Representantes da comunidade latino-americana
em São Paulo estiveram reunidos na OBORÉ, no último sábado, para falar sobre
a situação dos cerca de 200 mil imigrantes sul-americanos que vivem na cidade
e buscar apoio para que essas pessoas possam se integrar à sociedade já que a
maioria, por falta da documentação legal, se esconde na clandestinidade.
Segundo estimativa da Associação Cultural
Bolívia-Brasil – BOLBRA – existem de 80 a 100 mil bolivianos espalhados na
cidade. Para agregar o povo boliviano que mora em São Paulo, a BOLBRA manteve
por alguns dias um programa numa rádio comunitária, lacrada recentemente pela
Polícia Federal.
Sem documentos e sem voz, a comunidade,
principalmente boliviana, cuja força de trabalho se concentra na indústria de
confecção de roupas, se submete a trabalhar em condições precárias nas fábricas
da região do Brás e Bom Retiro.
Os diretores da BOLBRA, Hugo Diaz e Gladys
Diaz, preocupados com a dificuldade de contato com seus conterrâneos, afirmam
ser fundamental um programa de rádio voltado à comunidade de língua espanhola.
"Precisamos nos comunicar com nossa gente para que as pessoas se sintam com
apoio e não precisem se esconder e, ao mesmo tempo, deixar claro para as
autoridades brasileiras que o povo boliviano não tem nada a esconder, pelo
contrário, quer trabalhar livremente e viver como verdadeiros cidadãos", diz
Gladys.
Também foram convidadas para a reunião as
entidades da Vila Buarque (Biblioteca Monteiro Lobato, Igreja da Consolação,
Sindicato dos Jornalistas, Condomínio Edifício Copan), além da Faculdade de
Saúde Pública/USP e Rádio Heliópolis, que propuseram o anteprojeto da lei 145/01
que dota o poder local de meios para regulamentar o funcionamento de rádios
comunitárias em São Paulo. Essa lei é de autoria dos vereadores Carlos Néder
(PT) e Ricardo Montoro (PSDB).
Sem vacina - O medo
de se mostrar só complica a situação. Sem vacinação adequada, os imigrantes
colocam em risco sua saúde e a da comunidade onde se estabelecem. Segundo
Mariângela Camargo Mesquita, representante do Distrito de Saúde da Sé, o
Programa de Saúde da Família (PSF), que visita as famílias em suas próprias
casas, tem encontrado dificuldades no atendimento à população latina.
"Acho que a reunião foi muito importante
para se estabelecer contato com essas pessoas e entender melhor o que fazer para
ajudá-las. Feitos os contatos, agora é ver de que forma aproximá-las do PSF que
não faz nenhum tipo de distinção, todos são atendidos sem nenhuma exigência
quanto a documentação".
Representando o vereador Ricardo
Montoro, Ivan Rabelo colocou o gabinete do vereador à disposição dos latino-americanos
"para ajudar no que for possível". "Mais uma vez está provada a importância do
projeto de lei 145 e é fundamental que as pessoas se unam e, através de
abaixo-assinado, fortaleçam o projeto na hora da votação".
Participaram ainda da reunião,
Alejandro Santander, do Partido Socialista do Chile, e o jornalista Patricio de la
Barra, representando os cerca de 40 mil chilenos que vivem no
Brasil, além de Juan Plaza, coordenador da Pastoral Latino-Americana. Eles
foram unânimes ao avaliar a reunião como "positiva e necessária" para a integração
desses imigrantes que vivem em São Paulo e se comprometeram a apoiar e acompanhar de
perto a votação do PL 145/01.
Assim como os dirigentes da BOLBRA, eles
acreditam que para o contato com suas comunidades, o melhor e mais eficaz meio
de comunicação é o rádio. A idéia é que, a partir de agora, os encontros se dêem
periodicamente. Foram estabelecidas as seguintes prioridades imediatas: obter
espaço numa rádio comercial para um programa voltado para "dar voz aos que não
têm papéis" e abaixo-assinado de apoio ao PL 145/01.
As apresentadoras da Rádio Heliópolis,
Maria Aparecida Lourenço e Ermelinda Quirino, falaram de seus trabalhos na
emissora comunitária há cinco anos funcionando na maior favela de São Paulo e
fizeram convite aos presentes para uma visita a rádio. Em nome da Biblioteca
Monteiro Lobato, William Okubo ofereceu o auditório da biblioteca para eventuais
reuniões. Também participou da reunião, o médico Mário Mendes, da Delegacia
Regional do Trabalho/SP.