15/09/2013
“Amor”, filme exibido neste sábado (14), na Cinemateca Brasileira, como parte da programação do VI Ciclo de Cinema e Reflexão: Aprender a Viver, Aprender a Morrer, inspirou o diálogo sobre o cuidado de pacientes com doenças crônicas degenerativas.
A Mesa de Reflexão foi composta pelos professores de bioética Márcio Fabri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e membro da Câmara Técnica de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, e José Eduardo de Siqueira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e membro do Conselho de Administração da Associação Internacional de Bioética, com mediação de Maria Goretti Maciel, diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo.
A cerimônia de entrega do Prêmio Averroes ao prof. Siqueira, às 14h na sala BNDES, seguida de concerto realizado pelo Ensamble SP Camerata, às 16h, encerram, neste domingo (15), a sexta edição do Ciclo, que é promovido pelo Hospital Premier, Grupo Saber MAIS, Cinemateca Brasileira e OBORÉ, com apoio da Faculdade de Medicina de Itajubá, Academia Nacional de Cuidados Paliativos e Instituto Paliar.
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Mesa de Reflexão
O filme de Michael Haneke conta a história de um casal de idosos que tem sua vida completamente alterada depois de Anne (Emmanuelle Riva) sofrer um derrame e, após uma cirurgia mal sucedida, ficar com o lado direito de seu corpo paralisado. Georges (Jean-Lous Trintignant), o marido, assume o papel de cuidador da esposa que gradualmente caminha para um estado cada vez mais grave.
“Observando a curva demográfica da população humana está claro que a população octogenária, nonagenária e centenária aumenta muito e esse tipo de doença vai prevalecer, já está prevalecendo. São doenças crônicas degenerativas que não têm cura, vamos conviver com esta realidade”, disse o professor José Eduardo de Siqueira.
Apesar disso, explicou Siqueira, é comum os familiares dos pacientes não compreenderem que a Medicina ainda não tem respostas para este tipo de lesão cerebral irreversível. O filme mostra esta realidade apresentando a personagem Eva, filha de Anne, que não se conforma com o fato.
O mal preparo de alguns profissionais para o tratamento digno de doentes crônicos também é explorado no filme ao mostrar duas enfermeiras que revezam no cuidado paliativo de Anne. “Os diálogos destas enfermeiras mostram como às vezes os profissionais de saúde conseguem se afastar por completo do sentimento do outro”, afirmou Siqueira.
O professor apontou que o atual modelo de educação profissional tem conseguido êxito em fazer os alunos conhecerem mais técnicas e os ensinado a executá-las, porém não os ensina a ser e a conviver com os ser humanos.
“Não estamos formando gente que percebe o outro como um ser humano. Lamentavelmente, temos que reconhecer que muitos profissionais de saúde fazem o curso de medicina com a ilusão de que vai ficar rico. E aí o paciente significa um papel pra ele. Quanto mais valer esse papel, mais vale a pessoa. Então, pra ele o SUS não vale nada.”
Já na visão de Márcio Fabri, o filme está repleto de simbolismos que fazem referências à vida. “A casa [do casal Anne e Georges] tem vários cômodos e cada cômodo significa um espaço com o qual lidamos com a vida. O primeiro grande espaço é o escritório [a sala], que é o local que vai abrigar todos os diálogos que lidam com a morte em termos teóricos. É a teoria. É a ciência. Porque o mundo científico discute a morte em dados científicos”, explicou.
O médico aponta também o concerto, apresentado nas primeiras cenas, que representa a própria vida; a casa, que pode ser uma analogia à intimidade e à vulnerabilidade do ser humano; o piano mostrando que a vida continua.
“A cozinha, lugar de compartilhamento e vivência, simbolizando a partilha da vida, é também onde a primeira experiência de morte acontece e o primeiro sintoma é quando Georges diz ‘acabou o sal’. A partir dali, percebe-se que foi a vida que começou a perder o sabor.”
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