Cerca de 240 mil latino-americanos que vivem em São
Paulo de forma irregular não terão mais problemas de acesso aos serviços
públicos de saúde municipais na zona central da cidade. Esta decisão foi tomada
na reunião que aconteceu ontem, dia 17/03, na sede do Distrito de Saúde da
Sub-Prefeitura da Sé. Estiveram presentes o responsável pela Pastoral do
Imigrante, Padre Roque Patucci , o coordenador da Casa do Imigrante, Juan Plaza,
e a equipe formada por médicos, enfermeiros e assistentes sociais, responsáveis
pelas ações de combate a tuberculose desenvolvidas neste Distrito de
Saúde.
Estes imigrantes são contratados em seus países de
origem e trazidos para o Brasil de forma clandestina para trabalhar em pequenas
oficinas de costura irregulares, produzindo roupas que serão vendidas depois em
lojas do comércio popular nos bairros do Bom Retiro, Brás e Pari.
Segundo o Padre Roque, essas pessoas trabalham e
dormem no mesmo local e são submetidas a um regime de trabalho de 14 a16 horas,
na maioria das vezes, em ambientes inadequados e com pouca ventilação. Essa é a
combinação ideal para o surgimento de graves doenças, sendo a mais comum a
tuberculose.
Como não possuem papéis de identificação brasileiros
e sem condições de comprovar residência ( documentos solicitados pelos serviços
de saúde ), esses latino-americanos quando adoecem não procuram o atendimento
público por medo de serem denunciados à Polícia Federal e deportados.
Para evitar que esse grupo se transforme num foco de
disseminação da tuberculose, ficou acertado que será realizado um trabalho
coordenado entre todos os Distritos de Saúde, que abrangem os principais pontos
de concentração desses imigrantes ( Sé, Cachoeirinha, Vila Brasilândia, Lapa,
Mooca, Vila Formosa, Vila Maria e Freguesia do Ó) para que os postos de saúde
não solicitem desses imigrantes a apresentação dos papéis de identificação. "A
atenção à saúde é mais importante que um ou dois documentos", afirma o
coordenador do serviço de tuberculose no Distrito da Sé, Dr. Valdecir Cícero de
Souza.
Outro resultado da reunião é que o Distrito de Saúde
da Sé se encarregará de produzir material informativo sobre a doença com a
indicação de onde buscar atendimento. À Pastoral do Imigrante caberá traduzir as
informações para o espanhol, quechua, guarani e aimara. O objetivo da Pastoral é
que esse tipo de ação se estenda ao atendimento às mulheres grávidas, outra
grande dificuldade nessa população de "indocumentados".