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  Religiões se unem em ato pela Paz e Direitos Humanos e em memória de Vladimir Herzog
Terlânia Bruno
  24/10/2005


Fotos: Bia Barbosa
Ato em memória de Vladimir Herzog lotou a Catedral da Sé, na tarde do domingo, 23 de outubro
D. Paulo Evaristo Arns e o Rabino Henry Sobel, acompanhados de 17 líderes(*) religiosos de diferentes credos, participaram na tarde deste domingo (23), na Catedral da Sé, do Ato Inter-religioso "Paz e Direitos Humanos" em memória do jornalista Vladimir Herzog, morto há 30 anos. D. Paulo e o Rabino Sobel celebraram em 31 de outubro de 1975, seis dias após o assassinato de Herzog por agentes da ditadura, o primeiro ato ecumênico realizado no país do qual participaram também o Reverendo James Wright e D. Hélder Câmara, ambos falecidos. Todos tiveram importante papel na luta contra a repressão política.

O culto em homenagem aos 30 anos da morte de Vladimir Herzog começou a ser construído em março, quando a comissão organizadora das homenagens deu início aos primeiros contatos para a realização do ato inter-religioso. Amigos, parentes, autoridades governamentais e políticos assistiram à celebração que começou às 16h30 e durou pouco mais de uma hora. O governador Geraldo Alckmin, o prefeito José Serra, e os deputados Alberto Goldman e Luis Eduardo Greenhalgh estavam entre os presentes.
O Fórum Coral Mundial, regido pelo maestro Martinho Lutero, reuniu 400 vozes. Antes do Ato Inter-religioso cantores se uniram num abraço à Catedral da Sé


Sob a regência do maestro Martinho Lutero, que contou com o apoio de regentes repetidores, o Fórum Coral Mundial reuniu cerca de 400 pessoas e pontuou a celebração com os cantos "Missa dos Quilombos", de Milton Nascimento; "Let us break bread together"; "Sanctus", da Missa Luba, um canto da tradição indígena e o canto tradicional hebraico "Eli Eli". Xico Esvael, da Igreja Episcopal Anglicana, também participou do ato.

Pouco antes do início do culto inter-religioso, os componentes do Fórum Coral e pessoas que assistiam ao ensaio do coro, realizado nas escadarias da igreja, se uniram e de mão dadas "abraçaram" a Catedral da Sé.

Coube ao jornalista Audálio Dantas, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e presidente do Sindicato dos Jornalistas quando Herzog foi assassinado, iniciar a cerimônia (veja texto abaixo). "Acho que este ato pode servir para lembrar que nós temos uma dívida com a maioria do povo brasileiro", disse Audálio após o culto. Para ele, além da homenagem a Herzog, o ato lembra à sociedade que a tortura continua na forma da fome, da miséria, na falta de acesso aos serviços de saúde e educação e também na tortura que continua a ser praticada nas delegacias contra os pobres e os negros. "E tudo isso acontece sem que haja nenhum tipo de protesto", afirmou.
Líderes de 17 religiões, entre eles, D. Paulo Evaristo Arns e o Rabino Henry Sobel, participaram do culto que lembrou os 30 anos da morte de Vladimir Herzog


A opinião é compartilhada por Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, e um dos coordenadores dos eventos em homenagem ao jornalista. "O que se passou há 30 anos atrás com o Vladimir Herzog é a mesma coisa que ocorre todos os dias nas delegacias de polícia, nas Febens, nas Casas de Custódia. Era preciso ser cobrado do governador uma política que não admita tortura das crianças nesses lugares. O que nós temos hoje é um processo silencioso de liquidação física de muita gente e os meios de comunicação não estão sensíveis a estes temas."

A expectativa de Sergio Gomes é que a presença de tantas religiões diferentes no ato "abra a cabeça de quem  precisa entender". "Nós não estamos falando de religião. Estamos falando de sensibilidades diferentes que podem estar de acordo quando o objetivo é de interesse da humanidade. Estamos falando contra a guerra e a favor dos direitos humanos, que significa ter justiça, distribuição de renda. O velho e bom programa  da esquerda de todo o mundo. Tem que haver liberdade, igualdade e fraternidade".

Ao final do culto, os presentes receberam como lembrança o Envelope da Solidariedade, idéia do cartunista Laerte Coutinho que chega agora à sua terceira edição. O envelope contém desenhos de pombas feitos por cartunistas amigos, a pedido do Laerte, entre eles Fortuna, Henfil, Ziraldo, Ciça, Chico Caruso. Posteriormente, D. Helder Câmara compôs um poema para cada pomba. Finalizando o ato, Clarice Herzog, viúva de Vlado, leu emocionada a poesia "Deve ser pesadelo" (leia abaixo) que D. Helder fez para a ilustração de Redi.

O envelope contém ainda a poesia do Ricardo Moraes, ilustrada pelo Jaime Leão; a página criada pelo Maringoni para a revista “Aventuras na História“ que tem como título o nome dos eventos realizados em homenagem a Vladimir Herzog: Vlado - 30 Anos de Vida Eterna; e uma carta para o Laerte (leia texto abaixo) explicando tudo isso.

