17/10/2003
Em meio à
crise que assola a vizinha Bolívia, com manifestações populares pedindo a
renúncia do atual presidente Gonzalo Sánchez e violenta repressão por parte do
governo, diversos veículos de comunicação a serviço da população já foram
ameaçados. É o caso, entre outros, da Radio Televisión Popular (RTP), Canal 36,
Radio Wayna Tambo e
Pachamama.
As emissoras de rádio comunitárias não ficaram de fora. Depois de diversas
ameaças telefônicas contra profissionais das radcom nas cidades de Oruro,
Cochabamba e La Paz, um atentado com explosivos destruiu a antena de transmissão
da Rádio Pio XII e a televisão universitária, ambas situadas
em Oruro.
A denúncia abaixo reproduzida foi enviada à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos),
em Washington (EUA), pelo representante legal da
rádio, Padre Guillermo Silez Paz.
"A antena de
transmissão foi totalmente destruída por um explosivo. Efraín Mamani, que trabalha como
segurança na rádio, contou que duas pessoas encapuzadas o obrigaram a sair de seu quarto e
o forçaram a revelar onde ficava o equipamento de transmissão da Pio XII e também
do canal da Televisão Universitária.
O prefeito local Ivo Arias, pertencente
à coalizão governista pelo Movimento da Esquerda Revolucionária
(MIR), reprovou o atentado e reforçou que desconhecia o fato. Diante da resposta, os
moradores de Oruro e os trabalhadores de Pio XII exigiram que a autoridade
formasse uma comissão para verificar in loco o atentado criminal realizado para
silenciar a emissora católica, que é uma das instituições emblemáticas da
resistência contra a ditadura.
A comissão e os moradores constataram, surpresos, que o explosivo foi profissionalmente
manipulado para atingir somente o diâmetro em que estava localizada a antena. Segundo o relato
do vigia, horas antes do atentado dois homens da polícia rondavam a
região.
Este atentado criminal aconteceu num contexto de
crise social e política que afeta o governo de Gonzalo Sánchez de Lozada há um
mês, com um massacre do Exército que resultou em 70 mortos e mais de 200
pessoas feridas.
A isso somam-se acusações infundadas lançadas por
funcionários do governo com a finalidade de mostrar a Radio Pio XII como se
tivesse cometido um crime ao cumprir com seu dever de informar sobre todos os
fatos relacionados ao massacre sucedido nos últimos dias 11, 12 e 13 de outubro
na cidade de El Alto.
As outras duas rádios de Pio XII, localizadas em
Potosí e em Cochabamba, também foram ameaçadas com termos que alertavam sobre
uma possível intervenção militar em represália às informações que difundia.
As ameaças covardes foram articuladas com a clara
intenção de silenciar os espaços de informação e de terminar com o sistema
democrático, cuja base jurídico-filosófica descansa na liberdade de expressão."
Pe. Guillermo Siles Paz, OMI Representante legal
Radio Pio XII
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