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  Repórter do Futuro: Cláudio Tognolli inaugura novo módulo
Terlânia Bruno
  18/04/2005

O jornalista Cláudio Tognolli, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - ABRAJI - e repórter especial da Rádio Jovem Pan ministrou, no último sábado (16), a aula inaugural do novo módulo do Projeto Repórter do Futuro - "Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter". Participam do curso 24 estudantes de jornalismo da Universidade Metodista, Escola de Comunicações e Artes da USP, Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM), entre outras Escolas de Jornalismo de São Paulo.

Um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, Tognolli começou falando sobre sua trajetória profissional destacando que desde cedo todos os trabalhos (hoje são sete empregos) foram conseguidos através de concursos. Por influência da família, onde existem pilotos, psicanalistas e músicos, Tognolli quase tornou-se aviador, chegando a fazer o colegial técnico pensando nessa profissão, mas gostava mesmo era de escrever, e de tocar. Estuda música desde criança.

Completou o ensino médio no Colégio São Vicente de Paula, na Penha, Zona Leste da cidade, onde tirou o diploma de redator auxiliar. Entrou na ECA/USP, porque era uma referência cultural. A vanguarda da música paulistana dos anos 80, estudava lá. Na época, fazia parte de uma banda chamada "Pif Paf". Saiu da banda para trabalhar como diagramador na Veja. Seis meses depois, a banda estourava em todo o país com outro nome: RPM

O gosto pela rua

Aprovado em primeiro lugar no Curso Abril, foi trabalhar no Departamento de Documentação da Abril (DDOC), onde ficou por três anos como arquivista e pesquisador do jornalista Elio Gaspari, experiência que ele descreve como "edificante". Pelas mãos de Gaspari, Tognolli entrou para o time de repórteres de Veja.  Nessa época, meados dos anos 80, fez mestrado em psicanálise na comunicação.

Na Veja, Tognolli descobriu que, além de ficar trancado estudando, gostava também da rua, de se misturar com as pessoas. A partir dessa descoberta, ele ensina aos futuros jornalistas: "É preciso quebrar o casulo de proteção da família, da turma, da rua em que a gente mora e, na medida do possível, freqüentar uma turma que não é a sua. A capacidade de ser um bom repórter é a capacidade de se integrar numa turma que não é a sua"

Trabalhou ainda na Folha de S. Paulo, na Rádio CBN e no Jornal da Tarde. Fez parte da primeira equipe da revista Época (então Focus). Como começava a ganhar bem como professor, voltou-se para a universidade e terminou o doutorado em biotecnologia. Hoje, é professor na ECA e na FIAM.

Escreveu cinco livros: "A sociedade dos chavões", "Século do crime", que ganhou o Prêmio Jabuti, escrito com o jornalista José Arbex; "O mundo pós-moderno", também em parceria com José Arbex; "A ideologia do DNA" (tese de doutorado); e "Crítica de mídia".

Reportagem em primeira pessoa

A primeira dica que Tognolli dá para quem quer ser jornalista é ler tudo:filosofia, economia, revista Caras e almanaques. "O conhecimento genérico é bem-vindo para nós." Tognolli defende que o jornalista tem que compensar a falta de uma formação específica com uma cultura geral bastante vasta.

Ele começa a falar sobre reportagem investigativa usando o que definiu como a frase predileta do jornalista Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S. Paulo e presidente da ABRAJI: "Documento público é ponto de partida, não é ponto de chegada." O que existe hoje, disse Tognolli, é repórter de Polícia que copia Boletim de Ocorrência, decisão judicial ou denúncia de promotor, achando que está fazendo investigação. 

Para ele, fazer jornalismo investigativo "em estado quimicamente puro", que significa chegar antes de qualquer  autoridade, é muito difícil, porque o repórter tem que se colocar como o agente provocador da história, se infiltrando no meio que ele pretende investigar.

Para evitar problemas com processos judiciais, Tognolli diz que o acompanhamento jurídico da reportagem, hoje em dia, é imprescindível. Existem quase 1600 ações cíveis contra a Abril, Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo envolvendo cerca de R$ 80 milhões.

"Deus está nos detalhes"

Saber a marca de sapatos, de roupas, de armas, de vinhos são detalhes importantes para quem busca uma boa reportagem, ensina Tognolli.  Evitar advérbios de modo também é uma medida inteligente. "Não existe fortemente armados", diz ele. Outra dica é dissecar os grandes vocábulos, como "polícia" e "exército", dizendo claramente o que está por trás dessas palavras.

A função do repórter de "Cidades" é mostrar coisas que as pessoas não conseguem enxergar porque estão absorvidas no seu dia-a-dia. Para isso, ele precisa estar em contato com várias classes sociais. "Isso vai ser o instrumental para colocar certos fatos em perspectiva."
 
Para Tognolli, a reportagem de "Cidades" é a mais difícil, porque não tem o  glamour de "Política", que cobre os temas palacianos. "É uma área marginal, no melhor sentido do termo, e também a mais interessante."

O truque da boa reportagem de "Cidades", segundo Tognolli, está no comportamento do repórter, que tem que estar em contato com áreas fora dos grandes centros e dos grandes códigos de comportamento para poder mostrar coisas novas.

Buscar a reportagem inédita requer intuição, mas também pé no chão, se for possível conciliar as duas coisas.  "Se você só vai trabalhar com fatos  documentáveis é uma coisa, com intuição é outra, mas as duas têm que ser motores, inclusive o delírio. Divagar e sempre sem tirar o pé do chão."

Leia mais sobre o Projeto Repórter do Futuro

 
 
 
   
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