O médico
sanitarista e ex-presidente da Fiocruz Sérgio Arouca, falecido na
noite do último sábado (02), vítima de câncer, foi homenageado nesta segunda-feira
pelos funcionários da Fundação. Cerca de 500 pessoas se reuniram
em frente ao Castelo de Manguinhos para participar de um ato em memória
de Arouca. O corpo do médico foi cremado hoje.
Como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde -
OPAS - atuou no México, Colômbia, Honduras, Costa Rica, Peru e
Cuba
Por toda
a sua produção científica e a liderança conquistada na construção do Sistema
Único de Saúde (SUS), Arouca tornou-se uma referência mundial na área da Saúde Pública.
Havia assumido, em janeiro passado, a Secretaria de Gestão Participativa do
Ministério da Saúde e foi nomeado para a coordenação geral da 12ª Conferência
Nacional de Saúde. Era o representante do Brasil na Organização Mundial de Saúde
(OMS).
Arouca nasceu em Ribeirão Preto (SP) e formou-se
médico pela Universidade de São Paulo - USP - em 1966. Em sua vida acadêmica,
buscou vincular-se sempre com as propostas de democratização da sociedade
brasileira na defesa de que todo cidadão tenha direito à saúde, entendida não só
como assistência médica, no momento adequado e com a qualidade necessária, mas
também como uma série de condições para que a população não adoeça: reforma
agrária, educação, lazer, liberdade, habitação digna, transporte, etc.
Arouca recuperou o prestígio da
Fiocruz no campo da pesquisa científica
e do desenvolvimento
tecnológico
Como consultor da Organização Pan-americana de
Saúde - OPAS - atuou em vários países: México, Colômbia, Honduras, Costa Rica,
Peru e Cuba. Professor concursado da Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP -
da Fiocruz, lecionou alguns anos até ser convidado a trabalhar com o governo
sandinista da Nicarágua. Nesse período, Arouca iniciou seus laços com o sistema
de saúde cubano, assessorando-o tanto na formação de recursos humanos quanto no
desenvolvimento de programas assistenciais. Ele voltou para o Brasil em 1982,
quando foi eleito chefe do Departamento de Planejamento da ENSP.
Em 1985, foi indicado como candidato à Presidência
da Fiocruz. O impulso foi feito por um movimento da comunidade de Manguinhos,
através de uma frente suprapartidária, reforçada pelo então secretario-geral do
Ministério da Saúde, Eleutério Rodriguez Neto, e pela médica sanitarista Fabíola
Aguiar Nunes. Esse movimento ultrapassou as fronteiras da Fundação e tornou-se
um movimento nacional, conseguindo a nomeação para presidente da instituição em
3 de maio de 1985.
Arouca recuperou o prestígio da Fundação no campo
da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico, o que a notabilizou por
ter sido a instituição de ponta na formulação e discussão da política brasileira
de saúde. Presidiu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, a primeira que
conclamou o usuário do sistema de saúde a debater o tema. Neste período foram
realizadas pré-conferências em todos os estados. Os resultados da Conferência
subsidiaram o texto da saúde na Constituição Federal, em 1988. Como presidente
da Fiocruz reintegrou os dez cientistas cassados pela ditadura militar, no
episódio conhecido como "Massacre de Manguinhos".
Cerca de 500 pessoas se reuniram em frente ao Castelo de Manguinhos
para
um
atoem homenagem a Sergio
Arouca
Foi também, em 1987, secretário de Estado da Saúde
do Rio de Janeiro e nessa condição escolhido por unanimidade pela plenária de
entidades de saúde para apresentar a defesa da emenda popular apresentada à
Assembléia Nacional Constituinte. Ocupou a Presidência da Fiocruz até abril de
1988, quando exonerou-se para concorrer como vice-presidente da República na
chapa do PCB, com Roberto Freire.
Foi ainda candidato a vice-prefeito do Rio de
Janeiro na chapa de Benedita da Silva. Arouca foi deputado federal por oito anos
e ocupou diversos cargos em comissões de saúde, ciência e tecnologia, sempre na
defesa da modernidade e interesse do trabalhador. No início da atual gestão do
prefeito César Maia, Arouca foi secretário municipal de Saúde do Rio.
Era casado com a médica sanitarista e
ex-deputada estadual pelo PPS Lúcia Souto e deixou quatro filhos: Pedro, Lara, Nina
e Luna.