Era dia de festa. Fernanda Bianca fazia dezessete anos. Junto com ela, outros 57 moradores da maior favela de São Paulo, Heliópolis, comemoravam a visita ao campus principal da maior universidade do país.
A excursão “Cidade do Sol visita a Cidade Universitária: viemos ver o que é nosso” resultou de aulas de matemática ministradas na comunidade pela OBORÉ. Ao final das aulas, chegou-se à conclusão de que todo ano Heliópolis paga, via ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), 1,9 milhões de reais para a USP. Agora, era a vez desses mantenedores da universidade pública conhecerem de perto como o orçamento é gasto.
Até 2005 o ônibus municipal poderia tê-los levado diretamente ao destino. Depois que a SPTrans suspendeu a linha 477U, alegando baixo número de usuários, ficou mais difícil chegar lá. À época, o poder público não discutiu por que a linha era pouco usada. Entre outras perguntas não formuladas, como e por que a comunidade de 125 mil habitantes e arredores não era incentivada o suficiente para participar da vida da instituição de ensino superior mais prestigiada do Brasil? Para além da exclusão pelo vestibular, como não ocupavam o espaço público que oferecia museus e cinema gratuitamente? O fato era que, naquele sábado de abril, dois ônibus particulares saíram da Estrada das Lágrimas rumo ao Butantã.
Conhecimento no tablado
Alan José da Silva, de 14 anos, havia dormido bem cedo no dia anterior. Queria acordar a tempo e não atrasar o passeio. Enquanto comia um salgado preparado pela cooperativa de funcionários da lanchonete da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), ele contava sua surpresa com a USP. “Aqui tem muito carro. E lá [em Heliópolis] não tem tanta árvore”.
Tempo contado. Os moradores se dirigiram para primeira palestra do dia. Na entrada do auditório, olhos arregalados de deslumbre: a onipotência de um espaço limpo e amplo com bancos almofadados. Aos poucos, as pessoas foram se sentando nas últimas fileiras. Curiosamente, a longas distâncias da autoridade intelectual e administrativa que os recebia, o vice-diretor Marcelo de Andrade Romero. “Só vale se for lá na frente”, chamou em voz alta Geronino Barbosa, liderança da comunidade e locutor da rádio que será reaberta em maio.
Do alto do tablado, Marcelo Romero, mestre pela USP, doutor pelo Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, em Portugal, pós-doutor pela University of Cincinatti e pela University Of Arizona, nos Estados Unidos, e livre-docente pela USP, elencou as pérolas da FAU: 1.500 alunos, 140 professores, 130 funcionários, além da visita de pelo menos 50 docentes internacionais por ano. E afirmou: “É essa a nossa contribuição para a sociedade: formar essa quantidade enorme de profissionais