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22/05/2018
Jornalismo é profissão esquisita. Já nos anos de faculdade, quando o pé ainda não lhe foi posto, pensamos diariamente em deixá-la, que a escolha foi errada, que publicidade, direito ou história teriam sido melhores. Mas insistimos. Tem um não-sei-que dentro da gente que gruda e prende nessa que nem profissão direito é. Não pelo diploma ausente ou pela precariedade dos contratos. Pela incapacidade de vivê-la em horário comercial. Não se bate cartão, não se tira como roupa usada. Fica impregnada em alguma fenda subcutânea. Nos acompanha na precariedade do transporte, na irregularidade da calçada, no detalhe do imposto na conta do bar, na crase errada no cartaz da farmácia, no fardado que sai da cartilha, na mentira do engravatado ao lado... Não dá descanso. Faz a gente ver as coisas como os outros não vêem. Não melhor, nem pior. Diferente. E sem parar. Alguém já a chamou de sacerdócio, mas este se abraça por opção. Aquela é imposição de um ter de ir além, de um precisar saber, de um viver pra contar. Verbos tão vitais quanto respirar.
Há gente de todo tipo que sofre desse mal. Duas coisas tem em comum: são todos trabalhadores e devem todos buscar a excelência nos cânones nem sempre escritos do método jornalístico. Poucos são os jornalistas que têm alma de professor, ou os professores que têm a sina do jornalismo. Alberto Dines tinha. Por isso escolheu fazer parte do Conselho do Projeto Repórter do Futuro, da OBORÉ, que complementa os cursos de graduação na formação de jovens jornalistas. Sempre posicionado ao lado da história, dos fatos e de quem é afetado por eles. Nos anos de chumbo, por exemplo, soube manter a dignidade do Jornal do Brasil e quando não pôde mais, se mandou, não sem antes chutar em editorial o lambebotismo dos donos. Viveu para defender a excelência na prática jornalística. Uma lição que muitos aprenderam e outros ainda vão aprender. Da profissão esquisita, ele dizia: "Eu acho que jornalismo é pulsação, jornalismo é inspiração, jornalismo é ciência também, porque você tem que se preparar para fazer bem, é preciso praticá-lo como ciência, mas também é preciso fazê-lo como artista."
A ele a homenagem da Coordenação e dos alunos do Projeto Repórter do Futuro.
Imagem: Labjor/Unicamp
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