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  "Meu patrimônio é a minha história"
Audálio Dantas
  01/06/2018

Discurso de recebimento do Prêmio Averroes
(Audálio Dantas – Hospital Premier,  09 de dezembro de 2017).
 

Audálio Dantas e sua esposa Vanira Kunc durante cerimônia de entrega do Prêmio Averroes. Foto: Sérgio Silva

Ao conceber como obra de arte o Troféu Averroes, a bela peça que acabo de receber, o artista plástico Jaime Prades decidiu fugir da ideia de alguma coisa exuberante, brilhante como em geral são os troféus.

Concentrou-se no fato de que o prêmio é destinado a personalidades que “têm como patrimônio a sua história, sua própria vida”.

É nessa condição que me encontro plenamente.

Meu patrimônio é a minha história, meu único cabedal.

O artista diz por que escolheu o material para a execução do troféu: aço oxidado, material que representa simbolicamente a própria efemeridade das coisas.

O artista sintetiza aí a concepção de seu trabalho.

E aí se encontra com o ponto central da medicina paliativa, que é o de que, além da busca da cura, está o dever de cuidar. Principalmente nos casos do tratamento das pessoas que se aproximam do fim da vida.

A medicina paliativa baseia-se na concepção de que  cuidar é mais do que curar. Nesse sentido, cresce no Brasil um movimento que tem como ponto de partida a organização que reúne especialistas de vários ramos da Medicina.  O Hospital Premier, voltado exclusivamente para os cuidados paliativos, é  motor desse movimento, do qual participam, entre outros, os médicos  Maria Goretti Maciel (Hospital do Servidor Público Estadual –SP), Kleber Lincoln Gomes (Faculdade de Medicina de Itajubá, MG.), Dalva Matsumoto (Hospital do Servidor Público Municipal – SP), Ricardo Tavares (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), Angélica Yamaguchi (Hospital Premier).

O prêmio que ora recebo foi instituído por Samir Salman, diretor do Hospital Premier, e pelo jornalista Sérgio Gomes da Silva, da Oboré Comunicação, curador.

A escolha do nome de Averroes, sugerida pelo escritor José Luiz Del Roio, teve aprovação de participantes do movimento paliativista de todo o Brasil.

Esse nome, para muitos estranho – Abul Walid Muhammad  Ibn Rushd – Averroes, foi o de um sábio que iluminou a história de seu tempo – o século XII – no imenso território da Ibéria Muçulmana, chamado Al- Andalus.

O florescimento cultural e científico de Al-Andalus iluminou a Europa medieval. Nascido na cidade Córdova, em 1126, Averroes foi médico, filósofo, músico, jurista. Estudou e escreveu sobre todas as ciências e a filosofia de seu tempo. Foi o responsável pela redescoberta e divulgação do pensamento filosófico dos antigos gregos, notadamente o de Aristóteles. Enquanto as sombras da intolerância caíam pesadamente sobre a Europa, Averroes contribuía para a convivência, a tolerância que juntava árabes, cristãos e judeus.
Sua cidade, Córdova, assistia a um extraordinário desenvolvimento cultural e científico. A Biblioteca de Al Hakam lá abrigava 400 mil volumes.

Imaginem os que agora assistem a essa cerimônia.

Para mim, trabalhador da palavra, seja como jornalista, seja como escritor – nada além isso –  este momento toca o mais fundo da minha emoção.

Ele me leva de volta ao humilde povoado de Tanque d`Arca, encolhido num pé de serra do agreste de Alagoas, cuja única riqueza era a beleza da paisagem. Ali não havia, como não há ainda hoje, uma biblioteca pública; poucos eram os livros que circulavam, alguns deles pelas mãos generosas da professora Dulce Gomes, da única escola do lugar, que os repassava para os alunos mais interessados, aqueles que conseguiam vencer a escuridão da ignorância.

O tempo escuro da Idade Média até ali se prolongara.

Mas hoje, aqui sobrevivente, tento conter a emoção de receber este prêmio que traz o nome de um sábio.

Quero agradecer a todos aqueles que aqui vieram – família, amigos – e  às instituições que dão o seu apoio a este evento. São dezenas delas.

Por fim, faço questão de mencionar os que me antecederam ao serem honrados com o Prêmio Averroes. São todos professores, pessoas de alto conhecimento, cuja companhia muito me honra:

Marco Túlio de Assis Figueiredo, Ausônia Donato, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Ecléa Bosi (in memoriam), José Eduardo de Siqueira, Leonardo Boff e, de modo muito especial, o professor Manuel Carlos Chaparro, de quem não fui aluno, mas com quem muito aprendi e continuo a aprender.

Finalmente, é preciso lembrar: o Brasil vive, hoje, um tempo de violência cujas sombras descem pesadamente sobre as liberdades públicas. Descem sobre os museus, os teatros, as escolas, os sindicatos, os tribunais, as universidades. Com elas estão chegando, a pisar forte com suas botas, dezenas de agentes armados, alguns mascarados, para arrancar dos campi, sem qualquer aviso, reitores e professores.

É um tempo que lembra a Idade Média. Mas naquele tempo viveu um ser iluminado como Averroes. Que nele nos inspiremos para barrar a marcha fascista em nosso país.  

 
 
 
   
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