28/11/2002
Os fotógrafos brasileiros Vinícius
Souza e Maria Eugênia Sá foram os convidados para a úlitma palestra/entrevista
exclusiva do II Curso de Informação Sobre Jornalismo em Situações de Conflito
Armado, promovido pela OBORÉ Projetos Especiais e pelo CICV (Comitê
Internacional da Cruz Vermelha), como mais um módulo do Projeto Repórter do
Futuro. Recém chegados ao Brasil, os fotógrafos fizeram uma exposição prévia dop
material que será mostrado no Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal, no
Centro de São Paulo, entre os dias 12 de dezembro e 24 de
janeiro.
Vinícius e Maria Eugênia falaram aos estudantes que frequentam o
Curso sobre como acessar fontes e locais numa situação de pós-conflito, como é o
caso de Angola, onde estiveram em sua última viagem.
Íntegra do texto
entregue pelos fotórgrafos aos estudantes - "Não acreditamos que exista uma
“receita de bolo” para se ter acesso a fontes e locais tanto durante, como após
os conflitos armados. Mas algumas dicas podem ser importantes para os
interessados:
Antes de tudo, nunca imagine que você sabe pelo que as
pessoas estão passando. É fundamental ter o máximo de informações sobre o
conflito, as partes, o povo, a cultura e a língua. Mas você sempre será um
estrangeiro com idéias pré-concebidas. Tenha humildade e respeito.
Seja
tanto quanto possível “amigo” da burocracia. Autorizações e credenciais podem
não salvar a sua pele em momentos críticos, mas certamente o livrarão de
pequenas discussões potencialmente perigosas para o seu trabalho, ou mesmo para
sua segurança. Tenha tantas quanto puder. Avise também entidades no Brasil e
internacionais das suas atividades. Vale a pena ainda se registrar na embaixada
brasileira no país.
Converse com pessoas que conhecem a região antes de
ir e prepare-se bem quanto a vacinas e medicamentos. Às vezes você não terá como
recusar a alimentação oferecida, mas tome todo o cuidado pelo menos com a água.
Se possível, opte sempre por água mineral engarrafada, se não, tente ferve-la ou
ao menos pingue discretamente algumas gotas de cloro.
Sindicatos,
embaixadas e centros de imprensa podem ser locais interessantes para fontes.
Entidades internacionais de assistência humanitária também, assim como igrejas.
No seu próprio país, antes da viagem, tente fazer contatos ao menos para ser
recebido no aeroporto e encaminhado para um local em que possa começar a se
adaptar à realidade do país. Dê preferência por entidades neutras, para não se
associar logo de cara a um dos lados do conflito.
Se estiver acompanhando
o trabalho de alguma entidade como o CICV, observe rigorosamente as normas de
segurança estipuladas. Elas existem por um bom motivo. Talvez o ângulo não seja
o mais perfeito para a foto que você quer, mas continuar com as duas pernas pode
ser uma vantagem no futuro…
Fale pouco e ouça muito. Boa parte das
pessoas terá uma história para contar e serão mais interessantes para o seu
trabalho do que contar suas próprias histórias de viagens pelo mundo. Opiniões
fechadas sobre um conflito recente também são perigosas. Todo mundo teve um lado
no conflito e nem sempre você saberá de que lado seu interlocutor
estava.
Da mesma forma, garantia de sigilo da fonte é uma regra básica. O
conflito armado pode ter acabado, mas os interesses e ressentimentos ainda estão
presentes. Você certamente não irá querer colocar seu anfitrião, que lhe deu
comida, transporte e abrigo, numa situação complicada, irá?
Não prometa o
que não poderá cumprir. A quebra de confiança é bastante perigosa. Muita gente
vai lhe pedir todo tipo de coisa, mas entenderão mais facilmente que você é
apenas um fotógrafo de poucos recursos do que se você prometer que enviará as
fotos, que conhece o presidente, que tem acesso à TV e rádio e que vai mudar
suas vidas se o ajudarem.
“Prudência e caldo de galinha não fazem mal a
ninguém”. Bom, pelo menos a prudência certamente não faz. Apesar dos seus sonhos
juvenis, o repórter não é um semi-deus intocável. Ao contrário, pode sempre ser
um alvo possivelmente interessante. Ninguém vai sair na mídia mundial por
sequestrar um camponês faminto. Mas um correspondente internacional, bem…"
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