27/11/2005
Uma série de debates foi a principal atividade da última sexta (25), no segundo dia da 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador que acontece no Centro de Convenções Ulyssses Guimarães, em Brasília. As discussões se deram em torno dos três eixos temáticos da conferência: Como garantir a integralidade e a transversalidade da ação do Estado em saúde dos trabalhadores?; Como incorporar a saúde dos trabalhadores nas políticas de desenvolvimento sustentável no país?; Como efetivar e ampliar o controle social em saúde dos trabalhadores?
O presidente da CUT, João Felício, e o secretário de Saúde da Força Sindical no Paraná, Nuncio Mannala, representando as duas maiores centrais sindicais brasileiras, participaram do debate sobre o controle social em saúde do trabalhador. Curiosamente, a importância da comunicação como ferramenta de mobilização dos segmentos que integram o controle social - usuários, gestores e trabalhadores na saúde - passou ao largo das discussões. Mas tanto Felício quanto Mannala avaliam essa área como fundamental na consolidação e ampliação do controle social.
Para João Felício, a imprensa sindical é a maior do país, só os sindicatos ainda não perceberam isso. "Se os sindicalistas soubessem a força que têm na imprensa sindical, nós teríamos melhores condições de pautar e de fazer reivindicações. Infelizmente nós estamos ainda muito fragamentados e a imagem que passa é de que cada sindicato tem a sua imprensa e não consegue estabelecer uma agenda mais solidária, mais ampla com os outros sindicatos".
Já Mannala entende que não há como pensar em controle social sem comunicação. "A comunicação é imprescindível, uma vez que o grande papel do controle social é levar aos trabalhadores seus direitos, esclarecê-los sobre as dificuldades, além de garantir sua participação na implementação das políticas públicas".
E por que a imprensa sindical aborda pouco os temas relacionados a segurança e saúde no trabalho? Segundo Mannala, a dificuldade no Paraná é a falta de informação por parte das universidades. "Os poucos sindicatos do Estado que têm imprensa sindical trabalham muito com estagiários, pessoas recém-formadas que não têm formação nem informação nessa área".
De acordo com João Felício, uma parte dos sindicatos filiados à CUT ainda está muito centrada nas lutas sindicais e não compreende a importãncia da pauta sobre saúde do trabalhador. "A CUT tem oferecido cursos de formação, estimulando os sindicatos de base a orientar os seus sindicatos sobre a importãncia de se colocar na pauta de reivindicação as questões da saúde". Segundo Felício, é importante combinar as lutas específicas de uma categoria profissional com as lutas estratégicas. "As lutas históricas, por salário, devem vir ao lado das lutas pela cidadania e ter direito à saúde, a uma vida melhor é tão importante quanto fazer uma reivindicação salarial".
Sobre o tratamento dado ao tema pela Força Sindical, de acordo com Mannala, em alguns Estados as discussões estão bastante avançadas, mas em outros, há dificuldade no convencimento dos dirigentes dos sindicatos que nas convenções coletivas priorizam os itens econômicos, deixando a questão das doenças profissionais em segundo plano. Segundo ele, essa é uma antiga preocupação da Força Sindical e há interesse de sua coordenação em mudar essa realidade e dar mais visibilidade aos assuntos relacionados a saúde no trabalho, contando para isso com a área de comunicação das entidades sindicais.
O presidente da CUT afirma que os assuntos relacionados à saúde do trabalhador são debatidos permanentemente na central, mas reconhece que ainda há muito a avançar. "Confesso que a saúde do trabalhador não é um assunto presente numa parcela significativa dos sindicatos". Nesse sentido, ele avalia que a conferência, que conta com a participação de centenas de militantes cutistas, reforçará o debate. "A pessoa se forma numa conferência desse nível e a formação leva à ação. Então, é possível desenvolver muitas ações a partir de agora".
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