Cerimônia do 35º Prêmio Vladimir Herzog é marcada por homenagens e denúncias de violações aos direitos humanos Texto e fotos: João Paulo Brito
23/10/2013
Na mais bela cerimônia de premiação nos últimos anos do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, a celebração de sua 35ª edição, realizada na noite desta terça (22), no Auditório Simón Bolívar, do Memorial da América Latina, foi marcada por merecidas homenagens e denúncias de violações aos direitos humanos, principalmente contra jornalistas.
Três grandes nomes da imprensa brasileira foram agraciados com o Prêmio Especial: Perseu Abramo (in memoriam), Marco Antônio Tavares Coelho e Raimundo Rodrigues Pereira.
Raimundo, que recebeu o prêmio das mãos de André Freire, diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que substituiu o ministro dos esportes, Aldo Rebelo, aproveitou seu discurso para criticar a grande mídia “hegemônica” e “conservadora”, e afirmar que para se fazer bom jornalismo atualmente é preciso enfrentar a “ditadura do grande capital”.
Aos 87 anos, Marco Antônio Tavares Coelho recebeu pessoalmente o troféu de seu filho, Marco Antônio Tavares Coelho Filho. Zilah Abramo, esposa de Perseu, fez as honras em nome da família.
Com a apresentação de Juca Kfouri, da Folha de S.Paulo, UOL, CBN e ESPN, e Mônica Teixeira, da Abraji, o Prêmio também prestou homenagem a Antônio Maschio, agitador cultural, ator, chef e artista plástico, que morreu, nesta segunda (21), por pneumonia. Maschio estava com 66 anos.
Por sugestão de Juca, ao invés de se fazer 1 minuto de silêncio, a plateia, composta por cerca de 800 pessoas, aplaudiu o ator de pé, por 30 segundos.
Entrega dos prêmios
Com exceção de Marcelo Canellas e sua equipe da TV Globo, menção honrosa na categoria “TV Reportagem”, todos os jornalistas vencedores nas 9 categorias (artes, fotografia, jornal, revista, rádio, TV reportagem, TV documentário, internet e especial, cujo tema deste ano foi “Violências e agressões físicas e morais contra jornalistas e contra o direito à informação”), estiveram presentes para receber o prêmio.
Destaque para Marilu Cabañas, repórter especial da Rádio Brasil Atual, que recebeu o troféu das mãos de uma líder indígena do povo Guarani-Kaiowá.
Premiada na categoria “Rádio”, com a reportagem “Voz Guarani-Kaiowá”, a jornalista proferiu seu discurso em língua Guarani, enquanto a índia o traduzia para o português.
Em emocionado apelo à situação vivida pelo povo Guarani-Kaiowá, a repórter finalizou: “Desejo que a presidente Dilma Roussef, parlamentares e juízes sejam firmes na defesa dos direitos indígenas consagrados na Constituição brasileira e não se curvem aos ruralistas, se isso não ocorrer este prêmio não fará o menor sentido.”
A repórter do Portal UOL Janaina Garcia ofereceu a congratulação recebida na categoria "Especial" pela matéria “Existe terror em SP: o dia em que PMs atiraram ante aplausos e pedido de não violência ”, a todos os jornalistas brasileiros agredidos pela polícia e por manifestantes.
Autor da reportagem vencedora na categoria “Revista”, “O primeiro voo do Condor”, publicada na Brasileiros, Wagner William enfatizou o papel protagonista do Brasil na Operação Condor, fato revelado em sua reportagem: “a união das ditaduras militares do conesul não ocorreu no Chile em 1975. Essa operação foi criada no Brasil, em 1970”.
Mateus Parreiras, que integrou a equipe do jornal Estado de Minas que produziu a reportagem “Jornalistas assassinados no Vale do Aço”, ganhadora na categoria “Especial”, ofereceu o prêmio a Rodrigo Neto e Wagney Assis Carvalho, jornalistas assassinados na região metropolitana de Minas Gerais por um esquadrão de extermínio formado por policiais militares e civis.
Seguindo o exemplo, Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros dedicaram o troféu a ex-trabalhadores de frigoríficos que os ajudaram na produção do documentário “Carne Osso: o trabalho em frigoríficos”, vencedor na categoria "TV Documentário".
