07/10/2003
Ocorreu na semana passada,
durante os dias 1º e 3 de outubro, a VI Conferência Brasileira de
Comunicação e Saúde (COMSAÚDE 2003), organizada pela Cátedra UNESCO de
Comunicação para o Desenvolvimento Regional, Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP), Associação Saúde da Família e OBORÉ. Acompanhe a cobertura
dos debates de abertura, dos dias 2 e 3:
ABERTURA Por Giovanna Modé
Durante a abertura, o vice-reitor da UMESP, Clóvis
Pinto, lembrou a relação que existe entre a origem da palavra Metodista e os
propósitos da Comsaúde. "A palavra metodista está relacionada a um movimento que
teve início no século XVIII, no começo da Revolução Industrial na Inglaterra. E
o principal fundador desse movimento foi John Wesley, que era um sacerdote da
Igreja Anglicana que viveu numa época de grandes problemas sociais em Londres.
Ele percebeu as carências do povo e, mesmo sendo um teólogo, resolveu estudar
medicina para construir uma cartilha popular na área de saúde, portanto foi um
grande comunicador. E acho que essa é uma grande lição, é o que devemos fazer
unindo comunicação e saúde"
José Marques de Melo, titular da Cátedra UNESCO de
Comunicação, destacou a importância do apoio do Ministério da Saúde ao evento e
agradeceu a parceria com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
alcançada na organização da Conferência deste ano. Disse ainda que espera contar
com todos para o Comsaúde 2004, cujo tema será "Mídia e Alimentação - Da Fome à
Obesidade", que ocorrerá em Recife (PE) entre os dias 11 e 13 de agosto de
2004.
Sérgio Gomes, diretor da OBORÉ, lembrou da
Declaração de Adamantina (cuja cópia foi distribuída ao público), assinada
no III Comsaúde (2000). "É preciso tomar conhecimento desse documento,
porque traz uma questão atualíssima, que é a questão do rádio. Além das
emissoras existentes, que precisam ser chamadas a assumir sua responsabilidade
na promoção da saúde, estão surgindo milhares de pequenas emissoras que podem
cumprir um papel fundamental. Temos que ajudar essas emissoras, vivemos num país
cuja população não tem dinheiro para comprar informação, que se informa no rádio
de manhã", disse.
Cláudio Maierovich, diretor da ANVISA, também se
pronunciou durante a cerimônia de abertura, afirmando que falar em comunicação
na área de vigilância sanitária "é falar num dos nossos pilares, num dos nossos
valores mais estratégicos. Nós tivemos a construção, junto com o Ministério da
Saúde, de um projeto de intervenção na área da comunicação para o País. E não é
uma comunicação de construção primária, a idéia é de um projeto de intervenção
cultural. Por isso é tão rico e oportuno fazer parte da VI Comsaúde. Estamos
aqui principalmente para aprender, porque as necessidades colocadas por esse
momento são diferentes de tudo o que nós já vivemos".
Laércio Portela, coordenador de comunicação do
Ministério da Saúde, também falou da importância da comunicação na área da
saúde. "Comunicação não é mais um departamento como acontecia antes nas grandes
empresas. Quem pensa comunicação assim está pensando errado. A comunicação tem
de fazer parte de todo o processo. Existem temas fundamentais na área da saúde
que ficam fora da mídia."
Em seguida, o professor Isaac Epstein, diretor
adjunto da Cátedra UNESCO de Comunicação, disse que "a comunicação
passa a ter papel principal e não é mais coadjuvante na área da saúde. Então
está havendo uma certa revolução nesse sentido. A comunicação está passando a
ser um centro do saber, do conhecimento que passa do segundo plano para o
primeiro. Algo parecido com o que ocorre com o ar. Ninguém fala no ar até
começar a haver poluição e todo mundo começa a se dar conta que o ar é a coisa
mais importante que existe."
Ele lembrou, ainda, a função dos encontros Comsaúde
nesse sentido: "Então nessas nossas reuniões, desde o primeiro Comsaúde, estamos
tentando trabalhar essa interface da comunicação interpessoal, médico-paciente,
dos agentes comunitários da saúde da família, saúde na mídia, da forma como a
saúde aparece nos jornais."
Finalmente, Clóvis Pinto encerrou a noite lembrando
a concepção de milagre da filósofa alemã Hanna Arendt. "É um conceito bem
diferente das igrejas. Ela pensa o milagre como algo que acontece no espaço
público capaz de interromper processos que se perpetuam e muitas vezes não são
questionados".
