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  Vila Buarque pode mudar de nome
Terlânia Bruno
  01/06/2005

Tudo começou no sábado 28, quando o jornalista Gilberto Dimenstein, que havia participado do Projeto Repórter do Futuro, soube da articulação para mudar o nome do bairro Vila Buarque para Vila Chico Buarque. Gostou da idéia e logo na segunda-feira 30, no seu comentário diário no programa "CBN Notícias", apresentado pelo Heródoto Barbeiro, deu a notícia, repetida depois no "CBN São Paulo", ancorado por Milton Jung. A repercussão foi imediata. O assunto foi matéria da Folha de S. Paulo e retomado no programa do Jung, na terça 31, quando Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, foi entrevistado. E os telefonemas não páram até hoje. Que história é essa de mudar, de repente, o nome da Vila Buarque?

Na verdade, a história não começou ontem, mas há dez anos pessoas que moram ou trabalham no bairro, que começou a se formar na última década do século XIX, pensam em propostas de revitalização urbanística e cultural da Vila Buarque, onde está localizado o Mackenzie, a Escola de Sociologia e Política, o Centro Universitário Maria Antonia, a Escola da Cidade, a Santa Casa, o Edifício Copan, o Edifício Itália, o Sindicato dos Jornalistas, o Instituto dos Arquitetos, a Ação Educativa, o Instituto Pólis, a Secretaria Municipal da Saúde, além de teatros, como o Arena, restaurantes e casas comerciais.

A mudança do nome do bairro é apenas uma das propostas para que o bairro passe a existir para os paulistanos; muita gente não sabe onde fica a Vila Buarque, mesmo sendo um bairro localizado no centro da cidade. É também uma homenagem ao Chico Buarque que frequentava o bairro no início da carreira, se reunindo com Toquinho e o MPB4 no "Bar sem nome", na Rua Dr. Vila Nova, ou no "Bar do Zé", da Rua Maria Antonia.

A Vila Buarque tem edifícios altos e casario baixo, formando o que os arquitetos chamam de "empenas cegas", paredes muito altas sem nada. A idéia é convidar artistas plásticos e cartunistas para que, inspirados nas músicas de Chico Buarque, criem livremente nesses locais. Alguns desses artistas, como o Laerte e o Maringoni, já aceitaram o desafio.

No encontro deste sábado, na OBORÉ, de apoio ao projeto de lei 145/01, onde estarão as principais entidades do bairro, será definida a data do plebiscito para a comunidade da Vila Buarque dizer se quer ou não a mudança de nome do bairro. O plebiscito será antecedido de um amplo debate envolvendo todas as pessoas que tenham algum tipo de ligação com o bairro: moradores, comerciantes, estudantes, entidades de classe, ONGs, entre outros. 


Ouça o comentário do Gilberto Dimenstein no programa "CBN Notícias", do Milton Jung.


A seguir, a matéria da Folha de S. Paulo, de 31 de maio sobre o assunto. Logo abaixo a íntegra da entrevista de Sergio Gomes ao Milton Jung, no dia 31 de maio.


PEDAÇO DE MIM
 

Grupo quer plebiscito

Proposta inclui nome de Chico à Vila Buarque

DA REPORTAGEM LOCAL

A Vila Buarque, no centro de São Paulo, pode ganhar um novo nome: Vila Chico Buarque. A proposta será lançada sábado na sede da editora Oboré, que desenvolve o projeto Vivavila, destinado a requalificar o bairro.

A homenagem está relacionada, segundo Sérgio Gomes, diretor da entidade, a uma reflexão sobre a região, que, apesar de congregar entidades como o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), a Santa Casa e o Instituto Pólis, tem perdido seu caráter de pólo cultural e intelectual. Chico foi escolhido, diz ele, por ser uma pessoa que "pensa o Brasil" e, no início da carreira, ter freqüentado o local.

Segundo Gomes, o evento reunirá os principais grupos que atuam na região para definir a data, as regras e a comissão organizadora do plebiscito sobre a mudança. A escolha será aberta a moradores e usuários da região.

Embora os nomes de ruas só possam ser mudados mediante uma lei, o mesmo não acontece com os bairros, diz o diretor. "A figura do bairro não existe na Lei Orgânica do Município. Por isso, não é preciso uma lei para revogar o nome", diz Luís Nader, assessor jurídico da vereadora Soninha (PT), autora do projeto de lei que institui instrumentos de consulta popular (como o plebiscito) no processo deliberativo municipal. Aprovado na Câmara, o projeto aguarda a sanção do prefeito José Serra (PSDB).

