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23/04/2001
A imprensa brasileira, de um modo geral, ainda não se deu conta que o Brasil rural é muito mais que feiras agropecuárias, rodeios, leilões e invasões de terra. Essa é, em síntese, uma das conclusões de pesquisadores e jornalistas que durante dois dias (18 e 19 de abril), estiveram reunidos no encontro "Brasil Rural na Virada do Milênio", promovido pela Universidade de São Paulo - USP - em parceria com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural - NEAD e realizado na Faculdade de Economia e Administração da USP.
Segundo o coordenador do evento, o economista e professor da FEA, José Eli da Veiga, a idéia do encontro foi mostrar que a imprensa tem um papel, que não está sendo cumprido, de chamar a atenção da sociedade brasileira para a importância do Brasil Rural. Essa falta de visibilidade, explica, tem implicações muito sérias, por exemplo, na política habitacional.
"Não existe e nem nunca existiu política habitacional para o meio rural. Sempre se diz que o meio rural está acabando. Não é verdade que seja assim. Hoje, 30% pelo menos da população brasileira é rural (não confundir com a população agrícola que é menor), com comércio, serviços, a gente não pode esquecer disso. São setores da economia que não se confundem com a agropecuária. Como no Brasil se confunde as duas coisas, nem sempre os jornalistas e pesquisadores, inclusive, estão acostumados a ver esse Brasil rural que é muito mais amplo do que se pensa."
Ele justifica dizendo que existem cerca de 1500 municípios rurais onde a população aumenta mais do que nas cidades, um fenômeno a ser descoberto pela imprensa e pelo próprio meio acadêmico que ainda não tem muito claras as reais dimensões desse outro Brasil.
Além da constatação de que a imprensa cobre mal a área rural e se esforça muito pouco para conhecer um outro lado do país que cresce a despeito de todas as dificuldades, Veiga aponta como um dos principais méritos do encontro a conclusão de que o Brasil precisa urgentemente de uma estratégia de desenvolvimento voltada para a realidade rural. De acordo com ele, as atuais políticas fundiárias e de crédito, como os assentamentos, Pronaf, Banco da Terra, não são suficientes para dar conta das necessidades do campo.
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