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  Rede de Rádios do Sistema CONTAG de Comunicação
 

      Em setembro de 1992, a Contag desafiou a equipe da OBORÉ a fazer um  programa de rádio para distribuição junto às emissoras e aos sindicatos que já tinham seus próprios programas de rádio, em todo o Brasil. O objetivo era construir um programa com voz nacional de onde sairiam mensagens do Nordeste em direção ao Sul do Brasil, do Sul em direção ao Nordeste, do Centro Oeste em direção ao Sudeste, do Sudeste em direção ao Norte e assim de todos as regiões para todas as outras. O Sul deveria saber como os agricultores do Nordeste estavam organizados; o Sudeste deveria saber o que o Norte estava fazendo  e assim por diante.  Para a Contag,  a boa comunicação era a que possibilitava  costurar a capacidade de mobilização nacional  visando ao mesmo propósito, ou seja, o de unir diferentes grupos levando a mensagem regional a nível nacional e vice-versa.
 
Começa, assim, o desafio de criação editorial dos programas e  início de construção de um sistema que se tornaria, anos depois, uma grande rede de rádios mantida e formada por programas coordenados inteiramente  por trabalhadores e trabalhadoras rurais, articulada e legitimada por seus sindicatos e federações.

Importante destacar que a CONTAG representa cerca de 25 milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais - agricultores familiares e assalariados. São 25 Federações estaduais filiadas (uma por estado do Brasil) e 3.623 Sindicatos de Trabalhadores Rurais, que atuam em nível municipal.




A estréia  

 

 

O programa A Voz da Contag foi ao ar pela primeira vez no dia 1º de Maio de 1993.  Com produção e distribuição semanal, o conteúdo dos programas era montado para   auxiliar os radialistas e comunicadores nos seus comentários ao vivo, ou na programação jornalística da emissora. O Sistema CONTAG de Comunicação chegou a integrar 544 emissoras de rádio comerciais que veiculavam programas feitos do começo ao fim pelos trabalhadores rurais e mantidos pelos seus Sindicatos. Juntos, disparavam mensalmente mais de 600 horas de informações. A OBORÉ gerenciou este projeto durante onze anos, de 1992 a 2003. 


Pesquisas periódicas junto aos sindicatos e emissoras apontavam que as fitas cassetes e os cds com os materiais sonoros eram usados de muitos jeitos: além de aproveitados nos próprios programas, também eram utilizados em reuniões na comunidade, no município, no Sindicato, nas Cooperativas, Associações, nas reuniões de Paróquia ou Escolas.

Os Sindicatos de Trabalhadores Rurais que já participavam de uma rádio comunitária, usavam  parte do espaço da rádio retransmitindo quase  a totalidade do CD. Isso se dava porque, como uma rádio comunitária é mantida e gerida por uma associação de  entidades,  o Sindicato também era “dono” da emissora e  podia  decidir quanto do tempo da rádio poderia  ser dedicado aos temas de seu interesse.

Comunicação também para prevenir acidentes

Em 1996, em parceria com a FUNDACENTRO, órgão do governo federal responsável por programas de Saúde e Segurança no Trabalho, a CONTAG firmou o Convênio Fundacentro/CONTAG Comunicação Em Legítima Defesa da Vida. Fruto desse convênio, foram realizados oito Seminários de Comunicação, Segurança e Saúde nas cinco regiões do país.  A Voz da CONTAG passou a transmitir mensagens de prevenção de acidentes  e todos os veículos e emissoras do Sistema CONTAG de Comunicação passaram a utilizar a Comunicação em Legítima Defesa da Vida.

Foram realizados 8 Seminários de Comunicação , Segurança e Saúde dos Trabalhadores Rurais em Viamão , Fortaleza, Carpina, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Porto Alegre e Campo Grande alcançando praticamente todas as Federações e os STRs com programas de rádio. Em 10 meses, foram capacitados mais de 700 pessoas, entre comunicadores e dirigentes sindicais.

