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  Intelectuais que levam água ao moinho da reação
Max Altman*
  19/09/2005

Inacreditável a cegueira estratégica dos autores intelectuais do manifesto “Pela investigação rigorosa da corrupção ...”. Não percebem que se está montando um cenário de confrontação que será desencadeado quando os primeiros embates das eleições presidenciais de 2006 forem feridos e que atingirá o auge à medida que o dia da eleição se aproximar. Muito antes da atual crise, ficou evidente que os Civitas, os Frias, os Mesquitas, os Marinhos, que na verdade pautam as ações do PSDB e PFL, haviam decidido levar a cabo uma operação de desqualificação das principais lideranças de esquerda, de destruição do Partido dos Trabalhadores, o principal construtor do ‘pouco de democracia política’ conquistada, e de desmoralização do presidente Lula, símbolo da luta dos trabalhadores por avanços políticos e sociais. 

O ódio iracundo manifestado pelas forças de direita e conservadoras, recentemente com uma virulência que nos faz lembrar e até ultrapassa a campanha lacerdista contra Getúlio, Juscelino e Jango, encerra um sentido de classe sintetizado pela sentença do senador Bornhausen de “acabar com essa raça”, a raça dos movimentos sociais, dos trabalhadores, da esquerda em geral e tudo o que ela possa representar. Essas as armas que serão levadas ao teatro de operações de 2006. E lá os lados estarão perfeitamente definidos. De que lado nossos intelectuais se irão postar? Nas trincheiras da direita, dos exploradores, dos opressores ou nas trincheiras da esquerda, dos oprimidos, dos explorados?

Três quartas partes do documento tratam da corrupção, de investigações rigorosas e punições exemplares. Mais parecem as exortações moralistas da ‘banda de música’ da UDN. Não enxergam que, a respeito, razão tem o jornalista Franklin Martins: até agora, passados quatro meses de investigações, denúncias e espetáculos de toda sorte, não se provou outra origem dos dinheiros que não os empréstimos obtidos por Marcos Valério junto ao BMG e Banco Rural a pedido de Delúbio Soares. Não se provou também outro destino que não a lista oferecida por Valério ao Ministério Público, às CPIs e à Polícia Federal e para pagamento de dívida de campanha. Um ou outro destino pode ter escapado, um ou outro recebedor pode ter dado encaminhamento diverso ao dinheiro. 

Caiu por terra que o PT mantinha dinheiro no exterior, que os fundos de pensão contribuíram para o “valerioduto”. E não se provou que algum dinheiro público tenha irrigado este caixa 2. Apesar dos evidentes graves erros e irregularidades cometidos pelos dirigentes do PT, é incrível como os nossos intelectuais puderam cair na teia engendrada pelos setores dominantes na mídia e no palco das CPIs. Os editoriais e matérias da grande imprensa dos últimos dias mostram o desespero em busca de alguma comprovação de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, enriquecimento pessoal, e por aí vai, que envolva o PT ou seus dirigentes. De resto, não me lembro que tenha havido preocupação em lançar manifesto à época dos escândalos das privatizações ou contra o arreglo bilionário do Marka -Fonte Cidam no governo FHC.

Esses intelectuais exigem que as investigações ‘prossigam até o fim, inclusive aquelas que apontem em direção à Presidência da República e possam redundar na instauração de um processo de impeachment”. Quando até os setores mais furibundos da oposição haviam abandonado a tese do impeachment, eis que nossos impolutos intelectuais brandem a exigência. E a que investigações se referem? Ao pagamento das passagens pelo PT com dinheiro do Fundo Partidário para Lula e seus familiares próximos poderem assistir à sua própria posse? Isso nada tem de ilegal ou irregular. Ao acerto feito pelo sr. Okamoto, procurador de Lula para esta finalidade, de pagamento de viagem de representação partidária lançada como empréstimo? Da empresa, realmente atuante, de que faz parte o filho do presidente e que recebeu aporte social de empresa de telefonia? Ou alguma outra que não é de conhecimento público e que só os intelectuais conhecem ou suspeitam? Interessante: são exatamente esses ‘fatos’, de nenhuma relevância, que os jornalões estão mencionando para retomar o ‘golpe branco’. 

Senhores intelectuais, vocês não se tocam que derrocar Lula pelo impeachment ou sangrá-lo até se tornar exangue é abrir as comportas para as privatizações do que resta de empresa estatal; para a criminalização dos movimentos sociais e o fim do tratamento respeitoso, sem repressão policial, das organizações populares; para a retomada da ALCA neocolonial; para a volta à submissão ao império de nossa política externa; para o fim do impulso à integração dos povos e nações latino-americanas; para o rompimento das relações de compreensão, amizade e cooperação com Cuba e Venezuela; para a cessação da positiva influência política internacional de um governante nascido do povo trabalhador; para o abandono do combate sistemático à fome, à pobreza, ao desemprego; para que os grandes bancos públicos de fomento virem novamente bancos comerciais, por exemplo?  Analistas atilados, esses intelectuais não vislumbram que derrubar Lula de uma ou outra forma é abrir portas de par em par para um Katrina reacionário?

Por fim algo que me intriga, mas pode ter sido coincidência. O manifesto é publicado às vésperas da eleição interna do Partido dos Trabalhadores, quando sua massa de militantes se aprestava a constituir uma nova direção, no momento em que se faz necessário a unidade inquebrantável de toda a esquerda e do campo progressista em torno de um programa a ser construído pela nova direção do PT junto com o PCdoB e PSB e setores progressistas do PMDB e de outros partidos, que contemple em especial a luta contra o modelo econômico neoliberal e uma ampla reforma política, para romper o bloqueio imposto pela direita e partir para a contra-ofensiva. Isto implica, no processo, afastar os responsáveis políticos pela crise, punir os comprovadamente culpados por atos ilegais ou irregulares, mas também construir uma ampla e sólida composição de forças de esquerda e progressistas para em 2006 reeleger Lula e derrotar a direita.

Max Altman é jornalista, analista de política externa e membro do Partido dos Trabalhadores

 
 
 
   
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