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  Comissão Européia discute Rádio e Democracia
Ana Luisa Zaniboni Gomes
  25/04/2005

De 18 a 20 de abril, a Universidade IULM de Milão, Itália, recebeu pesquisadores, professores universitários, comunicadores e radialistas de todo o mundo para discutir a importância do rádio na sociedade da comunicação.

 

O evento foi uma realização da  Rádio Popolare de Milão, com a  colaboração de entidades como ICS, UNIMONDO, CIE, MMI, Danish Refugeee Concil, IREN – International Radio European Network e  apoio da Comissão Européia e da Província de Milão.

 

O jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, foi convidado para falar sobre a  experiência do nosso Núcleo de Rádio na montagem de redes temáticas de parceria e cooperação em rádio. Sua palestra aconteceu na tarde do dia 20,  antecedido pela participação do professor José Coelho Sobrinho, chefe do Departamento de Jornalismo da ECA-USP, também convidado para falar sobre o mercado de trabalho e formação do radialista no Brasil.

 

O evento pode  ser consultado no site da Rádio Popolare (www.radiopopolare.it).

 

A seguir, a tradução do documento que balizou todas as discussões do evento.

 

 

 

O rádio é um meio de comunicação de massa democrático?

 

A Rádio Popular de Milão acredita que, apesar das grandes mudanças que acontecem nos setores da comunicação, os meios de comunicação de massa tradicionais continuam e provavelmente continuarão, também no futuro, a desenvolver um papel decisivo na  garantia da ordem democrática de qualquer sociedade.

 

Por essa razão, vale a pena refletir como é possível se contrapor, hoje, pelo menos parcialmente, ao gigantesco fenômeno da concentração dos meios de comunicação que se instala  em  nível planetário, verificando de que forma o “velho” rádio pode ser um  instrumento de “resistência” aos oligopólios.

 

A importância do rádio na sociedade da comunicação

 

Quando se discute a questão da democratização da comunicação de massa e se analisam os meios através dos quais esta democratização pode acontecer, curiosamente, na quase totalidade dos casos, o setor da radiodifusão não tem sido considerado.

 

Esta omissão é curiosa per si:  nos países ocidentais, os ouvintes de rádio são quantativamente equiparáveis aos telespectadores mas  provavelmente nos países do sul do planeta os que ouvem rádio superam os que assistem tv. Isso se torna mais surpreendente ainda se analisadas as denúncias sobre a concentração oligopolística a nível planetário - sejam dos meios ou das fontes de informação – obtidas em recentes pesquisas e estudos de casos de experiências   progressistas e democráticas.

 

Uma possível explicação desse desinteresse pelo rádio pode residir no fato, já bem conhecido, de que a quase totalidade dos investimentos publicitários se dão na impressa escrita e na televisão, o que poderia induzir à conclusão de que o rádio é um meio marginal ou residual.

 

A realidade não é bem essa. De fato, se é  verdade que o rádio recebe cerca de 5% dos recursos publicitários globais, é também verdade que os ouvintes semanais do rádio se aproximam dos 90% da população do planeta. Mas não é só isso. Uma parte consciente da audiência radiofônica (onde é feita a pesquisa de audiência) é determinada pela audição de rádios locais (30%). Em locais onde a legislação permite a existência de numerosas redes nacionais não se assiste a fenômenos de particular concentração de audiência em alguns canais: estamos frente a mais um fenômeno de “fragmentação” do que um fenômeno de “concentração” e isso não agrada ao “mercado”. Poderia agradar, e muito, ao sistema comunicativo democrático.

 

Nos EUA, o rádio convive há mais de 70 anos com a televisão e está em tão pouco declínio que o Presidente Bush conversa semanalmente com a nação através desse meio.

 

O rádio nos EUA recolhe 2% dos investimentos publicitários. Na União Européia,  as rádios gozam de constante sucesso, e nos países pobres, muitas vezes o rádio é o único instrumento existente para que as pessoas possam se informar.

 

Então, por que esta “superdesvalorização” do rádio?

 

Provavelmente,  a origem dessa situação é a simplicidade estrutural do meio rádio. Diferentemente da televisão, o rádio tem baixo custo de produção dos programas e não compra produções de sucesso dos grandes grupos. Pode estar ligado instantaneamente a todos os pontos do globo através do telefone, a música é facilmente encontrada, o preço dos aparelhos para transmissão são de baixo preço e os próprios aparelhos de rádio tem preços baixíssimos, são encontrados e muito difundidos em qualquer lugar do planeta.

 

Em compensação, os recursos econômicos à sua disposição são muito limitados, uma vez que sua maior e clássica fonte de receita, a publicidade, penaliza esse meio de comunicação com parcos investimentos.

 

A pobreza dos recursos do meio rádio, determinada, entre outros fatores,  pelo fato de que o parâmetro do custo-contato (isto é, o preço que paga o cliente para alcançar uma pessoa com a sua propaganda) é considerado muito baixo pelo mercado publicitário. Por exemplo, na Europa, oscila entre 20% (Alemanha) e  50% (França) em relação ao custo-contato da televisão. Isto faz com que, em muitas emissoras radiofônicas tradicionais,  não se tenham os recursos suficientes para manter as redações jornalísticas, por exemplo. Contemporaneamente, esta  baixa oferta de vagas no mercado profissional do rádio pode implicar em um certo desinteresse na profissão, o que imediatamente se reflete nos índices de procura por vagas nas faculdades e nos cursos de graduação de jornalismo nas principais universidades, principalmente da América Latina.

