Praça e Memorial Vladimir Herzog é inaugurada em homenagem às vítimas da ditadura Texto e fotos: João Paulo Brito
28/10/2013
O artista Elifas Andreato e as crianças do Projeto Âncora em frente ao mosaico elaborado a partir do quadro "25 de outubro", de 1981.
Nesta sexta-feira (25), a Câmara Municipal de São Paulo inaugurou a Praça e Memorial Vladimir Herzog, localizada na Rua Santo Antonio, frente à Praça da Bandeira, que também recebeu um mosaico de 6 metros, elaborado pelo Projeto Âncora, reproduzindo o quadro “25 de outubro”, do artista plástico Elifas Andreato.
O local leva o nome do jornalista, assassinado por tortura nas dependências do DOI-Codi, em homenagem aos 38 anos de sua morte e também para lembrar todos os mortos e desaparecidos durante o período da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).
“A sociedade brasileira começou a reagir contra a ditadura a partir da morte de Vlado”, afirmou Audálio Dantas, que em outubro de 1975 ocupava a cadeira de presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, responsável por acusar o regime militar pelo assassinato do jornalista, desmentindo a falsa alegação de suicídio declarada pelo governo.
“Existe um entendimento de que a democracia começou a ser construída a partir do dia 31 de outubro, do ato ecumênico na Praça da Sé, que completa 38 anos na próxima semana”, completou Ivo Herzog, filho de Vlado e presidente do Instituto fundado em 2009 que leva o nome do seu pai.
A cerimônia contou com a presença de amigos que viveram o período ao lado de Vlado, como Paulo Markum, Fátima Pacheco Jordão, Nemércio Nogueira e Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e um dos principais responsáveis pela realização da inauguração.
Em Nome da Verdade
Assim como Audálio Dantas, outros ex-presidentes do Sindicato dos Jornalistas, como Zé Hamilton Ribeiro, Lú Fernandes, Antonio Carlos Fon, Everaldo Gouveia, e Frederico Ghedini, além do jornalista que ocupa a cadeira atualmente, José Augusto Camargo (Guto), compareceram para prestar homenagem.
Guto fez a leitura do documento histórico “Em Nome da Verdade”, publicado em janeiro de 1976 e assinado por 1004 jornalistas de diversas partes do Brasil. O texto foi o primeiro manifesto público feito por jornalistas que questionava as torturas e contestava as conclusões do Inquérito da Polícia Militar alegando o suicídio de Vladimir Herzog.
Legislativo paulistano
A cerimônia foi conduzida por José Américo (PT), presidente da Câmara Municipal, que também esteve representada pelos vereadores Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão Municipal da Verdade, que também leva o nome “Vladimir Herzog”, Police Neto (PSD) e Floriano Pesaro (PSDB).
O ex-vereador Ítalo Cardoso, autor do projeto original da Praça quando presidente da Comissão da Verdade, participou da cerimônia e sugeriu a José Américo que toda excursão que a partir de agora for realizada nas dependências do Palácio Anchieta (prédio da Câmara) passe também pela Praça.
Em nome da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, apenas o presidente Adriano Diogo (PT) compareceu.
Praça e Memorial Vladimir Herzog
No projeto original, o local receberá, além do mosaico, uma estátua de bronze, com cerca de 2m de altura, e uma réplica do troféu entregue aos vencedores do Prêmio de Jornalismo Vladimir Herzog (evento criado pelo Comitê Brasileiro de Anistia (CBA) de Minas Gerais para denunciar a repressão dos tempos militares).
A estátua do jornalista será uma reprodução da imagem “Vlado Vitorioso”, criada por Andreato para a ONU em 2008, em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A réplica do troféu entregue aos vencedores do ‘Prêmio de Jornalismo Vladimir Herzog’ homenageia o jornalista, com a missão de contribuir para a reflexão e produção de informações que garantam o direito à vida e à justiça.
25 de outubro
A escolha da data para a inauguração e do quadro para ilustrar o mosaico estão relacionados ao 25 de outubro de 1975, dia em que o jornalista foi convocado à sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações e Centro de Defesa), e, na tarde deste mesmo dia, foi encontrado morto.
Até março deste ano, a versão oficial alegava que Vlado teria se enforcado com o próprio cinto do seu macacão de presidiário. Porém, após vitória judicial da família Herzog, o Estado reconheceu e apresentou novo atestado de óbito confessando o assassinato do jornalista sob tortura.
Quem foi Herzog?
Vladimir Herzog nasceu em 1937, na Iugoslávia e imigrou para o Brasil em 1942, fugido do nazismo na Europa. Estudou Filosofia na USP, mas foi no jornalismo que encontrou a sua verdadeira paixão. Em 1959 atuou pela primeira vez na área da comunicação, na Folha de S. Paulo, e desde então atuou em inúmeros veículos de informação, entre eles, O Estado de S. Paulo e na BBC de Londres (época em que morou na Inglaterra com a sua esposa Clarice).
Continuou na área da comunicação trabalhando como redator do telejornal diário “Show de Notícias", da antiga TV Excelsior, e depois editor de cultura na revista Visão e diretor do departamento de Telejornalismo na TV Cultura. Também trabalhou como teatrólogo e professor universitário, dando aulas na FAAP e na ECA-USP.
Além da sua paixão pelo jornalismo, Herzog tinha grande interesse pela área cinematográfica, inclusive dirigiu o curta metragem ‘Marimbás’ em 1963. O curta conta a história de um grupo que sobrevivia da pesca no Posto 6, em Copacabana (RJ). O jornalista mostra no filme a grande preocupação que tinha com a sociedade. ‘Marimbás’ foi um dos primeiros documentários nacionais feitos com som direto.
‘Vlado’ tinha 38 anos quando morreu, era casado e pai de dois filhos. Se estivesse vivo, atualmente teria 75 anos.