O convênio viabilizou ainda a produção de 30 spots sobre prevenção de acidentes na área rural que deram à CONTAG, à OBORÉ e à API (parceiros na produção e teatralização sonora dos spots com o primeiro time de radioatores brasileiros) o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos – 1997.

Instituído por entidades como Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Comissão Executiva Nacional dos Movimentos de Anistia; Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ; ABI - Associação Brasileira de Imprensa – Seção São Paulo; OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo; Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e família Herzog, o prêmio foi criado para reverenciar a memória do jornalista Vladimir Herzog, preso, torturado e morto em 1975, durante o regime militar.

Em 99, a OBORÉ enquanto gestora da Rede de Rádios do Sistema CONTAG de Comunicação foi reconhecida e agraciada  com o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo /99 – categoria Rádio Destaque Nacional.

Crescimento garantido

Quando encerramos nosso contrato de trabalho com a Contag, em setembro de 2003, os programas eram distribuídos para 188 Sindicatos (dos quais 79 com programas de rádio). Importante destacar que  foram mais de 500 edições produzidas e distribuídas semanalmente, nos quase onze anos de trabalho contínuo, sem jamais falhar uma semana sequer.  Recebiam também os programas uma listagem especial incluindo todas as Federações, grandes nomes do jornalismo brasileiro, entidades parceiras da CONTAG, ONGs e  personalidades do mundo político, econômico e sindical. Todo esse capital de relações foi transferido para  a nova equipe de produção dos programas, que inclusive herdou a responsabilidade de dar vez e voz aos trabalhadores e trabalhadoras rurais dos quatro cantos do nosso país.

De acordo com levantamento realizado junto à CONTAG,  às FETAGs e aos STRs durante o  8º Congresso (Brasília, março de 2001),  o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais contavam com 689 programas de rádio. Isso sem contar a miríade de rádios comunitárias que se legalizaram nos últimos anos e que ainda estão nascendo, fruto das recentes concessões do Ministério das Comunicações. Portanto, é clara a perspectiva de crescimento da Rede e das vozes que a compõem.

Mas, por quê o rádio?
 
Quando fomos convidados pela direção da Contag a analisar a experiência com comunicação que ajudamos a desenvolver junto à Confederação, imediatamente nos veio à mente relatar o passo a passo desta experiência inédita iniciada em 1993 com o movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais.

O produto mais visível desta estratégia de comunicação foi o programa de rádio A Voz da Contag. Mas havia também um outro produto mais sentido do que visto: a  montagem e a gestão da própria rede de rádios do Sistema Contag de Comunicação.

De abrangência nacional, essa rede de rádios e os programas produzidos para que a direção da Contag pudesse “costurar” sua relação de comunicação com os Sindicatos e Federações de Trabalhadores Rurais constituem, até hoje, um exemplo único no Brasil e na América Latina de uma comunicação sindical sistêmica, sonora, vivenciada através de uma rede de parceria  e cooperação e de absoluto respeito às  realidades regionais e locais.

Isso porque os programas de rádio da Contag não existiam sozinhos; eles foram materiais de apoio aos programas de rádio locais e caracterizavam-se editorialmente por fornecer informações nacionais contextualizando as políticas praticadas no movimento sindical da categoria, municiando os comunicadores locais com elementos nacionais.  O rádio deve ser parte fundamental de qualquer projeto de divulgação que objetive atingir a população carente de informação e que necessite ser mobilizada para participar dos processos de Desenvolvimento Local Sustentável. 

O mesmo podemos afirmar quando analisamos a potencialidade de um Sistema de Comunicação como o da Contag, constituído por uma rede de rádios,  programas de rádio,  jornais, boletins, Agência de Notícias e assessoria à imprensa , aliado ao fato de que grande parte dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais já tem representação nos respectivos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Local.  Juntos, mais do que nunca se tornam valorosos e indispensáveis instrumentos de divulgação e conscientização social para as ações de desenvolvimento local sustentável.

Nosso desejo, hoje e sempre, é que mil flores floresçam neste campo! 
 
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