“Direito à comunicação é questão de democracia”,
defende Eduardo Jorge. “Ninguém mais pode se conformar em ser objeto no sistema
de saúde. O cidadão e a cidadã devem ter consciência de como podem influenciar
na sua saúde e na da sua comunidade.” A Conferência Nacional começa neste
domingo (7/12), e o debate sobre comunicação é um de seus destaques.
Historicamente, o tema sempre foi tratado de forma marginal – tanto por
comunicadores quanto por sanitaristas –, mas cumpre função essencial na difusão
de valores e hábitos saudáveis, o que o torna fundamental à sobrevivência e ao
desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o secretário executivo do Ministério da
Saúde, Gastão Vagner, são três as razões para priorizar o tema: estimular a
prevenção, difundir valores e hábitos saudáveis e esclarecer à população o que é
o “complexo” Sistema Único de Saúde brasileiro. “O debate sobre comunicação é
uma das dimensões inovadoras dessa conferência”, avalia Gastão. “Afinal de
contas, a responsabilidade de cuidar da saúde é, em parte do Estado, em parte da
comunidade, da família e da pessoa.” Eduardo Jorge ainda destaca a importância
da comunicação para a redução de gastos. “O recurso da gente é muito curto. Mas
se eu conto com a ação consciente da comunidade, os índices dos que adoecem cai
e isso se reflete no meu orçamento”, explica.
A defesa da comunicação que faz Eduardo é orientada
por um conceito: promoção da saúde. Trata-se de uma visão que supera a idéia de
prevenção, tratamento e reabilitação. Prevê a integração de todos os recursos
disponíveis para o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida da
população. “Esse é um terreno virgem no Brasil e muito pouco trabalhado no SUS”,
avalia Eduardo. Ele explica que promover saúde é garantir um nível de informação
e educação na saúde para que o cidadão, nas atitudes dentro de casa, na relação
com os filhos, em sua alimentação, na forma como dirige, em seus relacionamentos
no trabalho, possa agir de forma saudável. “E quem pode fazer isso é o jornal, a
TV, a comunicação. Um jornalista na promoção da saúde pode fazer mais do que um
médico.”
Comunicação e saúde
O tema
comunicação e saúde foi debatido durante as etapas preliminares da conferência,
que envolveram os municípios e Estados. O relatório preliminar do eixo 10
(Informação e Comunicação em Saúde), por exemplo, adianta três prioridades
reconhecidas pelos delegados, que devem ser aprovadas nessa rodada nacional de
discussões: 1- realizar, em 2004, a 1ª Conferência Nacional de Informação em
Saúde; 2 - referendar as diretrizes discutidas na 11ª Conferência Nacional de
saúde, no que se refere à comunicação e implantar as propostas aprovadas; 3 -
garantir, nas três esferas de governo, recursos específicos para informação e
informatização, educação e comunicação.
Na 11ª Conferência, realizada em 2000, foi
encaminhada como moção e aprovada pelos delegados a Declaração de Adamantina,
documento redigido durante a 3ª Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde,
promovida pela Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional,
que se encerrou em 8 de novembro daquele ano – um dia após a morte do médico
sanitarista David Capistrano Filho, um dos principais difusores do conceito de
promoção da saúde e defensor de um comunicação democrática e
cidadã.
Entre os pontos que constam da declaração, e que
devem ser rediscutidos e reafirmados durante a 12ª Conferência, vale destacar
três: 1 - A saúde pública não é responsabilidade exclusiva dos profissionais da
área médica, mas de toda a sociedade: 2 - Os problemas de saúde podem ser
solucionados, em parte, com os recursos da comunicação, os quais podem
disseminar novas concepções de prevenção e promover valores humanísticos; 3 - A
comunicação não um fator adjetivo que se agrega secundariamente ao sistema de
saúde mas sim um fator substantivo que se integra à própria estratégia de ação.
(Fonte: Agência de Notícias Carta
Maior)