23/03/2009
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O centenário de fundação da Associação Brasileira de Imprensa quase passou em brancas nuvens. Foi ofuscado pela cobertura midiática do bicentenário da chegada da família real portuguesa. Refugiando-se no Brasil, em 1808, a corte de Dom João VI encenou situações pitorescas. Essa descoberta significou um prato cheio para saciar a fome dos repórteres investigativos.
A comemoração dos cem anos da "casa do jornalista", fundada em 1908 por Gustavo de Lacerda, transcorreu em clima de desavenças internas, apesar do relato triunfalista contido nas edições especiais do Jornal da ABI.
Se ainda não transbordou para as páginas policiais da imprensa diária, o episódio ganhou notoriedade nos espaços dedicados aos fatos sensacionais divulgados por toda a mídia, especialmente através da internet. Trata-se de capítulo nada edificante na história de uma instituição que outrora participou ativamente da vida política nacional e por isso mesmo ficou conhecida como "trincheira da liberdade".
Sua história vem sendo registrada periodicamente por alguns dos seus participantes, como Dunshee de Abranches (1938), Victor de Sá (1955), Fernando Segismundo (1962 e 2003), Edmar Morel (1985).
Sua nova página começou a ser escrita pelo jornalista Audálio Dantas, quando convocou a imprensa para anunciar publicamente sua renúncia ao cargo de vice-presidente nacional da ABI. E para denunciar seu desligamento da presidência da Seção Paulista, atitude endossada pelo Conselho de Representantes de São Paulo.
Trata-se de capítulo que expõe as chagas da "velha senhora", demonstrando que ela já não faz jus ao título de "trincheira da liberdade". Lamentavelmente, os fatos expostos permanecem ocultos, até agora, dos seus associados e da opinião pública.
Com a mesma coragem com que enfrentou a ditadura militar para denunciar a farsa do "suicídio" de Vladimir Herzog, Audálio Dantas desmascara a face autoritária do atual presidente da ABI, Maurício Azêdo. E mostra que sua administração vem sendo marcada por reiterados conflitos, mas que não transparecem na mídia institucional.
Ameaçando sua própria sobrevivência, a ABI perde a credibilidade conquistada perante a opinião pública. Demonstração emblemática foi a festa dos cem anos, organizado em estilo monárquico, semelhante ao último "baile da Ilha Fiscal". Isolando-se como nau fluminense, a ABI vai se desgarrando impavidamente da frota nacional. O perigo é naufragar, convertendo-se em "espumas flutuantes". Ondas oscilantes implacavelmente vão depositá-Ias nas largas costas brasileiras.
* Artigo publicado na edição de março de 2009, na Revista Imprensa.
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