adido de audiovisual do Consulado da França no Rio de Janeiro; Steve Spencer, ex-diretor das rádios públicas americanas NPR e Wyso Radio (Ohio); Victor Garcia Guerrero, jornalista da Rádio Nacional de España; e Darlan de Andrade, superintendente da Rádio Palma,de Tocantins.

Para Leal, no Brasil, há uma dificuldade grande de definir o que é o serviço público de radiodifusão que implica numa relação quase direta entre a sociedade e os meios de comunicação. Segundo ele, esse serviço deveria se sustentar em duas pernas: no controle da sociedade e no financiamento público. Outra dificuldade, aponta Leal, é entender o rádio como um prestador de serviço público e um instrumento de construção de cidadania. A rádio pública, afirma, tem o papel de educar o público para o produto de qualidade. "A sociedade tem o direito de conhecer a produção cultural do país e a missão da rádio pública é mostrar a cultura nacional". José Alberto concorda com o pensamento de Leal e entende que o momento é propício para