Para Leonardo Sakamoto compromisso com direito humanos exige jornalismo de guerrilha Texto e Fotos: João Paulo Brito
29/04/2013
“Jornalismo sobre direitos humanos, numa cidade como São Paulo, é jornalismo de guerrilha”, disse, com conhecimento de causa, o jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto. O coordenador da ONG Repórter Brasil participou de palestra e conferência de imprensa no encontro que marcou o encerramento do 6º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter, do Projeto Repórter do Futuro, realizado neste sábado (27), na Câmara Municipal.
A principal dica de Sakamoto aos 30 estudantes do módulo foi para agirem com estratégia e não se frustrarem caso não recebam apoio dos colegas de profissão quando tratarem de assuntos relacionados aos direitos humanos: “Não é a maior parte da redação que vai te apoiar, porque as pessoas não tem coragem nem de defender os colegas de redação quando tem ‘passaralho’.”
Por várias vezes, Sakamoto enfatizou o papel do jornalista de “ligar os pontos”, o que para ele significa relacionar pessoas de diferentes partes da cidade que enfrentam os mesmos problemas. Ele apontou que a internet, embora ainda não democratizada, é a ferramenta ideal para fazer a conexão entre grupos e minorias vítimas de preconceitos e abusos.
“Pra isso não podemos esquecer que esse processo de mostrar o que a sociedade quis esconder é doloroso para as pessoas. Deem o tapa na cara na hora que tem que dar, mas saibam que o desrespeito a esses direitos fundamentais são coisas enraizadas. Não se frustrem com comentários. Essas discussões precisam sair do armário”, explicou o jornalista ao lembrar que São Paulo, apesar de ter a maior parada LGBT do mundo, é uma das cidades mais retrógadas do Brasil.
Sakamoto abordou o despreparo profissional dos jornalistas para tratarem de assuntos de segurança pública. Em sua visão, o tema ainda é coberto como uma questão de polícia porque o jornalista não consegue ir além das pautas colocadas pelas forças oficiais. É necessário ir à raiz da questão e explicar a violência como fruto da desigualdade social.
Durante sua palestra, Sakamoto ainda atentou ao fato de o jornalista não se ver como trabalhador, o que resulta em coberturas de manifestações e protestos de classes trabalhadoras como um empecilho ao trânsito de veículos. Por também não se reconhecerem culturalmente em sua cidade, os jornalistas não está cobrindo a rica produção cultural das periferias. “A gente como jornalista ainda tem medo de cruzar a ponte, e sair da cidade encastelada. A periferia mais pobre é a maioria de São Paulo, mas como a gente não se reconhece nela, não dá valor”, disse.
Encontro de encerramento
O encontro de encerramento do curso contou com a presença de parte da Coordenação do Projeto Repórter do Futuro: Sergio Gomes, diretor da OBORÉ; Milton Bellintani, coordenador do curso e diretor executivo da Escola do Parlamento; Guilherme Alpendre, diretor executivo da Abraji; Pedro Ortiz, coordenador pedagógico do módulo Descobrir a Amazônia – Descobrir-se Repórter; Cristina Cavalcanti, da Secretaria Executiva; e Luana Copini e Danillo Oliveira, que integram a Equipe de Assistência à Coordenação Pedagógica.
Representando o presidente da Câmara Municipal, vereador José Américo, o assessor de comunicação da Câmara, Fred Ghedini, falou sobre o distanciamento entre os jornalistas e o sindicato, seu tema de estudo no doutorado.
Em sua fala, Ghedini, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, destacou a mudança estrutural na profissão, como baixos salários e altas cargas horárias, a “PJtização” e a dificuldade do sindicato em se comunicar com este novo perfil de profissional, que em muitos casos é empregado e também empregador.
Segunda fase
Após a conferência de imprensa, a coordenação do curso e os 30 estudantes fazeram uma reunião de avaliação do módulo e discutiram detalhes sobre o formato da segunda fase do curso.
O primeiro módulo do 6º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter foi composto de conferências de imprensa seguidas de entrevistas coletivas com representantes do Legislativo municipal e profissionais que têm a cidade de São Paulo como foco de sua atuação. A revisão do Plano Diretor Estratégico foi o centro das discussões, que contaram com participações do presidente da Câmara, José Américo, do vereador Nabil Bonduki, relator do Plano Diretor em 2002, dos jornalistas Audálio Dantas, André Deak, do escritor José Roberto Torero e do fotógrafo Ed Viggiani, entre outros.
De maio a novembro, os estudantes acompanharão as audiências públicas do Plano Diretor e realizarão apurações nas regiões administradas pelas 31 subprefeituras. O conteúdo do curso será transformado em um livro da série Pensando São Paulo, da Escola do Parlamento, com lançamento previsto para 25 de janeiro de 2014, no aniversário de 460 anos da cidade de São Paulo.
Confira as conferências que fizeram parte do curso:
2/março O Jornalismo no mundo em transformação Manuel Carlos Chaparro, jornalista, doutor em Ciências da Comunicação, professor de Jornalismo da ECA/USP, autor do blog O Xis da Questão – Mídia, Jornalismo e Atualidade
É possível aprender a estudar?
Ausônia Donato, doutora em Saúde Pública, mestrados em Educação em Saúde Pública e Psicologia da Educação, diretora pedagógica do Colégio Equipe
23/março Reportagem com Auxílio do Computador (RAC)
José Roberto de Toledo, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e vice-presidente da ABRAJI Guilherme Alpendre, jornalista, diretor executivo da ABRAJI
27/abril O papel do jornalista na construção de uma cidade para todos
Leonardo Sakamoto, jornalista, doutor em Ciência Política e coordenador da ONG Repórter Brasil
Sobre o curso
O 6º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter, que integra o Projeto Repórter do Futuro, é organizado pela OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes em parceria com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo e ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e conta com o apoio do SINPRO/SP – Sindicato dos Professores de São Paulo, Cátedra UNESCO de Comunicação, Hospital Premier/MAIS – Modelo de Atenção Integral à Saúde, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, IPFD – Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais, Matilha Cultural, NH Photos – Nivaldo Silva, KBR TEC Soluções Online e da Coordenação dos principais Cursos de Jornalismo de São Paulo: ECA/USP – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, Faculdade Cásper Líbero, PUCSP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade Metodista de São Paulo e Universidade Presbiteriana Mackenzie. As revistas Brasil Atual, Caros Amigos, Fórum, Imprensa, Le Monde Diplomatique Brasil, Piauí, Samuel e o blog “O Xis da Questão – Mídia, Jornalismo e Atualidade” do Professor Chaparro também emprestam seu prestígio a esta iniciativa e colaboram de diversas formas para seu êxito.