Em seguida, houve a conferência
Mídia, Mediação, Medicalização , proferida por Cláudio
Maierovich. Uma bela apresentação do coral Luther King encerrou a noite.
DIA 2
Por Eliana Marcolino e Fabiana Franco - do
Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação JBCC.
No dia 2 de outubro, o trabalho começou às 9h
com o painel O papel dos medicamentos genéricos, similares e remédios de marca.
A mesa foi coordenada pela prof. Dr.ª Elizabeth Maurinza e teve como relator o
Prof. Mestre Arquimedes Pessoni.
O painel começou coma a fala do Dr. Davi Rumel, da
ANVISA que despertou a platéia para a questão da medicalização como domínio
público, "todo mundo toma, todo mundo prescreve, todo mundo tem uma opinião
sobre o assunto", em que a regulação não faz parte da cultura. Explicou a
diferença entre medicamento novo, genérico e similar; e medicamento biológico
fitoterápicos, homeopáticos e específicos e falou da importância da inserção da
eficácia do medicamento na bula e das mudanças que a bula sofrerá com a
RDC140/03.
O Professor Mestre Sávio Fujita Barbosa
complementou as informações do Dr. Davi e destacou os benefícios dos genéricos,
entre eles a melhor qualidade (em relação ao similar), menor preço, mais
acessível à população, fortalecimento da indústria nacional e investimentos
internacionais. Concluiu destacando que as informações relativas a medicamentos
devem ser repassadas com segurança e ética.
Luiz Roberto Serrano, jornalista e diretor da
ABRACOM - Associação Brasileira de Assessoria de Comunicação - destacou que a
mídia trata dos medicamentos sobre dois aspectos: preço dos medicamentos e
lançamento do medicamento novo. Falou da "empurroterapia" praticada nos balcões
das drogarias e até mesmo das gratificações dadas a balconistas e médicos que
induzem essa prática e lançou um desafio para plenária: a criação de mecanismos
de difusão de informação. O painel foi encerrado com a fala do Prof. Mestre
Arquimedes que sintetizou as explanações e acrescentou: "A saúde não tem preço,
mas quem paga a conta?".
O turno vespertino foi dedicado a apresentação de
grupos de trabalho (GTs). Neles, pesquisadores nacionais e internacionais
expuseram o resultado de suas pesquisas e discutiram com os grupos assuntos
relacionados ao tema central durante toda a tarde.
O painel noturno teve como tema: Pílulas de
informação: Comunicação também é remédio, os profissionais das duas áreas, Saúde
e Comunicação, salientaram a importância da comunicação como um remédio para o
bem da humanidade. Para discutir o assunto, a mesa contou com a participação de
Ausonia Favorido Donato, do Instituto de Saúde da Secretaria do Estado de São
Paulo; Aureliano Biancarelli, do jornal Folha de S.Paulo; Ricardo Gamarski, da
ANVISA; Maria José Delgado, gerente de fiscalização e controle de Medicamentos e
Produtos da ANVISA; e Amália Dellamea, da Faculdade de Farmácia da Universidade
de Buenos Aires. Para dinamizar o debate, a mesa teve como coordenador o
professor Dr.Wilson da Costa Bueno da Universidade Metodista de São Paulo, e
como relatora a professora Isaltina Gomes da Universidade Federal de
Pernambuco.
A professora argentina Amália Dellamea advertiu que
a informação incorreta muitas vezes envenena e intoxica o receptor podendo levar
à morte. Uma das questões apontadas pela professora referente à realidade
argentina é que "as informações sobre prevenção de doenças não são processadas
nem absorvidas pela sociedade". Vale salientar que este dado não se difere da
realidade brasileira, o que foi comprovado através dos estudos apresentados
durante a Conferência.
Maria José Delgado, da ANVISA, apresentou um estudo
sobre a política nacional de medicamentos e a propaganda. Ricardo Gamarski,
também da ANVISA, apresentou dois eixos de regulação da agência: a regulação
técnica e a regulação econômica. Ele também ressaltou a necessidade de se
garantir o acesso da população aos medicamentos que precisa a preços razoáveis.
Essa é uma das justificativas da resolução RDC nº140/03/ANVISA.