Por fim, Ciara Núbia de Carvalho, do portal NE10, vencedora, ao lado de Juliana de Melo Correia, na categoria "Internet", com o trabalho “Pelo menos um”, foi sorteada entre os jornalistas vencedores para uma viagem ao Museu do Apartheid, em Johanesburgo.
Prêmio Fernando Pacheco Jordão
O 5º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, realizado em conjunto com o Vladimir Herzog, também concedeu uma viagem ao Museu do Apartheid às estudantes Mariana de Camrgo e Marina Yoshimi, que, orientadas pelo professor José Carlos Fernandes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), produziram a matéria “Travestis e transexuais: luta por respeito nas salas de aula”. O mentor do grupo foi o jornalista Mauri König, repórter especial da Gazeta do Povo e diretor da Abraji.
Os demais grupos vencedores do Prêmio, apesar de não ganharem a viagem, também tiveram suas pautas patrocinadas pelo Instituto Vladimir Herzog e o apoio de um jornalista mentor na produção das matérias.
Cristiane Paião, Deborah Rezaghi e Raquel Bertani, da Faculdade Cásper Líbero, sob a orientação de Filomena Salemme, e com Dácio Nitrini como mentor, fizeram a reportagem radiofônica “Bullying velado: um retrato desconhecido de pessoas com deficiência”.
Glenda Carlos Ferreira e Nibberth Pereira da Silva, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), orientados por José Coelho Sobrinho, com auxilio do jornalista Milton Bellintani, foram responsáveis pelo trabalho “Como bullying contra jovens indígenas estudantes de escola “de branco” perpetua o estereótipo negativo do índio”.
E o estudante da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Yuri Ebenriter, sob orientação de Luiza Carravetta, produziu o documentário “Jovens quilombolas rurais e urbanos do Rio Grande do Sul: preconceito e superação”. O mentor foi a jornalista Letícia Duarte, do Zero Hora.
Além da cerimônia de premiação, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos promoveu nesta semana uma série de eventos da mais alta relevância para o atual cenário do jornalismo brasileiro.
Em comemoração a sua 35ª edição, a Comissão Organizadora do Prêmio realizou, no Itaú Cultural, segunda (21), o “Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas”, que contou com a presença da mexicana Anabel Hernández, autora do livro “Os senhores do narco”; Taís Gasparian, advogada; Bruno Renato Teixeira,Ouvidor Nacional de Direitos Humanos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República (SNDH/PR); Jim Boumelha, Federação Internacional de Jornalistas (FIJ);James C. Duff, do Newseum/Freedom Forum, de Washington D.C.; Ricardo Pedreira, diretor da Associação Nacional de Jornais (ANJ); Théo Rochefort , diretor da Associação Brasileira das Empresas de Radio e Televisão (ABERT); e Lourival J. Santos, diretor da Associação Nacional das Editoras de Revistas (ANER).
A coordenação ficou por conta de Sergio Adorno, Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), e Giancarlo Summa, Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UnicRio).
Na manhã de terça (22), pela segunda vez em sua história, o Prêmio promoveu uma Roda de Conversa entre seus vencedores.A troca de experiências entre os participantes se deu na Sala dos Espelhos, no Memorial da América Latina, e contou com transmissão pela internet feita pela TV PUC.
Mediado pelos jornalistas Aldo Quiroga (PUCSP/TV Cultura), e Angelina Nunes (Abraji/Globo), o emocionado bate-papo reuniu 14 jornalistas, que, de forma apaixonada construíram uma verdadeira aula de bom jornalismo:
Participaram: José Raimundo e Caio Cavechini, da TV Globo; Bianca Vasconcellos, Gustavo Minari e parte da equipe de reportagem da TV Brasil; Matheus Leitão, da Folha de S.Paulo; Marilu Cabanãs e Anelize Moreira, repórteres da Rádio Brasil Atual; Allan Costa Pinto, repórter fotográfico da Tribuna do Paraná; Kleber Soares, ilustrador no Correio Braziliense; Wagner William, repórter da revista Brasileiros; Janaína Garcia, do Portal UOL; Ismael Xavier, do Diário do Pará; e Fausto Salvadori Filho, da revista Apartes.
Ainda estiveram presentes Nemércio Nogueira, diretor do Instituto Vladimir Herzog, Guilherme Alpendre, diretor-executivo da Abraji, estudantes de jornalismo vencedores do 5º Prêmio Fernando Pacheco Jordão e Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e coordenador do evento.