07/09/2012
Família, amizade e amor. A reafirmação dos vínculos afetivos quando se está diante de uma crise pessoal ou doença degenerativa foi o tema do V Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, nesta quinta-feira (06/09). A Mesa de Reflexão, desta vez formada por um jornalista, um folósofo e um médico, conversou com o público sobre o filme argentino “O Filho da Noiva”, de Juan José Campanella. O Ciclo, realizado na Cinemateca Brasileira, se encerra neste feriado de 7 de setembro.
Coordenada pelo médico cardiologista Ricardo Tavares de Carvalho, presidente da Comissão de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas (HC/FMUSP), membro do Comitê de Terminalidade da Vida da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), diretor científico da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e diretor do Hospital Premier, a mesa contou com a presença do jornalista e professor do curso de especialização em Jornalismo Cultural na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e coordenador pedagógico do Projeto Repórter do Futuro, Milton Bellintani, e de Jorge Cláudio Ribeiro, filósofo, jornalista e professor livre-docente e titular em Ciência da Religião pela PUC-SP.
O ciclo é realizado pelo Hospital Premier, OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes, Grupo Saber Mais Educação e Pesquisa e Cinemateca Brasileira. Ainda conta com o apoio da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt), Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Instituto Paliar e Câmara Municipal de São Paulo.
Confira aqui o folder com a programação completa
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Somente um ataque cardíaco e a percepção da iminente solidão, consequência inevitável das perdas afetivas ocasionadas por uma vida desequilibrada e estressante, puderam fazer Rafael Belvedere conseguir ver os rumos que havia tomado em seus 42 anos de idade. Resgatar a convivência com a filha, firmar compromisso com a namorada, realizar o sonho do pai, e, sobretudo, pedir perdão para a mãe que sofre do Mal de Alzheimer são tarefas que se tornam prioridade para o personagem em crise de idade, identidade e valores. Assista ao trailer.
Lançado em 2001, numa argentina igualmente em colapso - neste caso, econômico e político -, “O Filho da Noiva” é um filme que, na visão do jornalista Milton Bellintani, sublinha o otimismo quanto a “re-humanização” das pessoas. Ganhador de diversos prêmios, entre eles de Melhor Filme, nos Festivais de Gramado e Havana, e de Melhor Filme Latino-Americano, no Festival de Montreal, o longa de Juan José Campanella se apega ao detalhismo e resgata o espírito positivo de clássicos americanos. Conta Bellintani que antes de entrevistar pessoalmente Campanella, em Buenos Aires, descobriu uma entrevista com o cineasta na internet na qual este confessa ter assistido ao filme de Frank Capra “It’s a Wonderful Life” (traduzido no Brasil como “A felicidade não se compra”) 86 vezes – em nova entrevista concedida em 2010, o diretor afirma ter atingindo a marca de 93 visualizações do clássico estadunidense.
“No filme, nós temos a história de muitas relações afetivas que se quebraram, mas o tempo inteiro existe o processo de reconstrução destas relações”, afirmou o jornalista, classificando a mãe doente e a filha do protagonista como elementos que convocam o personagem à re-humanização.
Numa incrível atuação, que rendeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado, Norma Aleandro interpreta a mãe de Rafael Belvedere, Norma (o personagem, possivelmente não por acaso, leva o nome da atriz), que, em sua velhice, passou a sofrer do Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que, nas palavras do médico Ricardo Carvalho, nos tira aquilo que mais nos gabamos de ter: nossa experiência e conhecimento de vida. “Com Alzheimer não há discernimento, mas lampejos e aos poucos [o enfermo] vai perdendo a mala que construiu no decorrer dos anos.”
Questionado sobre o grau de impacto desta doença na vida de uma pessoa, o médico afirmou ver o Alzheimer como uma “crueldade”, já que afeta, além da memória, a aprendizagem e a coordenação motora, levando o doente, no decorrer das quatro fases da enfermidade, a ficar completamente dependente de outras pessoas, eventualmente, impossibilitado de falar, comer e se movimentar, permanecendo acamado até seu corpo enfraquecer, criar feridas e se tonar ainda mais vulnerável a outras doenças. “Para quem lida com pacientes com doenças crônicas, sabe como é perceber todo dia o quanto é curta nossa estadia aqui”, concluiu.
O médico David Braga Jr., que, nesta quinta edição do Ciclo de Cinema e Reflexão, coordenou a mesa precedida pelo filme “Histórias Mínimas”, reforçou a importância dos cuidados paliativos e o acompanhamento da família em casos como o da personagem do filme. E acrescenta que “a perda da biografia dela [Norma] não é mais acentuada porque ele [o marido da Norma] está traduzindo ela pra gente”, disse, se refindo a cenas em que aparece o personagem Nino Belvedere descrevendo memórias da personalidade da esposa antes de ser afetada pelo Alzheimer.
Se referindo ao personagem principal, Jorge Cláudio Ribeiro apontou para as doenças modernas, como o estresse, a crise da meia idade e os rompimentos de relações afetivas. “Tem um terceiro grupo que também apresenta uma doença que não foi curada, que é o grupo religioso, extremamente doente, pelo ritualismo”. O filósofo explicou que para pessoas radicalmente religiosas quando a realidade não se encaixa nos princípios impostos por sua religião, elas tendem a rejeitar a realidade.
