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  Prefácio - Os Bambambãs da Imprensa
Lourenço Diaféria
 

Este Caderno de Jornalismo 2 do Projeto Repórter 2000 quase não precisa de prefácio. O leitor esperto que não tem tempo a perder pode ir direto à leitura dos depoimentos aqui reunidos e, no máximo em três horas, terá aprendido mais do que em cinco anos de botequim, em seis meses de seminários e simpósios acadêmicos e nuns dez ou quinze manuais de teorias. Por quê?

Porque isto que está aqui é vivexperiência. Melhor dizendo, experiência macerada. Quando se faz um texto para publicação, escrito, revisto, reescrito, e esse texto tende a pretensamente colocar quem escreve num patamar acima dos que o lêem, a tendência é dissimular ou atenuar certas incertezas e inseguranças de alma profissional de quem escreve. A coisa sai meio lambida. Porém aqui as palavras refletem não apenas opiniões e pontos de vista, mas também descarnam os próprios depoentes. E todos ficamos num mesmo nível, ao rés do chão da realidade. As palavras saem da boca com a espontaneidade de quem, de certa forma, faz um confiteor. Nada mais natural que o tecido final tenha uma deliciosa e surpreendente heterogeneidade, seja híbrido, misto, cardo e seda, pois cada um dos companheiros usou no tear os fios de seus víveres singulares e intransferíveis.

Com a leitura prévia privilegiada que me foi oferecida, aprendi nesse Cadernos de Jornalismo muita coisa que não sabia. Alguma coisa que pensava saber, mas não tão bem como deveria. E aprendi coisas de que já desconfiava, mas não tinha certeza.

O furacão da tecnologia varreu as redações dos jornais e, poupando apenas a seção de necrologia, atirou para baixo do tapete ilustres figuras do passado próximo, como o redator-chefe e o foca. O que existe muito hoje é redator subordinado. E o foca deve ser alguma coisa assim como leão-marinho. Mas o que mudou mesmo, e para sempre, é a redação como lugar de aprendizado e aconselhamento. Hoje o jornalismo tem de chegar sabendo tudo. E como nem sempre tal ocorre, e nunca acontece, nosso novo coleguinha se vê num oceano de perplexidades, que não sabe a quem perguntar.

Os Cadernos de Jornalismo chegaram como uma discreta mas eficientíssima bóia de salvação no mar encapelado da profissão. Significam um espaço de meditação para profissionais, ou pré-profissionais, que vão lidar com um ofício onde os fatos, por mais importantes que sejam, têm como protagonistas pessoas. E nada do que se faz em jornal, nada mesmo, deixa de mexer, de uma forma ou outra, com o ser humano, esteja ele de faixa no peito ou embrulhado numa folha dupla no meio-fio da rua.

Daí que o jornalismo é um campo de permanente tensão entre cada um consigo mesmo e com o próximo, mesmo que o próximo esteja a quilômetros de distância. Os Cadernos de Jornalismo, à medida que ajudam a entender isso, tornam-se uma ponte de fraterna convivência, uma insubstituível fonte de informações e um saudável exercício de solidariedade profissional.

Um adendo, já que jornalismo é também precisão de informação: num dos textos aqui relacionados, sou citado a propósito de uma crônica onde eu teria escrito que o povo "mija" (sic) nos heróis de pedestal. Na verdade, usei a palavra urina, e a mantive, quando me foi tomada satisfação a respeito nos tribunais militares. Há também outra passagem ambígua, que esfola a clareza que a verdade merece, mas para ver que isto é um prefácio quase desnecessário, não vou me esticar mais. Parabéns à OBORÉ, aos autores dos depoimentos e aos leitores que destes saberão tirar não fugazes conselhos, mas exemplos palpitantes de vida. 


Lourenço Diaféria é jornalista e escritor

 

 
 
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