29/06/2005
O 32º Salão de Humor de Piracicaba será lançado no próximo dia 4 de julho, segunda-feira, às 11 horas, no Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2073. A festa, batizada de "MenSalão do Humor", antecipa o que vai acontecer em Piracicaba (SP), onde se dará a abertura oficial do evento, no dia 27 de agosto.
Cartunistas famosos, alguns deles ligados à história da OBORÉ, como Laerte, Ziraldo, Zélio, Paulo e Chico Caruso, Maringoni, participam da festa. Muitos deles já se dispuseram a ocupar com seus traços as empenas cegas da Vila Buarque.
No lançamento em São Paulo haverá a exibição de um filme curta-metragem, no Cine Arte, sobre a história do Salão, a inauguração de exposição de 120 trabalhos premiados em edições anteriores e eventos interativos com o público. Para homenagear os 400 anos da publicação de D. Quixote, será inaugurada uma escultura gigante do personagem célebre e uma exposição de cartuns sobre ele.
Uma das atrações será o Mural do Canecão, de Ziraldo, um painel em lona de 31 metros de largura por 4 metros de altura, com 180 metros quadrados de área impressa que será colocado na fachada do cine Astor, no prédio do Conjunto Nacional. O mural foi pintado por Ziraldo em afresco, em 1967, e destruído na transformação do Canecão em casa de espetáculos. Posteriormente, em 2001, foi recuperado pelo Bureau Digital Bandeirante para o 28º Salão de Humor de Piracicaba.
Para o jornalista Paulo Markun, atual presidente do Salão de Humor, além de ser um patrimônio nacional e de renome internacional nesses 32 anos de funcionamento, o Salão ainda tem uma função muito especial: “O humor sempre é um importante aliado para se entender os momentos de perplexidade e de crise na vida política nacional, como o que estamos vivendo agora. Foi assim no final da ditadura, quando significou um baluarte da resistência. Certamente os trabalhos desse ano vão refletir e marcar a visão da realidade atual.”
Paulo Caruso, um dos organizadores da programação paralela do Salão de Humor, concorda com o caráter do evento que começou com uma resposta de resistência, mas bem-humorada, ao cerceamento da liberdade de expressão. “O salão conquistou ao longo da sua trajetória um caráter revelador de novos talentos e alternativa ao mercado de trabalho restrito na imprensa, além de nos ajudar a enxergar o mundo pela ótica do humor. A abertura no Leste Europeu, a crise nas identidades nacionais com o fim da cortina de ferro, a liberação sexual, a globalização e a tensão pós 11 de setembro foram temas dos trabalhos, sempre atuais.”
Cartunistas profissionais ou amadores interessados em participar desta edição poderão inscrever seus trabalhos até o dia 15 de agosto, desde que o material não tenha sido premiado em outros salões até a data de abertura do evento. Cartum, charge, tiras e caricatura são as categorias. Os primeiros colocados em cada uma vão receber no valor de R$ 4 mil. Para os quatro que ficarem em segundo lugar, o prêmio será de R$ 2.250,00. Além desses, há o Prêmio Aquisição Câmara Municipal de Piracicaba, no valor de R$ 2.518,00, para um trabalho escolhido na categoria caricatura. Todas as informações podem ser obtidas no site www.salaodehumordepiracicaba.com.br
Sobre o Salão Considerado um dos mais importantes do mundo no universo das artes gráficas, da indústria editorial e das histórias em quadrinhos, o Salão de Humor de Piracicaba foi criado para incentivar a descoberta de novos talentos nessas áreas. No início, os temas predominantes eram aqueles que criticavam a ditadura militar vigente no País. Maria Ivete Araújo Zetti é diretora do Centro Nacional de Documentação, Pesquisas e Divulgação de Humor de Piracicaba. O acervo do Salão é constituído de 290 trabalhos com valor histórico, retratando cada época e o sentimento que norteou a produção cultural, além da visão individual de cada cartunista.
O primeiro Salão, em 1974, contou com o apoio do cartunista Zélio Alves Pinto, que convocou os amigos Millôr Fernandes, Ziraldo, Fortuna, Jaguar, Ciça, Alcy e outros colaboradores e editores do famoso O Pasquim, do Rio de Janeiro. Outros nomes de peso como Luís Fernando Veríssimo, Claudius, Chico e Paulo Caruso, Miguel Paiva, Angeli, Glauco e Laerte marcaram sua passagem pelo Salão.
O evento ganhou destaque internacional com a vinda do artista Claude Moliterne, da Editora Dargand, em 1975, que falou sobre “A Evolução do Desenho de Expressão Francesa”. A partir da quarta edição – que também marcou a estréia de Henfil - ,o evento passou a contar com o apoio da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado.
O cartunista Laerte foi o primeiro premiado do Salão de Humor com a charge “O Rei Estava Vestido”, em 1974. Para ele, foi inesquecível: “Era um concurso público, aberto, eu ganhei projeção e senti mais firmeza no meu trabalho. O Salão tinha uma dimensão que na época eu não percebia. Representava a voz de uma parcela grande da mídia que não podia se expressar.”
Laerte também valoriza a integração que o Salão permite aos artistas: “Sempre foi um espaço privilegiado para nosso grupo profissional refletir, traçar planos, fundar fanzines ou revistas. Acho que ainda falta o Salão ser um Centro de Documentação do Humor e do Grafismo no Brasil!.
Zélio Alves Pinto, editor do Pasquim, faz questão de ressaltar o prazer e a alegria de pertencer ao grupo que defendeu a criação do Salão Internacional de Humor de Piracicaba: “Fiz e faço porque acredito que o brasileiro tem uma tradição de povo bem-humorado que já vem ha séculos e seus chargistas e cartunistas sempre foram atuantes na perseguição de uma nação livre, justa e democrática, o que precisa ser preservado. O espaço criado pelo salão - independente do fim da censura, anos mais tarde - abriu condições para que estas saudáveis funções fossem preservadas.
Zélio lembra que a linguagem quase sempre metafórica do humor estimulou o senso crítico: “Além de driblar a censura, criou uma metalinguagem que a tradição do país ajudou a traduzir, lendo nas entrelinhas – nunca tão propriamente dito – das charges e dos cartuns. O salão foi instrumento vital para abrir espaços aos novos talentos que surgiram, ao longo destes trinta anos.
Mais informações: Ivani Cardoso (Lu Fernandes Escritório de Comunicação) tel: (11) 3814-4600 |