23/04/2012
O jornalista e professor livre docente da USP Manuel Carlos Chaparro é o premiado da 5ª edição do Prêmio Averroes que há cinco anos busca homenagear pesquisadores, professores e profissionais que sejam pioneiros e compartilhadores de conhecimento nas suas áreas de atuação. Fruto da exitosa parceria entre Hospital Premier, Cinemateca Brasileira e OBORÉ, o premiado receberá o Troféu Averroes, elaborado pelo artista plástico Jaime Prades e uma viagem com acompanhante para Córdoba, terra do filósofo que dá nome ao Prêmio. A cerimônia de premiação será em setembro, ao final do 5º Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, na Cinemateca Brasileira.
O almoço reuniu familiares e amigos de Chaparro, além de representantes das instituições que promovem o Prêmio. Cristina Chaparro de Almeida, a filha mais nova do jornalista, revela “ele tem 78 anos e quer sempre alguma coisa nova. A idade não pesa pra ele”. Foi assim quando, em 1979, aos 45 anos, Chaparro decidiu cursar Jornalismo na ECA-USP. “Nós prestamos vestibular juntos” revela a outra filha, Paula. “A gente adorava quando ele trazia o pessoal da nossa idade para fazer os trabalhos da Faculdade lá
em casa. Aí ele gostava de fazer a sardinha portuguesa no quintal e aquele trabalho durava a noite toda” relembra Cristina formada em Letras pela PUC-SP e que hoje trabalha como confeiteira. Apesar de não terem escolhido a profissão de Jornalista, as filhas contam que o pai foi um grande professor também dentro de casa. “O que a gente pega dele é o questionamento. Esse perfil de querer as coisas muito certas, de buscar e lutar pela verdade, seja qual for a profissão. Eu tenho essa coisa de reivindicar, de não aceitar as coisas como elas são”, contou Cristina. “A gente tem orgulho dele como jornalista, mas também temos muito orgulho de pai, de ser humano, da pessoa que ele é, independente da profissão”, admirou a enfermeira Paula.
Chaparro e a esposa Maria Augusta no almoço de comemoração do Prêmio Averroes.
Além da família, Chaparro conquistou a admiração e o respeito dos jornalistas à sua volta. O repórter Audálio Dantas, que trabalhou na revista Realidade e foi Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo contou que conheceu Chaparro na ECA, numa época em que se começava a discutir a Comunicação a serviço da sociedade, e que logo percebeu tratar-se de um grande orientador. “Ele não é só um cara que conhece a matéria e desanda a falar sobre ela. Ele tem uma incrível capacidade para transmitir, saindo daquele academicismo inútil e abrindo seu saber para os seus alunos” elogiou. Dantas defendeu “Ele merece esse e vários outros prêmios. Principalmente porque foi ampliando seu saber, ou seja, é uma pessoa permanentemente voltada também para o aprendizado”. O colega ressaltou que Chaparro é merecedor do Prêmio também por sua atuação no Nordeste do Brasil, onde ele esteve após sair de Portugal em meio à ditadura salazarista. “Ele chegou aqui e foi pra área onde os problemas mais precisavam ser debatidos, onde eles exigiam mais ação daqueles que tem conhecimento para que se discutisse a solução”.
Reportagem premiada
Além de ter se destacado na vertente acadêmica, tendo sido Presidente da INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e tornando-se Livre Docente pela USP, Manuel Carlos Chaparro foi vencedor de quatro Prêmios Esso de Jornalismo. A reportagem Macau: Terra Rica de Gente Pobre, sobre uma cidade produtora de sal no RN, foi premiada em 1963 e, para ele, foi uma das matérias que marcaram sua carreira. “Lá corria muito dinheiro, mas não tinha porto devido às condições da costa. Então havia um transporte por barcaça até os navios. O pessoal que fazia esse transporte na época era pago como estivador, uma categoria muito privilegiada e protegida pelo Getúlio Vargas. Os caras que ganhavam muito dinheiro como estivadores, torravam tudo em farra na intensa vida noturna de jogo e prostituição de Macau. Pra você ter uma ideia, a cidade tinha 12 mil habitantes e 1200 prostitutas profissionais. Mas também tinha uma outra categoria de gente do sal, quem trabalhava nas salinas que ganhava mal e com o tempo ia ficando cego por causa do sol que reflete no sal. A cidade era muito rica, mas tinha muita corrupção, o Prefeito roubava tudo. Então eu fiquei vários dias lá, entrando na intimidade do povo. Foi interessante porque eu entrei na alma da cidade”, relatou.