 

A escassez de profissionais competentes para atuar no jornalismo radiofônico, inclusive nas estruturas radiofônicas públicas, é um fenômeno presente em todos os países, fato que ajuda a elevar, a cada dia e de certa forma, o equívoco de que a única informação radiofônica possível nas emissoras locais seja representada exclusivamente por aquela desenvolvida e realizada, de maneira mais ou menos voluntária, pelas redes de rádios comunitárias.  Rádios essas que geralmente são de pequeno porte e de pequena audiência, na realidade minúsculas, e que não têm como vocação principal a informação, o jornalismo.

 

De fato, em algumas representações da realidade no campo da comunicação, estas experiências comunitárias se tornam a única possibilidade realizável fora dos monopólios, verdadeiros testemunhos de experiências, que devem ser preservadas.

 

Há, porém, exemplos significativos na área radiofônica que contrastam com o sentido do acima descrito: rádios independentes, metropolitanas, não voltadas ao lucro e mantidas parcialmente pelos ouvintes, com uma estrutura jornalística consolidada e audiência importante. Algumas delas evidenciam suas características comuns em busca de um “modelo” que, se individualmente bem sucedido, pode levar à multiplicação dessas experiências.

 

Na rádio local, mesmo se metropolitana, a informação é tratada como uma questão aberta - problemática a ser resolvida, se considerados os elevados custos para a manutenção de uma equipe de jornalismo para realizar essas atividades de maneira adequada. As duas soluções principais atualmente praticadas (a compra de notícias ou programas já editados com conteúdos nacionais e internacionais ou o desenvolvimento, nas emissoras locais, de um orgânico semelhante ao das estações das rádios nacionais), o que não é satisfatório.

 

Pode ser viável a construção, entre emissoras locais de um mesmo país, de estratégias comuns voltadas à manutenção e construção de uma informação independente. É possível pensar na construção de uma redação jornalisticamente adequada, com as pessoas responsáveis pela informação das rádios consorciadas trabalhando “em rede”. De modo virtual, é possível montar redações jornalísticas suficientemente dimensionadas para responder, com rigor e autonomia, às necessidades e aos ritmos das informações radiofônicas.

 

Esta hipótese é uma das ações que a Rádio Popular de Milão, junto com outros parceiros, buscou discutir nas reuniões realizadas no sudeste Europeu. Doze rádios locais da ex-Iugoslávia participaram do projeto Rádio Radiofônica, co-financiado pela Comissão Européia, e que será descrito e apresentado neste evento que se realiza de 18 a 20 de abril em Milão, na  Itália.

 

O que fazer para que o rádio seja um instrumento de resistência?

 

Aprofundar essas análises com o objetivo de verificar quais ações deveriam ser feitas para que o rádio, em breve período, possa se tornar um instrumento de oposição à concentração oligopolística da comunicação parece uma tarefa estimulante. Igualmente estimulante pode ser também o confronto com os grandes grupos editoriais que, nos últimos anos, estrategicamnte, entraram no mundo da radiofonia para fazer com que esta “simplificação” do setor mantenha  o veículo isolado dos demais meios.

 

Para prosseguir esta reflexão de forma eficaz, é necessário envolver nesta “pesquisa finalizada” uma pluralidade de protagonistas do campo da comunicação:

 

1. o mundo universitário, visto que em muitos países está estreitamente ligado e influencia o setor da comunicação, mas sobretudo também porque a academia pode modificar a leitura cultural atualmente dominante no confronto do rádio;

 

2. o mundo dos operadores da informação, visando a abrir  caminhos que possam socializar o custo de uma informação radiofônica seja por ela ser muito cara seja para prever formas contratuais de setores diversos daqueles praticados na imprensa escrita ou na TV nacional;

 

3. as instruções européias, visando a adoção de regulamentos que facilitem concretizar ações e normas legislativas que garantam aos cidadãos o direito de serem  informados, que ajudem a sustentar a liberdade de comunicação nos países do terceiro mundo e também facilitem o acesso aos satélites  e, de forma mais geral, facilitem o acesso às tecnologias por parte dos comunicadores ligados ao setor da radiofonia livre e independente;

 

4. o mundo da cooperação internacional não-governamental e de organizações que se propõem a obter uma distribuição dos recursos mundiais diferente do que está sendo realizado e que consideram o direito à liberdade de comunicação tão importante como o da assistência à saúde, educação e alimentação;

 

5. as instituições públicas locais que já há alguns anos se colocam como importantes interlocutores para a realização de projetos de cooperação e desenvolvimento, a chamada Cooperação Descentrada.

 

O evento, a realizar-se entre os dias 18  e 20 de abril, em plena  primavera de 2005,  pesquisará e discutirá todos esses temas.

 

 

 

 

 

 

 
 
 
   
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