Já a professora Ausonia Donato fez uso de sua
prática pedagógica construtivista e utilizou como recurso didático a faixa
exposta no auditório para refletir sobre a etmologia do termo remédio: remédium
= mediação: MED prefixo latino que significa cuidar de ... os termos Mediação e
Medicalização =MEIO. Com esta dinâmica a professora fez uma brilhante reflexão
sobre o assunto pautado.
O jornalista Aureliano Biancarelli falou sobre a
dinâmica dos jornais atuais, e, ao ser questionado sobre a postura de alguns
veículos de comunicação, ele afirmou que "o jornal geralmente trabalha com
coisas ruins". Ele lembrou ainda que, o que é notícia para um jornalista,
necessariamente não é notícia para um médico. As exposições funcionaram como um
pontapé inicial que suscitou num acalorado momento de debate
posteriormente.
DIA 3
A nova regulamentação da bula: Onde estamos e para
onde vamos foi o tema da pauta matutina do dia 03. A mesa de debatedores contou
com a participação de Gilvânia Melo, da ANVISA; Rogério Lannes, da ENSP Fiocruz
(RJ); Ediná Alves, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da
Bahia; e José Rubens Bonfim, da SOBRAVIME - Sociedade Brasileira de Vigilância
de Medicamentos. A coordenação foi do professor Isaac Epstein, diretor adjunto
da Cátedra UNESCO, e a relatora foi a jornalista Ana Luisa Gomes, da OBORÉ
Projetos Especiais.
Gilvânia Melo teceu suas reflexões acerca da
qualidade dos textos das bulas em vista à nova resolução de regulamentação das
bulas de medicamentos e apresentou um minucioso trabalho com análise de conteúdo
de algumas bulas. Nesta análise, ela apontou algumas deficiências que foram
elucidadas na pesquisa, como, por exemplo, o excesso de informações em linguagem
técnica que inviabiliza a compreensão do leitor.
O jornalista José Rubens Bonfim foi enfático ao
declarar que se deve excluir totalmente as campanhas de medicamentos dos meios
de comunicação de massa. Ele afirmou ainda que a indústria farmacêutica não se
preocupa com o bem da humanidade, sua maior preocupação é o
faturamento.
Ediná Alves, do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal da Bahia, teceu suas reflexões acerca da complexidade do
campo da saúde desde a imprecisão do conceito de saúde e suas implicações de
ordem econômica, social e política. Ela propõe que este tema seja tratado sob a
ótica da interdisciplinaridade.
Rogério Lannes iniciou sua fala dizendo que "a bula
de remédio é um conjunto de letras minúsculas e textos aterrorizantes". O
jornalista ressaltou o compromisso dos meios de comunicação como instrumento
necessário para estimular o serviço de cidadania. Para ele faz-se necessário
repensar o conceito de comunicação: "Deve-se comunicar COM e não comunicar PARA.
Ao invés de público alvo ser público parceiro".
O evento foi concluído com uma plenária de
avaliação geral das atividades desenvolvidas durante a VI Comsaúde em que os
coordenadores dos GT´S expuseram os relatórios dos trabalhos apresentados. Como
ação concreta das discussões ali apresentadas, o jornalista Sérgio Gomes, da
OBORÉ, conclamou os participantes a formular um documento, nomeado "Carta de São
Bernardo do Campo" que será apresentado na 12ª Conferência Nacional de Saúde, em
dezembro de 2003 em Brasília.
Veja as fotos do
evento
Abertura oficial: (a partir da esq.) Profª
Horizontina Canfield, representando a Pastoral Universitária, Prof. Isaac
Epstein, diretor-adjunto da Cátedra UNESCO, Sergio Gomes, diretor da OBORÉ,
Laércio Portela, coordenador de Comunicação do Ministério da Saúde, Clóvis
Pinto, vice-reitor da UMESP, José Marques de Melo, titular da Cátedra
UNESCO, Maria Eugênia Fernandes, diretora-executiva da Associação
Saúde da Família
Depoimentos de
Laércio Portela (esq.) e Clóvis
Pinto
Painel A - "O papel dos medicamentos genéricos, similares
e
remédios de marca"
Apresentação do Painel B - " Pílulas de Informação:
A
comunicação também é remédio"
Painel C - "A nova regulamentação da bula:
Onde
estamos e para onde vamos"
Equipe da ANVISA - Projeto de Monitoração de
Publicidade e Propaganda
Avaliação dos trabalhos e preparação da
Carta de São Bernardo
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