O presidente da Sociedade Amigos de Vila Buarque, Edison Farah, critica a idéia. "Chico merece homenagens, mas em locais novos. Temos que respeitar o passado." Segundo o livro "São Paulo: 450 bairros, 450 anos", de Levino Ponciano, o nome do bairro se refere ao engenheiro Manuel Buarque, sócio da Empresa de Obras Brasil, que em 1893 comprou o terreno onde o bairro foi criado.

A Oboré e o Ipso (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos) coordenam o Ponto de Cultura Vila Buarque, financiado pelo governo federal para o desenvolvimento de ações culturais.


Íntegra da entrevista de Sergio Gomes a Milton Jung


Milton Jung
- Como surgiu a idéia de mudar o nome de Vila Buarque para Vila Chico Buarque?

Sergio Gomes
- Essa idéia já tem alguns anos. Vimos trabalhando com ela há tempos, reunindo as entidades da Vila Buarque e o Gilberto Dimenstein, que tem todas as antenas ligadas, esteve aqui no sábado fazendo uma palestra para os estudantes de jornalismo, pegou no ar, sacou e colocou em circulação já na segunda-feira. O que nós imaginávamos é que esse documentário "Vila Buarque - Um Ponto de Cultura", que você falou nele logo depois dos comentários do Dimenstein, que a partir desta semana começa a ser distribuído por todas essas entidades, está sendo projetado na Rede do Sesc/Senac, para que, finalmente, as pessoas se dêem conta do que é esse trecho da cidade que se chama Vila Buarque. A primeira coisa que as pessoas têm que saber é que bairro é como se fosse um apelido afetivo, alguém dá esse apelido e ele cola. Não precisa passar na Câmara Municipal, não existe lei. Eu, por exemplo, morava na Vila Uberabinha. Quem é que sabe onde é a Vila Uberabinha? É na rua Araguari. Virou Moema, quando as construtoras viram que o nome Vila Uberabinha pegava mal. E a especulação imobiliária decide a mudança do nome de um bairro. Quantos não mudaram? Os bairros que existem, alguém deu esse nome lá atrás. Não existe nenhuma placa que diz "aqui termina a Vila Buarque e começa Santa Cecília ou termina Vila Buarque e começa Higienópolis". As pessoas sabem que Higienópolis são as ruas que têm árvore e do lado de cá, não tem. Então, o nome dos bairros são nomes afetivos que alguém deu, colou e ficou. No caso da Vila Buarque, a maior parte das pessoas de São Paulo não sabe onde fica o bairro. Por algum fenômeno, que vai ter que ser estudado, o nome Vila Buarque foi deletado do imaginário do paulistano. Se você for ao aeroporto (não a partir de agora com o que o Gilberto Dimenstein falou e a CBN está dando conta)...se você fosse anteontem ao Aeroporto de Congonhas e dissesse ao taxista "quero ir para a Vila Buarque",  eu não sei para onde ele te levaria. Onde é a Vila Buarque? É na boca do luxo. Mas não é. É o Mackenzie, é a Sociologia e Política, é a USP da Maria Antonia, é a Escola da Cidade, a Santa Casa, o Edifício Copan, o Edifício Itália, o Sindicato dos Jornalistas, o Instituto dos Arquitetos, a Ação Educativa, o Instituto Pólis, a Secretaria da Saúde, o antigo (restaurante) Parreirinha, dez teatros, o Largo do Arouche. É impossível contar a história política e cultural do país sem passar por esse bairro. É o Teatro de Arena, a Aliança Francesa. Tinha até um bonde, o bonde Vila Buarque. O que aconteceu que, de repente, o nome desse bairro sumiu, deixou de existir? Então, há anos que as entidades e instituições da Vila Buarque e a OBORÉ tem feito parte desse esforço de tentar nos reunir e de alguma maneira nos inspirando na Vila Madalena, mas a Vila Madalena são pessoas, são artistas, pessoas que em si mesmas têm importância e conseguem articular, é uma coisa mais ágil. São pequenos empreendimentos, restaurantes, escolas. A Vila Buarque nem é a Vila Madalena que tem a agilidade da Vila Madalena nem é o centro da cidade que só é possível de ser revitalizado às custas de grandes bancos, grandes intervenções governamentais.

MJ - O que mudaria tendo o nome de Chico Buarque?

