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  País precisa de um modelo de desenvolvimento rural
Terlânia Bruno
  23/04/2001

Citando a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG - que representa mais de 3.600 sindicatos em todo o país, o professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Zander Navarro, que participou do encontro “Brasil Rural na Virada do Milênio”, nos dias 18 e 19 de abril, na USP, afirmou enxergar na organização dos trabalhadores rurais o alicerce para a construção de um modelo de desenvolvimento rural, que segundo ele, não avança porque esbarra em dificuldades políticas.

"Do meu ponto de vista, a CONTAG é a organização capaz de construir uma força política que exija, que reivindique um padrão de desenvolvimento rural para o nosso país. O que a CONTAG tem feito nos últimos anos, nas gestões mais recentes, tem sido muito sábio, em termos de concretizar essa agenda de desenvolvimento rural. Mas, acho também que a CONTAG tem sido pouco ousada do ponto de vista político de exigir essas mudanças e é isso o que está faltando."

O encontro, promovido pela USP em parceria com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD, reuniu pesquisadores e jornalistas para debater as perspectivas para o Brasil Rural e o papel da imprensa na cobertura das notícias do campo.

Navarro compôs a mesa de pesquisadores, coordenada por José Eli da Veiga, ao lado de José Francisco Graziano da Silva (Universidade Estadual de Campinas), Ricardo Abramovay (USP), e Alfredo Wagner (Grupo de Estudos Rurais e Urbanos).

Do lado dos jornalistas, participaram do encontro, Humberto Pereira, editor do Globo Rural, Cláudio Cerri, repórter da revista Globo Rural, Rogério Furtado, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de Agribusiness, e Ulisses Capozoli, representando a Associação Brasileira de Jornalismo Científico. O jornalista Jair Borin mediou os debates.

Todos eles concordam que a imprensa não tem sabido retratar o Brasil rural, se limitando ao que Cláudio Cerri chamou de "cacoete economicista", vendo o campo apenas do ponto de vista da produção. Mas ele acha que isso vai mudar por força da opinião pública que começa a se preocupar não só com as questões ambientais, mas também e principalmente, com a qualidade dos alimentos que consome.

"Um alimento saudável não pode ser produzido num ambiente que hoje é dominado por insumos químicos e pelo modelo de produção que, a meu ver, entrou em crise com a questão da "vaca louca" na Europa. A reação da opinião pública em relação a isso tende a se generalizar. Na Europa já existe uma tendência muito forte no sentido de se optar por formas de produção mais limpa, orgânica, e acho que isso não vai ficar restrito aos países ricos. Hoje, no Brasil, já há escassez de produtos orgânicos para venda em supermercados. Então, o consumidor começa a pressionar a academia e o próprio jornalismo para tratar, refletir o rural além da compreensão ortodoxa, convencional que se tem atualmente."

Cerca de 250 pessoas, entre professores, economistas, agrônomos e estudantes, vindas de diversos Estados, participaram do evento. O objetivo da coordenação é que o encontro seja realizado em outras regiões do país.
 
 
 
   
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