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  Comunicação é destaque na Conferência da Saúde
Rodrigo Savazoni
  09/12/2003

“Por que nós conseguimos bloquear a epidemia de dengue em São Paulo, com ela tendo se alastrado por municípios vizinhos?”, questiona Eduardo Jorge, coordenador da 12ª Conferência Nacional da Saúde e ex-secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo. “É evidente que houve um esforço de remontar a Secretaria Municipal de Saúde, mas o decisivo foi o contato com os meios de comunicação. Nós fazíamos os mutirões, e a TV e o rádio iam juntos. Foi assim que conseguimos”. Eduardo lembra o episódio para exemplificar por que considera prioritário o debate sobre comunicação e saúde - um dos dez selecionados pelo Conselho Nacional de Saúde para orientar o trabalho dos delegados que participam da 12ª Conferência.

“Direito à comunicação é questão de democracia”, defende Eduardo Jorge. “Ninguém mais pode se conformar em ser objeto no sistema de saúde. O cidadão e a cidadã devem ter consciência de como podem influenciar na sua saúde e na da sua comunidade.” A Conferência Nacional começa neste domingo (7/12), e o debate sobre comunicação é um de seus destaques. Historicamente, o tema sempre foi tratado de forma marginal – tanto por comunicadores quanto por sanitaristas –, mas cumpre função essencial na difusão de valores e hábitos saudáveis, o que o torna fundamental à sobrevivência e ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Segundo o secretário executivo do Ministério da Saúde, Gastão Vagner, são três as razões para priorizar o tema: estimular a prevenção, difundir valores e hábitos saudáveis e esclarecer à população o que é o “complexo” Sistema Único de Saúde brasileiro. “O debate sobre comunicação é uma das dimensões inovadoras dessa conferência”, avalia Gastão. “Afinal de contas, a responsabilidade de cuidar da saúde é, em parte do Estado, em parte da comunidade, da família e da pessoa.” Eduardo Jorge ainda destaca a importância da comunicação para a redução de gastos. “O recurso da gente é muito curto. Mas se eu conto com a ação consciente da comunidade, os índices dos que adoecem cai e isso se reflete no meu orçamento”, explica.
 
A defesa da comunicação que faz Eduardo é orientada por um conceito: promoção da saúde. Trata-se de uma visão que supera a idéia de prevenção, tratamento e reabilitação. Prevê a integração de todos os recursos disponíveis para o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida da população. “Esse é um terreno virgem no Brasil e muito pouco trabalhado no SUS”, avalia Eduardo. Ele explica que promover saúde é garantir um nível de informação e educação na saúde para que o cidadão, nas atitudes dentro de casa, na relação com os filhos, em sua alimentação, na forma como dirige, em seus relacionamentos no trabalho, possa agir de forma saudável. “E quem pode fazer isso é o jornal, a TV, a comunicação. Um jornalista na promoção da saúde pode fazer mais do que um médico.”
 
Comunicação e saúde
O tema comunicação e saúde foi debatido durante as etapas preliminares da conferência, que envolveram os municípios e Estados. O relatório preliminar do eixo 10 (Informação e Comunicação em Saúde), por exemplo, adianta três prioridades reconhecidas pelos delegados, que devem ser aprovadas nessa rodada nacional de discussões: 1- realizar, em 2004, a 1ª Conferência Nacional de Informação em Saúde; 2 - referendar as diretrizes discutidas na 11ª Conferência Nacional de saúde, no que se refere à comunicação e implantar as propostas aprovadas; 3 - garantir, nas três esferas de governo, recursos específicos para informação e informatização, educação e comunicação.
 
Na 11ª Conferência, realizada em 2000, foi encaminhada como moção e aprovada pelos delegados a Declaração de Adamantina, documento redigido durante a 3ª Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde, promovida pela Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, que se encerrou em 8 de novembro daquele ano – um dia após a morte do médico sanitarista David Capistrano Filho, um dos principais difusores do conceito de promoção da saúde e defensor de um comunicação democrática e cidadã.
 
Entre os pontos que constam da declaração, e que devem ser rediscutidos e reafirmados durante a 12ª Conferência, vale destacar três: 1 - A saúde pública não é responsabilidade exclusiva dos profissionais da área médica, mas de toda a sociedade: 2 - Os problemas de saúde podem ser solucionados, em parte, com os recursos da comunicação, os quais podem disseminar novas concepções de prevenção e promover valores humanísticos; 3 - A comunicação não um fator adjetivo que se agrega secundariamente ao sistema de saúde mas sim um fator substantivo que se integra à própria estratégia de ação. (Fonte: Agência de Notícias Carta Maior)
 
 
 
   
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