Leia aqui o discurso feito por Chaparro ao saber que receberia o Prêmio Averroes
Confira O Xis da Questão - Blog do Professor Chaparro
Prêmio enaltece a generosidade intelectual
A pedido do Premier Hospital, o Prêmio Averroes foi concebido em 2008 pelo historiador ítalo-brasileiro José Luiz Del Roio, Senador da República Italiana, membro do Parlamento do Conselho da Europa em Strassburgo e membro do Parlamento da União Européia Ocidental
em Paris. Mas ficou por conta do talento do artista plástico Jaime Prades a materialização de todos os conceitos e objetivos traçados para o troféu: uma premiação anual que reconheça o talento de pesquisadores, professores e profissionais em compartilhar conhecimento, em toda e qualquer área de atuação.
A peça, uma placa de aço carbono oxidado dividida em duas partes, mede 33 x 24 cm. Foi trabalhada em cortes de grafismos vazados inspirados nos padrões florais em relevo das paredes da mesquita do Alhambra de Córdoba, o maior feito da cultura árabe na Espanha e símbolo do seu mais evoluído período. As letras vazadas correspondem a todas as maneiras de nomear Averroes no alfabeto latino e em árabe. Simbolizam a união do Oriente e do Ocidente na expressão da letra - a manifestação do intelecto pela linguagem.
Troféu Averroes: elaborado por Jaime Prades
Os premiados
2008 - MARCO TULLIO DE ASSIS FIGUEIREDO
Doutor em Patologia, organizador e ex-professor das disciplinas eletivas de Cuidados Paliativos e de Tanatologia da Unifesp e Professor Titular do Curso de Tanatologia e Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina de Itajubá MG). Membro fundador da International Association for Hospice and Palliative Care (Houston-USA) e membro de seu Conselho Diretor por 3 mandatos consecutivos como representante do Brasil (1997). Coordenador do capítulo de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e co-tradutor do livro Bilhete de Plataforma: vivências
em Cuidados Paliativos , de Derek Doyle (Difusão Editora, 2009). Foi premiado com o Troféu Averroes, em 2008.
2009 - AUSÔNIA FAVORIDO DONATO
Doutora
em Saúde Pública pela USP, com duplo mestrado: Educação
em Saúde Pública e Psicologia da Educação. Dedica-se ao trabalho na área de educação formal e na área de saúde pública desde 1969. É Diretora Pedagógica do Colégio Equipe,
em São Paulo , Diretora do Núcleo de Ensino no Instituto de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde e Diretora Pedagógica da Escola Técnica do SUS (Sistema Único de Saúde) da Secretaria Municipal da Saúde. É autora da tese “Trançando Redes de Comunicação - releitura de uma práxis da educação no contexto da saúde”, defendida em 2000 na Faculdade de Saúde Pública da USP, sob orientação do Prof. Dr. Cornélio Pedroso Rosenburg.
2010 - LUIZ HILDEBRANDO PEREIRA DA SILVA
Médico, pesquisador e professor universitário nas áreas de Genética, Parasitologia e Imunologia. Formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1953. Além de epidemiologista do Serviço Nacional de Malária, foi professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba e na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e da capital, onde obteve Livre Docência em 1961. Em 1964 e 1969 foi demitido da USP pelos Atos Institucionais impostos pelo regime militar. Ambas as vezes, foi para a França, onde realizou pesquisas e lecionou no Instituto Pasteur de Paris e no French National Center for Scientific Research – CNRS. Na carreira acadêmica, foi ainda Visiting Professor de Genética na Universidade de Harvard (1982). Regressando ao Brasil em 1997, é atualmente diretor do Instituto de Pesquisa
em Patologias Tropicais de Rondônia, onde desenvolve pesquisas em Imunologia e Epidemiologia da malária. Foi eleito Professor Emérito da Universidade Federal de Rondônia em 2002 e, em 2008, Professor Emérito da Universidade de São Paulo.
2011 - ECLÉA BOSI
Professora emérita do Instituto de Psicologia da USP e docente do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Ecléa Bosi criou, em 1994, a Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) – programa de extensão universitária da USP cujo objetivo é possibilitar ao idoso aprofundar conhecimentos em alguma área de seu interesse e ao mesmo tempo trocar informações e experiências com os jovens. Em 2011, junto às temáticas dos cuidados paliativos e do envelhecimento, o 4º Ciclo prestou homenagens à Professora, destacando seus estudos ligados à memória e enaltecendo a vida não só como um fenômeno biológico, mas também biográfico. |