SG - Primeiro, o reconhecimento de que o bairro existe e isso vai a plebiscito. Nós vamos organizar essa consulta para saber se os moradores aceitam ou não a mudança do nome. E o debate sobre quem é o Buarque de hoje? Ninguém sabe. Ficou um Buarque que não tem sentido. Outra, o reconhecimento, porque o início da carreira do Chico é aqui. Aqui no início da Dr. Vila Nova, onde fica o Sesc Consolação, era a quitanda chamada "Bar Sem Nome", onde ele, Toquinho, MPB4, era ali que eles iam. O "Bar do Zé" da Maria Antonia, ele estudava arquitetura na Rua Maranhão. Esse caminho em direção ao Instituto dos Arquitetos, Bento Freitas com General Jardim, onde ficava o Clubinho dos Artistas, essa é a região. A idéia não é simplesmente o nome. Quem conhece a Vila Buarque sabe que há muito tempo não se constrói edifício novo por aqui, é um bairro consolidado. Você tem edifícios altos com 30, 40 anos de idade e casario baixo. Você tem o que os arquitetos chamam de empenas cegas, paredes imensas sem nada. Se fosse um lugar de muito movimento, essas paredes já teriam chamado a atenção dos grandes anunciantes que põem esses outdoors enormes, mas como aqui o movimento não é tanto assim, esses edifícios não foram chamados a colocar nenhuma publicidade, então, essas empenas cegas estão chamando os artistas, eu estive com o Enio Stueff que imediatamente já aderiu , o Laerte, Lô Preto, Maringoni, enfim, tantos artistas plásticos. Cada um deles vai escolher uma dessas empenas cegas, vai se inspirar no cancioneiro do Chico Buarque e cada um vai criar livremente a partir das músicas do Chico Buarque. Nós seremos o primeiro bairro que vai cantar em silêncio.

MJ - Para que se realize esse plebiscito há necessidade de alguma autorização para ter valor legal?

SG - Não tem valor legal, absolutamente. Nós, os moradores, frequentadores. .. É um bairro que funciona 24 horas por dia. Aqui não tem só morador, tem gente que trabalha aqui, que vem aqui para se divertir, o teatro, as boates, os restaurantes. Nós vamos organizar esse encontro não só para as entidades que pensam a questão da educação e cultura, mas também com comerciantes, com bares, com a movimentação toda, fazer uma ampla consulta. No sábado, nós teremos um encontro das entidades para definir qual é a data que nós vamos realizar isso para que seja feita uma ampla consulta se aceita ou não a mudança do nome. E o próprio processo de discussão da mudança do nome joga luz sobre a existência do bairro e vamos ver nesse esforço de revitalização do Centro e do entorno. No levantamento que nós temos, apenas 1,5% dos impostos gerados na Vila Buarque são aplicados no bairro. Tem o abandono, problemas de iluminação, lixo, buraco, desatenção com os parques, as crianças. Esse é o bairro, o ano que vem serão 70 anos, que tem a Biblioteca Monteiro Lobato , criada pelo Mário de Andrade há 70 anos, a primeira biblioteca infantil da América do Sul nasceu neste bairro. O Bóris Casoy, a Claudia Costin e tantos outros, aprenderam a ler nessa biblioteca e essa biblioteca precisa de apoio, não tem recursos, não tem verba. Nós temos que mobilizar essa comunidade. Essa vizinhança tem que ajudar. O que ocorre é que a Vila Buarque é o bairro que pensa o Brasil, é aqui que está o Instituto Pólis, a sede do Fórum Social Mundial, as faculdades todas, inclusive há propostas de um grupo de também fazer um plebiscito junto aos estudantes do Mackenzie para ver se eles querem ficar em Higienópolis ou querem participar da grande Vila Buarque, como gesto de desagravo aos acontecimentos de 68. Porque até hoje há esse estigma de que o Mackenzie é o pessoal de direita que bate no pessoal que quer a justiça, etc. e não é mais isso.

MJ - Sergio Gomes, quero te agradecer pela possibilidade de conversar com você sobre essa proposta que vocês lançarão oficialmente no próximo sábado aí na OBORÉ. Obrigada e até mais.

SG - Até mais. E que cada um abrace o seu bairro. A casa não termina na soleira da porta. A casa vale mais ou menos a depender do que está fora dela e nós precisamos nos encontrar. Como dizia o Carlito Maia, em São Paulo, a gente não precisa de muita coisa, a gente só precisa uns dos outros.

 
 
 
   
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