A SESSÃO AVERROES CINEMA E REFLEXÃO de 25 de junho exibiu o longa O Piano, de Jane Campion. O longa ganhou três prêmios Oscar em 1994, incluindo o de melhor atriz para Holly Hunter. Ela interpreta Ada, uma viúva muda que vai viver com a filha na Nova Zelândia após um casamento arranjado. Apaixonada por música, ela se sente contrariada quando o novo marido troca seu piano com um comerciante local, George Baines, por terras no continente quase inexplorado. Ada tem a chance de recuperá-lo quando Baines propõe devolver o instrumento em troca de aulas de música. Contudo, os dois acabam se envolvendo amorosamente.
A música como forma de expressão foi um dos focos da Mesa de Reflexão, composta pela psicóloga Luana Viscardi Nunes e pelo músico e professor da ECA-USP Ivan Vilela. Para os debatedores, a personagem se comunicava por meio da música. “O instrumento é como um prolongamento do corpo de Ada. A música permitia que ela se expressasse além do que era possível dizer com a linguagem verbal”, analisou Vilela, Mestre em Composição Musical pela Unicamp e Doutor em Psicologia Social pela USP.
Essa forte ligação fica clara em uma passagem do filme, quando Ada negocia a troca das teclas do piano pelo seu próprio corpo. “Ao ser forçada a casar, Ada teve sua voz como mulher silenciada. Mas em relação ao Baines, ela coloca sua vontade”, aponta Luana Viscardi. Para a psicóloga, a obra retrata o processo de apropriação da personagem principal em relação à sua feminilidade. “Ela precisa se desatar do instrumento – que pode representar o falecido marido de Ada – para concluir um processo de luto e libertar o seu desejo”, observa.
“O objetivo de trazer esse filme era conversar sobre as mortes em vida, as perdas”, explica a mediadora da Mesa, Maria Goretti Maciel, médica e paliativista.
Música em Hospitais
Para Goretti e Vilela, a música pode ser usada para promover o conforto de pacientes terminais, ou seja, é uma das técnicas dos cuidados paliativos. “A Música é impregnada de memória, ela tem a ver com a história do paciente. Quando ouvimos uma música que tem significado para nós, essa memória renova a nossa vida”, esclareceu Ivan Vilela, que realiza esse trabalho no Hospital Premier, além de ser curador do curso Formação de músicos atuantes em hospitais e instituições de idosos, promovido pela mesma instituição.
A Diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual de SP, Maria Goretti, explica a necessidade de o paciente não deixar de ser ele mesmo nos momentos finais. “Morrer com dignidade é morrer com a mesma personalidade com que você viveu sua vida”, defende.
Saiba Mais
A SESSÃO AVERROES CINEMA E REFLEXÃO ocorre mensalmente desde 2008 graças à parceria entre Cinemateca, Hospital Premier e OBORÉ. O objetivo é refletir, examinar e debater a condição humana, a vida e sua