22/09/2018
Da esquerda para a direita: A jornalista Rose Nogueira, o vereador Eliseu Gabriel, a espos ado cronista Geisa Diaféria e o diretor da OBORÉ Sergio Gomes. Foto: Ruam Oliveira
A cidade de São Paulo foi observada e descrita pelas crônicas de Lourenço Diaféria desde que iniciou sua carreira no jornalismo. Sua relação com a cidade, principalmente com o Brás, bairro onde cresceu, foi relembrada durante homenagem na sala Sergio Vieira de Melo, da Câmara Municipal de São Paulo por amigos e conhecidos.
Aos 10 anos completos de seu falecimento, a homenagem vem como forma de manter viva a memória do cronista, não apenas de tudo o que escreveu, como da pessoa que era.
Sua esposa, Geisa Diaféria, deu início às leituras com um achado pessoal. Encontrou, no último livro lido pelo cronista, um currículo, escrito por ele mesmo. O “Currículo de Lourenço Carlos Diaféria” fez passagens sobre os tempos de estudante de Diaféria, os cursos de graduação que começou - e não terminou. Cursou dois anos de jornalismo na faculdade Cásper Líbero e desistiu. Chegou a participar da primeira turma de jornalismo da ECA-USP, mas abandonou seis meses depois. Exercia, no entanto, a profissão de jornalista na Folha da Manhã, atual Folha de S. Paulo.
Encabeçada pelo gabinete do vereador Eliseu Gabriel, também presente na homenagem, a reunião contou com a participação da jornalista Rose Nogueira, que trabalhou com Diaféria em seus primeiros anos como repórter. “Eu gostava de conversar com ele, porque ele era um cronista da humanidade”, disse. O assunto preferido deles, porém, era o Corinthians, time do coração de ambos. Ela o considera ao mesmo tempo objetivo e subjetivo, pelo teor do que escrevia.
Ponto de vista
“O Lourenço me ensinou muita coisa, uma delas é que amizades são gestos”, disse Sergio Gomes, jornalista e diretor da OBORÉ, amigo de Diaféria. Gomes fez então duas reivindicações: a primeira delas é que, num gesto de amizade e respeito, o nome do cronista fosse colocado em alguma praça ou rua da cidade. A segunda se trata de trabalhar para que os textos de Diaféria sejam digitalizados e fiquem disponíveis para o maior número de pessoas. “É preciso que as novas gerações tenham acesso à obra inteira do Lourenço”, disse.
Outra coisa que aprendeu com Diaféria foi que, “dependendo de onde a pessoa está, ela consegue antever o que vai acontecer”. Ele falava a respeito de quando, em um passeio, Diaferia - “obcecado com a teoria da relatividade” - o convidou a observar um cruzamento em que havia a possibilidade de colisão entre dois veículos se observados de uma certa altura. Tudo isso reforça a objetividade subjetiva descrita por Rose Nogueira. “Quem tem visão política, visão do conjunto, sabe das coisas antes que elas aconteçam (...)”.
A crônica “Herói. Morto. Nós”, uma das mais conhecidas do homenageado é que lhe resultou num processo e prisão, foi a primeira a ser lida.
Margarida Genevois, companheira de luta na defesa dos direitos humanos ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns contou que decidiu levar flores a Diaferia em razão da sua prisão. No dia em que conseguiu ir até a prisão, o cronista já havia sido liberado. As flores foram entregues esta noite às mãos de Geisa.
O compromisso em continuar na tentativa de dar o nome de Diaféria a uma rua ou praça foi reforçado pelo vereador Gabriel, com apoio dos presentes.
Lourenço Diaféria faleceu no dia 16 de setembro de 2008, aos 75 anos, vítima de um infarto.
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