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10/06/2002
A fobia do cargo de editor devolveu Lourival Sant’Anna aos campos de batalha; da notícia e da geopolítica mundial. O principal repórter da Internacional de O Estado de S. Paulo esteve na OBORÉ contando sua história: um enviado à Tunísia que estréia com uma exclusiva do líder palestino Yasser Arafat, passa pela saída de Pinochet do comando das Forças Armadas, no Chile, o golpe de estado no venezuelano Hugo Chávez e realiza uma entrevista inédita com os líderes do Taleban, pouco antes do início dos bombardeios americanos ao Afeganistão.
Nada disso chegaria a uma banca de jornal ou a tela de um computador, sem que houvesse um repórter como Sant’Anna que, minutos depois do choque do segundo avião contra as torres do World Trade Center, em Nova York, no dia 11 de setembro, decide raspar os US$ 3 mil do caixa do jornal, pegar um lap top e voar rumo ao Oriente Médio, supondo o conflito militar que viria dias depois, com o “tapete de bombas” norte americano.
São histórias tradicionalmente cobertas pelas agências internacionais, mas que alguns raros jornalistas brasileiros ainda lutam para olhar com os próprios olhos, contrariando um momento de dificuldades orçamentárias que assombra os grandes veículos. “Nada substitui o repórter que está no local do conflito”, opina Sant’Anna. “Os conflitos são complexos, não envolvem só o embate militar, mas também os sentimentos, idéias, crenças e versões que só um enviado pode transmitir. Isso é insubstituível”.
Sant’Anna é o primeiro jornalista convidado para as Conferências de Imprensa do I Curso de Jornalismo em Situação de Conflito Armado, promovido pelo CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) e a OBORÉ, como mais um módulo do Projeto Repórter do Futuro. O curso, dirigido a um grupo de 23 estudantes selecionados por concurso, já recebeu o suiço Jean-François Olivier, representante da Delegação do CICV no Brasil e também o consultor jurídico da entidade, Tarciso Dal Maso Jardim. No próximo sábado, os estudantes entrevistam o jornalista José Arbex Júnior, da Revista Caros Amigos e a jornalista Adriana Marcolini, que fala de sua experiência no Alto Comissariado da ONU para Refugiados, na Bósnia.
A intenção do curso é introduzir os estudantes no debate do Direito Internacional Humanitário, dos Direitos Humanos e das convenções internacionais que regulam a guerra e, por consequência, o trabalho do repórter nas regiões de conflito armado. Esta é a primeira vez que o CICV desenvolve este curso no Brasil, que ganhará nova edição para o próximo semestre. |
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