*Participaram do Ato Inter-religioso: D. Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel, Revda. Coen de Souza (Monja da Comunidade Zen Budista, Primaz Fundadora), Daniel Calmanowitz (Centro de Dharma da Paz - Budista Tibetano), Swami Nirmalatmananda (Kamakrishna Vedanta Ashrama), Maria Cássia Anselmo (Federação Espírita do Estado de São Paulo), Dom Hiroshi Ito (Bispo da Diocese Anglicana de São Paulo), Pastor Rolf Schunemann (Pastor Sinodal da Igreja Evangélica de Conf. Luterana no Brasil - Sínodo Sudeste), Rev. Luciano José de Lima (Pastor da Igreja Metodista), Rev. Elias Andrade Pinto ( Pastor da Igreja Presbiteriana Independente), Iya Sandra Medeiros Epega (Tradição de Orixá), Pai Francelino de Chapanam (Culto Afro-descendente), Mãe Rita de Cássia (Tradição Umbandista), Xamã Ione Cirilo ( Xamanismo),  Xeique Armando Hussein Saleh (Missionário pela Paz Mundial), Sheik Muhammadd Ragip (Ordem Sufi Halveti Jerrahi Brasil), Flávio Assmann (Comunidade Fé Baha´i)


Poesia de D. Helder Câmara lida por Clarice Herzog no Ato Inter-religioso "Paz e Direitos Humanos"

Deve ser pesadelo!
Não me deixes carregar
um ramo seco,
inútil e morto,
quando a razão de meu vôo
é levar a meus Irmãos
ramo cheio de vida,
anunciador de paz!...



Texto lido por Audálio Dantas na abertura do Ato Inter-religioso


Faz trinta anos, Vlado.
Faz trinta anos que aqui te sepultaram.
Faz trinta anos que esta terra te cobriu.
Havia pressa, tua presença de morto incomodava.
E por isso ordenaram que esta terra logo te cobrisse.
Mas a tua memória, Vlado,
esta ficou pairando sobre todas as iniqüidades
e gritando mais forte que o ódio insensato.
E gritando forte, muito forte, em nossas consciências.
Faz trinta anos, Vlado.
Nesse tempo, meu irmão, teu nome correu mundo
como se fosse um grito.
O grito de todos os outros cujos sacrifícios conseguiram manter em silêncio.
Faz trinta anos, Vlado.
Em vão ordenaram pressa em te cobrirem o corpo,
como se algumas pás de terra
pudessem sepultar contigo a nossa sede de justiça.
Sobre a tua sepultura, Vlado, ergueram-se as nossas vozes,
gritando NÃO ao ódio.
Faz trinta anos, Vlado.
E eis-nos aqui, unidos numa certeza:

“Nenhum gemido de ninguém na Terra será oculto aos olhos do Senhor”.

Faz trinta anos, Vlado.
Pouco tempo diante da eternidade, da luta do homem pela liberdade.
Da tua luta, que é nossa hoje e será de teus filhos amanhã.



Carta para Laerte,
autor do Envelope da Solidariedade distribuído aos participantes do Ato Inter-religioso


São Paulo, 23 de outubro de 2005


Querido Laerte,

Seus amigos mais próximos estavam presos, perseguidos, fugidos ou intimidados. Acabavam de ser assassinados o Vlado e o José Montenegro de Lima, que você conhecia como Magrão.

O medo campeava. O Sindicato dos Jornalistas era agora a Casa de Todos – todos aqueles que não queriam mais a escuridão.

O primeiro Ato Ecumênico da história brasileira tinha acontecido em 31 de outubro, e era preciso multiplicar iniciativas que gerassem esperanças, atitudes e, sobretudo, solidariedade.

Você foi à casa do Zélio e da Ciça. Viajou de ônibus até o Rio de Janeiro para conversar com o Millôr, o Henfil, o Fortuna, a turma do Pasquim. Ligou para Chico Caruso, Conceição Cahu, Sizenando , o pessoal da antiga revista Balão (que você tinha ajudado a fundar em 72). Pediu a cada um que desenhasse uma Pomba da Paz. E eles atenderam.

Todos os anos, a cada ano, desde que D. Paulo assumira a Arquidiocese, os estudantes do “Cordão Encarnado“ criavam um Cartão de Natal / Ano Novo para ser vendido e, assim, ajudar as famílias dos presos e perseguidos políticos.

Agora, porém, o seu projeto era maior. Em meio a tantas dificuldades, você conseguiu organizar o “pombal“ e imprimir o primeiro Envelope da Solidariedade. Um dos exemplares foi parar em Olinda, e D. Helder fez um poema para cada uma das pombas.

Ninguém sabe contar, até hoje, como isso voltou para São Paulo. O fato é que a Comissão de Justiça e Paz reproduziu esse material em 79 (?), e aí surgiu o Envelope da Solidariedade II.

Hoje, dia do mais amplo Ato Inter-religioso de que se tem notícia, com o reencontro entre D. Paulo e o Rabino Henry Sobel, no dia em memória da vida e dos sonhos do Vlado, dia de compromissos reafirmados com o empenho pela Paz no Mundo e conquista de todos os Direitos Humanos, dia da magnífica apresentação do Fórum Coral Mundial, coordenado pelo Maestro Martinho Lutero – é neste dia inesquecível que vem à superfície o Envelope da Solidariedade III – Vlado, 30 Anos de Vida Eterna.

Ele agrega duas novas obras: a poesia do Ricardo Moraes, ilustrada pelo Jaime Leão, e a antológica página que o Maringoni criou para a revista “Aventuras na História“.

Era preciso contar um pouco dessa história, Laerte, para que os jovens de hoje e mesmo os mais velhos pudessem compreender o que estão levando para casa. Para que pudessem tê-lo como referência e estímulo. Para que não percam as esperanças e verifiquem ou confirmem que a História é sempre obra humana .Que todos nós, cada um de nós, sempre pode fazer alguma coisa.Mesmo quando tudo parece ser impossível.


Carinhosamente

JAL, Gual, Daniela, Serjão – equipe de pesquisa


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