10/09/2012
No encerramento do V Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, uma bancada composta por averroistas - vencedores do Troféu Averroes - conversou com o público sobre tolerância, convivência pacífica entre culturas, religiões e etnias e discutiram sobre as contribuições que os estudos do pensador espanhol Averroes trouxeram à ciência moderna. Na derradeira sessão do Ciclo, realizada sexta-feira (07/09) na Cinemateca Brasileira, foi apresentando o filme “Os Sábios de Córdoba”, do cineasta Jacob Bender.
O escritor ítalo brasileiro e senador da República italiana José Luiz Del Roio coordenou a mesa que contou com a presença do jornalista, professor livre-docente e escritor Manuel Carlos Chaparro; Ausonia Favorido Donato, diretora pedagógica do Colégio Equipe e pesquisadora do Núcleo de Formação e Desenvolvimento profissional do Instituto de Saúde da Secretaria da Saúde de São Paulo; e Marco Túllio de Assis Figueiredo, professor titular do curso de Tanatologia e Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina de Itajubá (MG) e membro fundador da International Association for Hospice and Palliative Care (Houston/USA).
No decorrer dos cinco dias que se realizou o Ciclo, cinema, música, jornalismo e medicina dialogaram sobre a vida e sua terminalidade, atraindo pessoas de diversos cantos do Brasil para aprender a viver para aprender a morrer.
O ciclo foi realizado pelo Hospital Premier, OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes, Grupo Saber Mais Educação e Pesquisa e Cinemateca Brasileira. Ainda contou com o apoio da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt), Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Instituto Paliar e Câmara Municipal de São Paulo.
Confira aqui o folder com a programação completa
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Ao se deparar com um estado permanente de guerra, conflitos armados, choques entre civilizações e intolerância religiosa, o cineasta Jacob Bender mergulha numa parte da História medieval pouco difundida nas sociedades ocidentais e reconta a vida e obra de Averroes e Maimônedes, dois pensadores espanhóis que em vida pregaram a convivência entre muçulmanos, judeus e cristãos, além de influírem na filosofia, na medicina e na ciência como um todo. Assista ao trailer.
O documentário “Os Sábios de Córdoba”, de 2009, não foi lançado no Brasil. A primeira exibição do filme no país se deu no ano passado, na ocasião do 4° Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, também realizado na Cinemateca Brasileira.
“A ideia mais forte que este filme passa é a ideia da paz. Averroes, assim como Maimônedes, lutou para que a humanidade não perdesse a esperança”, afirmou Chaparro após a exibição do filme. O professor disse acreditar que Averroes desvendou mistérios para descobrir e ensinar a verdade, sendo esta o grande objetivo de seus estudos.
Para Chaparro, que diz entender a ética como uma razão de ser, Averroes foi o grande pioneiro da ética dos valores, e alegou que o mais importante legado desta ética é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Leia o primeiro artigo da declaração dos direitos humanos e veja como as ideias de Averroes estão presentes desde o início.”
Ausonia Donato chamou a atenção para a questão da tolerância. “Muitos de nós identificam o sentido de ‘tolerância’ como [sinônimo de] suportar o outro e não como [sinônimo de] aceitar o diferente”.
A professora afirmou que as escolas, muitas vezes, ao invés de contribuírem com a paz e a tolerância, discriminam e segregam algumas crianças que não se encaixam no “modelo ideal”, deixando claro aquelas que são as preferidas e as preteridas, fomentando a competitividade.
Já para Marco Túllio, o filme demonstra uma utopia, pois os homens já não sabem viver em harmonia uns com os outros devido a inveja e a ambição, que são, no seu ponto de vista, os maiores defeitos do ser humano. Religioso, o médico paliativista justifica que “Deus é infinitamente bom e nós somos a imagem e a semelhança de Deus, portanto temos que ser infinitamente bons”.
O professor ainda conta que, segundo estudo recente do médico escocês Derek Doyle, os primeiros a praticarem os cuidados paliativos foram os mulçumanos. Documentos encontrados apontam registros de tais procedimentos datados de 819 D.C.
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Troféu Averroes
Destinado a pioneiros, compartilhadores e a quem se empenha pela paz e convívio entre povos, culturas, religiões e etnias, o Troféu Averroes – escultura criada pelo artista plástico Jaime Prades - foi entregue ao Prof. Marco Túllio em 2008, na primeira edição do Ciclo de Cinema e Reflexão; no ano seguinte, foi a vez de Ausonia Donato ganhar o prêmio; a edição de 2010, teve como ganhador o médico, pesquisador e professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva; e, no ano passado, a pesquisadora, escritora e poetisa Eclea Bosi.
Já Manuel Carlos Chaparro será o homenageado deste ano, em cerimônia realizada no próximo sábado (15/09), às 14h, no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo. Com curadoria do senador italiano José Luiz Del Roio, a cerimônia contará com o concerto denominado “Tributo ao Professor Manuel Chaparro”, regido pelo núcleo de música Ensemble São Paulo.
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Cerimônia de Encerramento
Ao fim da Mesa de Reflexão com os averroistas, Ana Luisa Zaniboni Gomes, diretora da OBORÉ, fez o lançamento oficial do Prata da Casa 5 – escritas do cotidiano de uma equipe que cuida. A publicação, que, desde 2008, recebe anualmente uma nova edição, lançada sempre nos Ciclos de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, traz relatos de casos vividos por profissionais de saúde no exercício de cuidar de pacientes e seus familiares.
Em seguida, Henrique Parsons, representando o Hospital Premier, apresentou e leu a Carta Aberta sobre Cuidados Paliativos à População Brasileira, elaborada por 31 entidades de saúde vindas de todo o Brasil que, durante a semana do Ciclo, participaram da III Jornada de Cuidados Paliativos e do I Encontro Brasileiro de Serviços de Cuidados Paliativos.
A carta será entregue para autoridades competentes, entre elas Ministério da Saúde e da Educação, e destina-se a todos aqueles que trabalham ou tenham qualquer ligação ou interesse com cuidados paliativos. Seu lançamento oficial está previsto para 1° de outubro, dia do idoso.
Entre outros pontos, a Carta aponta que “os serviços de cuidados paliativos no Brasil são insuficientes para atender a população brasileira” e ressalta a necessidade de se criar políticas públicas nacionais sobre o tema. Entre as seis propostas sugeridas na carta, está a inserção nas universidades de disciplinas e cursos sobre cuidados paliativos. “Nossa intenção com a carta é contribuir para que haja uma política pública integrada sobre cuidados paliativos no Brasil”, afirmou Henrique Parsons.
Os agradecimento finais foram feitos por uma bancada composta por Henrique Parsons, representando o Hospital Premier; Marília Bense Othero, terapeuta ocupacional, representando o Grupo MAIS; Kleber Lincoln Gomes, médico psiquiatra e professor, em nome da Faculdade de Medicina de Itajubá; Dalva Youkie Matsumoto, médica oncologista e paliativista, diretora do Hospital Premier; e Sergio Gomes, representando a OBORÉ.
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Ainda na sequência, os músicos do projeto “Música e Saúde” apresentaram o show 100 anos de Música Popular Brasileira, um misto de narrativa e música, que exibiu um repertório que foi desde Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha, que marca o início do choro, no final do século XIX; passando por Noel Rosa e Cartola; atravessando a década de 1940, com “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso; os anos 1960 e 1970, com a era dos festivais, a Tropicália e a Jovem Guarda; o sertanejo de Milionário e José Rico e a viola caipira de Almir Sater; o rock protestante de Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso; até se encerrar com o pagode de Zeca Pagodinho.
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