Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024 Pesquisa no site
 
A OBORÉ
  Abertura
  Histórico
  Missão
  Frentes de Trabalho
  Parceiros
  Prêmios
  Fale Conosco
  Galeria de Fotos
Núcleo de Rádio
Núcleo de Cursos
Núcleo de Gestão da Informação
Notícias
Atividades Especiais
  Junho expôs exigências de maior participação e soluções rápidas, afirma cientista político

  07/04/2014



Na quinta palestra/conferência de imprensa do 7º Curso Descobrir São Paulo - Descobrir-se Repórter, o cientista político Marco Aurélio Nogueira debateu com os estudantes o tema Participação Cidadã. As manifestações de junho de 2013, que colocaram na agenda política do país o debate público sobre as insuficiências da democracia representativa, abriram a fala de Nogueira. Segundo avalia, a participação de centenas milhares de pessoas de manifestantes não organizados nas ruas representou uma explosão coletiva de angústia.

 

Marco Aurélio acredita que essa angústia reflete o ritmo de vida das pessoas. "O celular traduz o estilo de vida atual. Estamos conectados o tempo todo. Por meio dele nos informamos sobre o que acontece em todos os níveis, desde o plano pessoal ao social. Isso cria, ao mesmo tempo, cidadãos informados como em nenhuma outra época e uma grande ansiedade de visibilidade. O Facebook se tornou o paradigma de nossa visibilidade na sociedade. Hoje, o desejo de protagonismo individual exerce uma pressão violenta sobre todos. E esse padrão exposição é entendido como uma forma de cidadania", disse.

 

Bacharel em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1972) e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1983) com pós-doutorado na Universidade de Roma, Itália (1984-1985) e livre-docente e professor titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marco Aurélio Nogueira é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos-Ufscar e colunista do jornal O Estado de S Paulo. Tem experiência na área de Ciência Política e de Gestão Pública, trabalhando principalmente com os temas: teoria política, reforma do Estado, democracia, sociedade civil, globalização, modernidade e integração latino-americana. Atualmente é professor titular da UNESP, professor do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp/PUC-SP/Unicamp) e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais-IPPRI da Unesp.

 

Para o cientista político, a ocorrência dos rolezinhos em 2014 está diretamente ligada às manifestações de junho. "Numa sociedade em que padrão de consumo é porta de entrada para a aceitação social, consumidor e cidadão se confundem. Se o shopping center é o templo dos sonhos, esse é o lugar a que os jovens querem ter acesso."

 

O imediatismo é outra característica comportamental que passou a exercer influência na postura política. "Em um tempo em que a velocidade da transmissão de informação e de acesso aos acontecimentos do mundo inteiro criam uma sensação de que tudo é frenético, a juventude não tem paciência para esperar por soluções de longo prazo. Quer soluções instantâneas", afirmou.

 

Nogueira acredita que esses dois fatores ajudam a entender porque as formas de organização política tradicionais foram atropeladas pelo vigor das manifestações. "Nem os partidos, nem os sindicatos, nem as organizações sociais conseguiram prever – e muito menos liderar – os protestos."

 

O que começou com demonstrações na rua contra o aumento das tarifas dos transportes – ônibus e metrô –, ganhou outro rumo depois da repressão violenta da polícia militar contra os manifestantes e, em particular, contra os jornalistas e fotógrafos que cobriam os protestos. "A resposta à violência policial, como afirmação da democracia e do direito de manifestação, ampliou a agenda das manifestações. Rapidamente, se escutaram palavras de ordem protestando contra tudo e contra todos. Mas o recado mais claro foi dado aos poderes Executivo, Legislativo e organizações sociais: "não nos representam" virou um mantra repetido nas ruas".

 

Regulação da mídia

 

Para Marco Aurélio, o caráter espontâneo das manifestações – convocadas essencialmente por meio das redes sociais dos indivíduos e não de organizações – determinou também o seu esvaziamento. "Os meios de comunicação amplificaram a voz das ruas e alimentaram os protestos. Mas a falta de uma agenda concreta de reivindicações e de interlocutores para participar de negociações fez o movimento refluir."

 

Nogueira comentou, ainda, a postura violenta de muitos manifestantes. "Não falo especificamente dos black blocs, que constituem uma proposta estética de recusa ao status quo e aos símbolos do poder. Mas é inegável que o uso de máscaras por manifestantes em um país como o Brasil, em que se lutou tanto pelo direito de mostrar o rosto, lança dúvidas sobre a adequação dessa estratégia. Ainda mais porque a não identificação do manifestante facilita a infiltração de provocadores interessados em promover a desordem como forma de justifica a repressão."

 

Autor do livro As ruas e a democracia, lançado no fim de 2013, Marco Aurélio Nogueira acredita que as manifestações de junho lançaram um desafio aos poderes constituídos, aos partidos e aos represnetantes da sociedade civil. "A sociedade brasileira, ao contrário do muitos acreditavam, não é passiva. Ela se movimenta e marca homem a homem os políticos. E gira em torno da mídia, entendida não somente como a mídia tradicional e sim o conjunto de manifestações que se expressam utilizando as ferramentas de comunicação modernas – em especial as redes sociais. Por isso mesmo a disputa em torno da regulação da mídia é um tema que enfrenta tantas resistências. Mas o Brasil precisa enfrentar esse debate se quiser fortalecer e aprofundar a nossa democracia."

 

Entrevista com Marco Aurelio Nogueira sobre o livro As Ruas e a democracia, Fundação Astrojildo Pereira.

 

 

Sobre este tema, veja também

 

Assista, no vídeo abaixo, a reportagem sobre a Roda de Conversa "Reportagem nas manifestações de São Paulo", realizada no Centro de Imprensa/Redação-Escola da OBORÉ em 2 de julho de 2013 e coordenada pelo jornalista João Paulo Charleaux, da ONG Conectas e coordenador do módulo Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, do Projeto Repórter do Futuro – realizado em parceria pela Conectas, OBORÉ Projetos Especiais e Abraji - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

 

Assista a íntegra da Roda de Conversa, clicando aqui.

 

Ouça o áudio da íntegra da Roda de Conversa, clicando aqui.

 

Sobre o curso

 

O curso, de complementacão universitária em jornalismo e gratuito, é realizado em parceria pela Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, OBORÉ Projetos Especiais e Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Conta com o apoio do SINPRO/SP – Sindicato dos Professores de São Paulo, Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Cátedra UNESCO de Comunicação, Hospital Premier/MAIS – Modelo de Atenção Integral à Saúde, NH Photos/Nivaldo Silva, IPFD – Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais, e da coordenação dos principais cursos de Jornalismo de São Paulo, além das revistas Samuel, Brasil Atual, Caros Amigos, Fórum, Imprensa, Le Monde Diplomatique Brasil, Piauí e do blog O Xis da Questão – Mídia, Jornalismo e Atualidade, do Prof. Manuel Carlos Chaparro.

 
 
 
   
  » Indique essa página a um amigo
 
 
 
Avenida Paulista, 2300 | Andar Pilotis | Edifício São Luis Gonzaga | 01310-300
São Paulo | SP | Brasil | 55 11 2847.4567 | (11) 99320.0068 |
obore@obore.com

Desenvolvimento

KBR Tec - Soluções Online