10/10/2003
O texto que segue, produzido
pelo diretor da OBORÉ, Sergio Gomes, foi publicado no jornal OPASQUIM21, edição
83, e tem a ver com a repercussão dada pela Folha de S. Paulo à notícia de que o
Governo Federal promoverá avisos de habilitação para rádios comunitárias em
cerca de 600 localidades inseridas no Programa Fome e onde ainda não haja
nenhuma emissora de rádio. Segue ainda o link da palestra do jornalista
Nivaldo Manzano, no Seminário Comunicação a Serviço do Brasil Rural:
experiências, dilemas e perspectivas em
que ele afirma: "a
rádio comunitária é o principal instrumento de mudança social, não há que se
pensar em esquemas grandiosos, centralizados, como televisão ou jornais que são
feitos nas capitais e no interior. Isso não tem nenhum alcance, as pessoas
infelizmente não lêem. O rádio é o principal meio de comunicação que nós temos
que valorizar".
As pontas soltas das rádios e
o Fome Zero
No dia 6 de outubro a Folha de São Paulo
estampou na capa a manchete : PT vincula rádios comunitárias ao Fome Zero. Grave
denúncia que seria " explicada " à página 4 do primeiro caderno por Laura
Mattos, jovem jornalista que procura acompanhar as novidades do tema rádio
.
O texto desdobrado em boxes e retrancas procurava
conduzir o leitor pelo braço para "mostrar" que o Governo comete um grave erro,
um abuso, uma impropriedade, metendo-se onde não deve. Onde já se viu o
Ministério das Comunicações querer colaborar com o principal projeto social do
Governo Federal e pensar em chamar 600 localidades do Fome Zero para que se
habilitem a dispôr de emissoras comunitárias ?
Até alguns " dirigentes " do movimento das rádios
comunitárias foram escolhidos a dedo para prestar declarações que facilitassem a
comprovação da "tese" de dirigismo impróprio pois, para eles, isso
significaria abandonar a apreciação de milhares de processos de associações de
radiodifusão comunitária que estão à espera de uma resposta no Ministério e,
assim, possam funcionar legalmente.
Na verdade, o " furo " da Folha poderia ter
ocorrido 15 dias antes porque Marcio Wohlers, assessor especial do
Ministro das Comunicações, Miro Teixeira, tinha ido a São Paulo para fazer a
palestra de abertura da X Plenária do Fórum Nacional Pela Democratização
da Comunicação e para uma conferência sobre "Democratização do acesso :
concessões e conteúdo" no Seminário Onda Cidadã: Radiodifusão,
cultura e educação promovido pelo Itaú Cultural. Mas os dois eventos não contaram com a cobertura do
jornal.
Vamos
reproduzir, então, as palavras do
próprio Wohlers nos dois seminários.
"Gostaria de dizer que, dentro de 30/60
dias, o Ministério fará um aviso de habilitação para rádios comunitárias
em cerca de 600 localidades. Queremos que sejam localidades dentro de áreas
estratégicas do Programa Fome Zero para que a população possa se articular e
receber notícias. Ou seja, chamamento para municípios e localidades estratégicas
interessadas nos diversos programas sociais e que ainda não têm nenhuma
emissora de rádio" .
E o que disse mais ?
"Do ponto de vista filosófico,
reconhecemos que a evolução de toda a política de comunicação até este Governo
provocou a privatização do espaço público. São os interesses comerciais que
acabam movendo essa enorme máquina de comunicação e nós queremos resgatar o
público desse espaço. Nós queremos resgatar que os meios de comunicação não
funcionem exclusivamente numa lógica mercantil. E sim numa lógica de conquista e
reconquista do espaço do cidadão como está inscrito na Constituição nos artigos
220 a 224".
Como o espaço acabou e há muito mais para contar a
quem se interessa por Democracia, democratização dos meios de comunicação e
solução ( ao menos ) dos problemas relacionados à fome e miséria de milhões e
milhões de brasileiros e brasileiras , convido-os a acessar www.obore.com
Voltaremos ao tema.
Sergio Gomes
Leia
mais:
Palestra do jornalista Nivaldo
Manzano no Seminário Comunicação a Serviço do Brasil Rural:
experiências, dilemas e perspectivas, realizado em 11 de agosto de 2003, na
ECA/USP www.obore.com/seminario/nivaldo_mazzano.asp |