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  "XI Jornalismo em Situações de Conflito Armado" se encerra com palestra de Reginaldo Nasser
Texto: João Paulo Brito / Fotos: Nivaldo Silva
  02/10/2012

O XI Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência se encerrou neste sábado (29/09) com palestra de Reginaldo Nasser, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, em cerimônia realizada na sala Sergio Vieira de Mello da Câmara Municipal de São Paulo, de onde o evento foi transmito online.

Mestre em Ciências Políticas pela UNICAMP e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Nasser falou sobre cobertura de política internacional e criticou o trabalho que vem sendo realizado pela imprensa brasileira sobre o tema.


Para o professor, os jornalistas estão adaptados a supervalorizarem os discursos dos presidentes e demais atores da política internacional sem levarem em consideração a estrutura do conjunto. “Há um exagero de importância no discurso dos atores, ao invés de entender que as palavras são um meio para compreender aquilo como um todo”, disse o professor.

Com exceção de uma matéria publicada no New York Times, a imprensa não vem, por exemplo, investigando o papel da CIA na Líbia e em outros países do oriente médio, acredita o professor, que aponta que a mesma desatenção jornalística aconteceu com o Plano Colômbia: “40% do orçamento do plano era para empresas particulares de segurança, eram uma espécie de novos mercenários”.

Quando os estudantes pediram sua opinião a respeito do filme “A Inocência dos Mulçumanos”, que provocou manifestações anti-EUA em mais de 20 países por retratar o profeta Maomé, entre outras coisas, como molestador de crianças e sanguinário, Nasser explicou que o filme foi apenas o estopim para uma situação que já se acentuava. “O importante não é a qualidade técnica do filme, mas o contexto em que ele foi mostrado: uma semana antes haviam sido divulgadas imagens de prisioneiros urinando no Corão”, afirmou o professor.

Avaliação dos estudantes

Em um segundo momento da cerimônia, os estudantes tiveram a oportunidade de relatarem o que aprenderam no decorrer do curso. Juliana Machado, 22, que está no sétimo semestre do curso de jornalismo na Mackienzie, disse ter enfrentado grande dificuldade até conseguir ter clareza para elaborar pautas e confessou ter superado o receio da primeira publicação num veículo de comunicação – exigência principal do módulo, além da presença obrigatória em todas as aulas. “Profissionalmente, acho que esse curso agrega tanto num aspecto específico e acadêmico sobre Direito Internacional Humanitário e direitos humanos, quanto numa perspectiva mais humana do jornalismo, que é o que acredito piamente e acho que possao aplicar no jornalismo diário”, afirmou Juliana.

“A maior lição foi tirar a gente da zona de conforto” disse, entre risos, Anna Beatriz Pousa, 20, que cursa o terceiro ano de jornalismo na Cásper Líbero e estagia na Rede Record. Anna brincou que na faculdade o estudante sente como se aprendesse a fazer um jornalismo “meio de mentira”. “Você faz as matérias e os trabalhos que o professor pede, mas não leva a sério, não acha que aquilo tem o poder de mudar ou que vai definir o profissional que você vai ser. E chegando aqui no curso você entede que é você que vai estar amanhã na redação, o que você vai fazer diferente, o que você vai fazer pra ser melhor?”

Rafael Andery, 23, disse ter sofrido uma “overdose” de jornalismo: o jovem, que estuda direito na USP, acostumado apenas a ler jornais pela manhã, cursou o módulo do Projeto Repórter do Futuro, onde teve que elaborar pautas, escrever matérias e entrevistar especialistas; e foi selecionado para ser treinee do jornal Folha de S.Paulo. “O que me marcou muito foi o ambiente colaborativo. Gostei de podermos discutir o tema antes de conversar com o entrevistado e foi também importante poder, depois da entrevista, fazer o balanço do que foi relevante na coletiva. Não vejo isso em outros lugares que se trabalha jornalismo, onde a profissão é enxergada como algo muito solitária.”

A curitibana Ana Carolina Krüger, 19, estudante de jornalismo na Universidade Positivo e estagiária da editora Banquinho Publicações – ambas na capital paranaense -, disse ter ouvido falar sobre o curso no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, em julho deste ano, no qual tradicionalmente a OBORÉ e o CICV fazem o lançamento dos cartazes das edições do Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência.

Ana contou que para estar em São Paulo todos os sábados às 08h, ela, após terminar de assistir a aula da faculdade, que cursa à noite, embarcava num ônibus na rodoviária de Curitiba por volta da meia noite. Apesar do esforço, a jovem jornalista acredita que valeu a pena: “Para mim, foi recompensador. Entrei no curso pensando ‘quero ser correspondente de guerra’, mas logo pensava ‘até parece, to sonhando’. E daí, com o curso, eu percebi que é uma coisa muito mais real e possível”. Para Ana, a experiência de fazer o módulo lhe proporcionou mais instrumentos para seguir na área de cobertura de política internacional e conflitos armados.


Sobre o curso

Durante quase dois meses, 20 estudantes vindos de seis cidades dos estados de São Paulo e Paraná, assistiram a palestras e puderam participar de conferências de imprensa contando com convidados que contribuíram para a discussão sobre direitos humanos, Direito Internacional Humanitário (DIH), cobertura de conflitos armados e política internacional.

O módulo começou em 18 de agosto, ocasião em que o tenente-coronel Lamellas, oficial do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMCEx), falou sobre a atuação do exército brasileiro com a imprensa e a atuação das tropas brasileiras no Haiti; no segundo encontro, realizado em 25 de agosto, o assessor jurídico do CICV, Gabriel Valladares, explicou as diretrizes do DIH e as normas aplicáveis em conflitos armados; André Vianna, coronel da reserva da PM, expôs as normas de conduta e de uso de força pela Polícia Militar, em 1° de setembro; e, na última conferência, ocorrida em 15 de setembro, a jornalista Claudia Antunes, editora da revista Piauí, falou sobre cobertura de política internacional e conflitos armados.

O curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, que integra o Projeto Repórter do Futuro, é coordenado pelo jornalista João Paulo Charleaux e promovido pela OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes, em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Conta ainda com o apoio da ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, SINPRO-SP (Sindicado dos Professores do Estado de São Paulo), Hospital Premier, Câmara Municipal de São Paulo, Matilha Cultural e Médicos Sem Fronteiras.

Aconteceu:

Cláudia Antunes falou cobertura de conflitos armados e política internacional na última conferência de imprensa do módulo

André Vianna, coronel da reserva da PM, falou sobre normas de conduta e de uso da força e armas de fogo para a PM.

Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV, falou sobre as normas aplicáveis em conflitos armados e outras situações de violência e as contribuições do CICV, na segunda conferência de imprensa, realizada em 25 de agosto.

Em 18 de agosto o tenente-coronel Sergio Ricardo Curvelo Lamellas, Oficial do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx), falou sobre a relação do Exército com a imprensa e a atuação das tropas militares no Haiti.

Com palestra de Felipe Donoso, chefe da Delegação Regional do CICV, dezenas de estudantes se reuniram na Matilha Cultural no encontro de seleção para o módulo Jornalismo em Situações de Conflito Armado, em 04 de agosto.

 
 
 
   
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