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  “Comissões da Verdade devem existir para evitar os crimes contra os cidadãos que ainda acontecem”, defendem autoridades na solenidade de abertura da Comissão ‘Vladimir Herzog’
Texto: Giulia Afiune
  13/06/2012

Evento reuniu parlamentares, famílias e amigos de presos políticos na Câmara Municipal de São Paulo, na segunda, 11 de junho. Ítalo Cardoso, presidente da Comissão, aproveitou o momento para anunciar a criação do Memorial Vladimir Herzog, com peças de Elifas Andreato que celebram o jornalista. 


“Hoje em dia nós ouvimos que houve tortura e que ela foi necessária, porque senão nós tínhamos as FARC instaladas no Brasil”, criticou o advogado e presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Ancheita, Belisário do Santos Júnior, na solenidade de abertura da Comissão da Verdade ‘Vladimir Herzog’, no dia 11 de junho, segunda-feira, na Câmara Municipal de São Paulo. A idéia de que a Comissão da Verdade servirá também para combater a violência institucionalizada no país foi defendida pela maioria das autoridades presentes, incluindo o vereador e relator da Comissão, Eliseu Gabriel (PSB). “A ditadura quebrou o processo de construção da democracia no país, porque passamos um quarto de século com o Estado praticando a violência permanente. A cultura da violência e do desrespeito aos direitos humanos está presente no nosso dia-a-dia, como em maio de 2006, quando a PM, lutando contra o crime organizado matou mais de 400 pessoas em alguns dias em São Paulo “, explicou. 

De acordo com documento oficial, o intuito da Comissão é promover “esclarecimentos em relação às graves violações de direitos humanos ocorridas no Município de São Paulo ou praticada por agentes públicos municipais” durante a ditadura militar. Além disso, em diversos momentos da cerimônia foi defendida a finalidade educativa da investigação. Um estudo do Núcleo de Estudos de Violência da USP mostrou que 52,5% dos brasileiros admite que provas conseguidas a partir de tortura podem ser usadas em tribunais. “Só é possível entender que as pessoas pensem esse tipo de coisa porque elas não conhecem o que é tortura e o que isso significou”, apontou Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado em 1975 pelo regime militar, a quem o título da Comissão presta homenagem. “Nós devemos fazer um esforço para que a juventude saiba diferenciar o que é ditadura do que é democracia”, considerou Raphael Martinelli, presidente do Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo. 


Solenidade de Abertura da Comissão da Verdade "Vladimir Herzog": (da esq.) Vereador Ítalo Cardoso, Clarice Herzog, vereador Eliseu Gabriel, vereadora Juliana Cardoso, José Augusto Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas. Ao fundo, deputado estadual Adriano Diogo. À frente, o Troféu "Vlado Vitorioso" de Elifas Andreato. (Foto: Giulia Afiune)



A Comissão da Verdade “Vladimir Herzog” é composta por sete vereadores. O presidente é Ítalo Cardoso (PT), o vice, Gilberto Natalini (PV), e Eliseu Gabriel (PSB), o relator. Os outros membros são Juliana Cardoso (PT), Agnaldo Timóteo (PR), José Rolim (PSDB) e Jamil Murad (PCdoB). A Comissão municipal se propõe a cooperar com as Comissões Estadual e Nacional ajudando na capilaridade das investigações. O presidente do Conselho Estadual dos Diretos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas, defende que a investigação deve ir além. “Os sindicatos, universidades e entidades como a ABI também deveriam ter comissões. Na USP e na PUC, por exemplo, houve uma repressão violentíssima. Os braços e olhos do Estado infiltrados a partir dos Serviços de Segurança e Informação sabiam quem eram os estudantes e professores agitadores e os expulsavam da universidade.” 

Vladimir Herzog 

Na primeira sessão de trabalho da Comissão da Verdade “Vladimir Herzog” a expectativa era de muito trabalho e bons resultados pela frente. De acordo com Ivo Herzog, a investigação deve revelar os responsáveis pelo assassinato de seu pai. “Esperamos conhecer não só quem executou a ação, mas quem deu as ordens, qual era a inteligência por trás e quem era conivente com esse sistema, para que esses nomes venham a público e a sociedade civil condene essas pessoas.” Clarice Herzog, mãe de Ivo e viúva do jornalista, mostrou otimismo. “Tem muita gente para ser ouvida e um pessoal de altíssimo nível trabalhando. Tenho esperança de que vai dar coisa”, revelou. 