Cerimônia de Encerramento
Nesta sexta-feira, 7 de setembro, se encerra o V Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer. Na ocasião, haverá o lançamento da “Revista Prata da Casa 5 – Escritas do cotidiano de uma equipe que cuida”, às 18h30. Na sequência, as entidades que participaram do I Encontro Brasileiro de Serviços de Cuidados Paliativos, realizado entre os dias 4 e 7 de setembro, apresentarão uma Carta Aberta, produzida a partir da opinião profissional dos especialistas em cuidados paliativos de diversas partes do país. A carta é destinada a autoridades públicas como contribuição para a implementação e fortalecimento da especialidade no Brasil.
No fim da noite, às 20h30, o grupo musical do projeto “Música e Saúde” do Hospital Premier se apresentará com o show “100 anos de Música Popular Brasileira”.
Sessão Averroes de Cinema e Reflexão
Como acontece já há quatro anos, na última segunda-feira de cada mês, são exibidos filmes seguidos de mesas de reflexão. As atividades são abertas ao público em geral e têm como objetivo apoiar-se em obras cinematográficas para ajudar nas reflexões de como entender melhor o mundo, a condição humana e a vida em suas mais diversas traduções.
A Sessão Averroes também premia anualmente, num ato de reconhecimento público, personalidades que consagram suas vidas ao desenvolvimento das ciências, educação e das artes. O troféu Averroes – escultura criada pelo artista plástico Jaime Prades - destina-se a iluminar a trajetória dos que têm sido pioneiros e compartilhadores em suas áreas de atuação direta mas que também se empenham pela Paz entre os povos e o convívio enriquecedor de todas as culturas, religiões e etnias.
Neste ano, o ganhador será Manuel Carlos Chaparro, professor livre docente, jornalista e escritor, em cerimônia realizada no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo, às 14 horas do dia 15 de setembro. O evento contará com o concerto “Tributo ao Professor Manuel Chaparro”, que será realizado pelo núcleo de música Ensemble São Paulo.
Programação
• 7 de setembro, sexta-feira, 16h, Sala BNDES
OS SÁBIOS DE CÓRDOBA (Averroes y Maimônedes – los sábios de Córdoba)
Espanha, EUA, Alemanha, 2009. Documentário. Duração: 80 minutos. Direção: Jacob Bender.
É possível a convivência entre culturas diferentes em um mundo globalizado do século XXI? O mundo atual vive um estado de guerra permanente, onde palavras como religião e fé são sinônimos de intolerância. Mas, sempre foi assim na História? Para verificar se esse espírito de convivência resiste aos tempos atuais, o diretor referencia-se em dois personagens de Al Andalus - Averroes y Maimônides, que materializam, com suas vidas e obras, o espírito de convivência entre muçulmanos, judeus e cristãos naquela mítica Espanha medieval. Bender empreende uma viagem que começa em Nova Iorque e passa por Andaluzía, Marrocos, Paris, Veneza, Egito, Palestina e Israel e entrevista pessoas que utilizam suas tradições religiosas para desafiar os que defendem que há um choque inevitável de civilizações entre o Ocidente e o mundo muçulmano, uma incompatibilidade entre o Islã e a democracia, e um insolúvel conflito entre muçulmanos e judeus.
Mesa de Reflexão
Coordenador: José Luiz Del Roio, escritor ítalo brasileiro e senador da República italiana.
Convidados: Averroístas (2008-2012)
Manuel Carlos Chaparro, Doutor em Ciências da Comunicação e Livre Docente da Escola de Comunicações e Artes da USP. Atua no Jornalismo desde 1957 sendo quatro vezes premiado com o Esso de Jornalismo. Foi Presidente da INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, principal sociedade científica brasileira na área da Comunicação Social, e integrante de seu Conselho Consultivo. Prêmio Averroes 2012.
Ausonia Favorido Donato, doutora em Saúde Pública pela USP, com Mestrado em Educação em Saúde Pública e Psicologia da Educação. Dedica-se ao trabalho na área de educação formal e na área de saúde pública desde 1969. É Diretora Pedagógica do Colégio Equipe, em São Paulo, e pesquisadora do Núcleo de Formação e Desenvolvimento Profissional do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. É autora da tese “Trançando Redes de Comunicação - releitura de uma práxis da educação no contexto da saúde”, defendida em 2000 na Faculdade de Saúde Pública da USP, sob orientação do Prof. Dr. Cornélio Pedroso Rosenburg. Foi a ganhadora do Troféu Averroes em 2009.
Marco Túllio de Assis Figueiredo, Doutor em Patologia, organizador e ex-professor das disciplinas eletivas de Cuidados Paliativos e de Tanatologia da Unifesp e Professor Titular do Curso de Tanatologia e Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina de Itajubá MG). Membro fundador da International Association for Hospice and Palliative Care (Houston-USA) e membro de seu Conselho Diretor por 3 mandatos consecutivos como representante do Brasil (1997). Coordenador do capítulo de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e co-tradutor do livro Bilhete de Plataforma: vivências em Cuidados Paliativos, de Derek Doyle (Difusão Editora, 2009). Foi premiado com o Troféu Averroes, em 2008.
SERVIÇO
V CICLO DE CINEMA E REFLEXÃO
APRENDER A VIVER, APRENDER A MORRER
Quando: 3 a 7 de setembro de 2012
Onde: Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207
Vila Clementino – São Paulo
Mais informações:
www.grupomaissaude.com.br
www.obore.com
www.cinemateca.gov.br |