30/05/2003
Conhecer in loco a experiência da Radio
Popolare de Milão, referência de rádio popular no norte da Itália, é uma forma
de enriquecer o debate sobre a democratização do rádio no Brasil e trazer
novas perspectivas nessa área. Foi com essa finalidade que, a convite da própria
rádio Popolare e da Network Popolare, embarcaram para a Itália, na semana
passada, Sergio Gomes e Ana Luisa Zaniboni Gomes, diretores da OBORÉ; Celso
Horta e Osvaldo Colibri, representando o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC; o
professor José Coelho Sobrinho, chefe do Departamento de Jornalismo da ECA/USP;
e Giancarlo Summa, diretor do escritório paulista da Radiobrás.
Fundada em 1977 por militantes, sindicalistas de esquerda e intelectuais, a
Popolare ocupa hoje o segundo lugar na audiência da Lombardia, região norte do
país, e tem mais de 200 mil ouvintes cotidianos. A Popolare não funciona dentro
da lei. "Mas tampouco fora dela. É que não existe uma lei clara em relação à
radiodifusão na Itália", explica José Luis Del Roio, brasileiro que desde 1970
vive em Milão e integra a equipe da Popolare.
Desde o início, a emissora é marcada pelo jornalismo participativo e por
dar voz a quem não costuma ter nos veículos comerciais: os trabalhadores. Nas
transmissões ao vivo, por exemplo, os ouvintes são responsáveis por parte da
programação, dão suas opiniões e interagem não só com a rádio, mas entre si. Seu
conteúdo é marcado pela independência - não está vinculada a um partido, um
sindicato ou grupos econômicos - e a programação mescla informação com programas
variados, de música, cultura e sátira.
No último dia 31 de março, Sérgio Serafini, diretor da Popolare, participou
do Workshop Genebra 2003 e a Democratização do Rádio no Brasil,
promovido pela OBORÉ, pelo Departamento de Jornalismo da ECA/USP e pela própria
Rádio Populare. Na ocasião, ele lembrou o início da trajetória da emissora: "Em
1975, na Itália, estava em vigor uma lei que entregava ao Estado Italiano o
monopólio de rádio e televisão. Vencido o prazo, a lei não foi prorrogada nem
substituída por outra". Nesse vazio legislativo, nasceram milhares de rádios e
televisões particulares, entre elas a Rádio Popolare dois anos mais tarde. "Para
se criar uma rádio ou televisão era suficiente ligar um transmissor com a
primeira freqüência que não fosse já ocupada. Cada um queria ter a sua. Nasceram
e morreram centenas de emissoras democráticas e de esquerda, como também nasceu
e se desenvolveu o poder da televisão de Berlusconi." (Veja a história na
íntegra no http://www.obore.com/workshop/serafini.asp).
A Rádio Popolare integra também a Popolare Network, uma rede de 23
emissoras conectadas via satélite. Dentre elas, a delegação brasileira
passa também pela Radio Flash, em Torino; Radio Base, em Veneza; Radio Citta del
Capo, em Bologna; e pela Controradio, em Firenze. Aguarde as novidades da volta
da equipe, no próximo dia 2.
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