Tanto a memória de Vladimir Herzog, como a luta da família pela justiça em relação à morte de Vlado foram saudados pelos presentes na cerimônia de abertura. De acordo com Ítalo Cardoso, presidente da Comissão da Verdade municipal, a homenagem a Vladimir Herzog se dá pelo que significou a vida do repórter na história do Brasil. “Esse crime mudou o rumo do enfrentamento da sociedade civil à ditadura nesse país. O Vlado não foi um guerrilheiro, mas tinha uma arma poderosa em suas mãos que era sua caneta e a sua consciência política”.

O vereador, também presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municpal, aproveitou a ocasião para anunciar oficialmente a construção do Memorial Vladimir Herzog, em uma praça perto da Câmara que também será batizada com o nome do repórter. Três monumentos elaborados pelo artista plástico Elifas Andreato vão compor o espaço dedicado à memória do ex-diretor de Jornalismo da TV Cultura: o painel “25 de outubro”, a escultura em bronze “Vlado Vitorioso” e a versão ampliada em acrílico do Troféu do Prêmio Vladimir Herzog. “O memorial Vladimir Herzog ficará de frente para a Praça das Bandeiras como um observador. Como alguém chamando atenção a todo momento para que isso não aconteça mais”, analisou Cardoso.  


 

O futuro Memorial Vladimir Herzog: o Troféu do Prêmio Vladimir Herzog (esq.), no centro, o troféu "Vlado Vitorioso" e ao fundo, o painel "25 de outubro", de Elifas Andreato. (Foto: Divulgação)

75 anos de Vlado 

O lançamento da Comissão da Verdade Vladimir Herzog ocorre em meio à celebração dos 75 anos de nascimento do repórter. Entre os meses de junho e julho, o Instituto Vladimir Herzog promove uma série de eventos culturais gratuitos.

A exposição "96 Cartazes Polítidos", que contou com a curadoria do historiador Vladimir Sacchetta, reúne peças produzidas nos anos 1970 por diversos países da América Latina denunciando as violações aos Direitos Humanos cometidas pelas ditaduras no continente. As visitas estão abertas ao público até o dia 8 de julho, no foyer da Sala BNDES da
Cinemateca Brasileira.

A Mostra de Cinema Memória e Transformação, programada para ocorrer na Cinemateca entre os dias 19 de junho a 8 de julho, e no CineSESC no período de 29 de junho a 5 de julho, reúne 49 documentários sobre o cenário sociopolítico de países latino-americanos no contexto de governos totalitários. Na noite de abertura, dia 31 de maio, foram exibidos três curtas: “Tire Dié”, de Fernando Birri e alunos do Instituto de Cinematografia de la Universidad Nacional del Litoral; “Marimbás”, primeiro e único filme dirigido por Vladimir Herzog; e “Vlado e Birri: encontros”, de Marina Weis e Laura Faerman.

Além da Mostra, o Instituto Vladimir Herzog também promove de 4 a 7 de julho um Seminário sobre documentários coordenado pelo diretor chileno Patrício Guzmán e voltado a estudantes universitários. São 60 vagas. Informações e inscrições:
www.vladimirherzog.org , ou no hot site
Memória e Transformação.


O Seminário Direito à Verdade e à Memória, que discutirá o efeito das ditaduras militares na lembrança das populações, será realizado no Itaú Cultural no dia 28 de junho, com coordenação de Sergio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV) e presença já confirmada da Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Ainda inédita no Brasil, a cantata O Diário de Anne Frank - coro e orquestra, com regência do maestro Martinho Lutero, será apresenta nos dias 29 e 30 de junho, às 21h, e 1 de julho às 19h, no Auditório Ibirapuera. A entrada é gratuita mediante retirada de ingressos.

 
 
 
   
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