26/01/2012
O segundo encontro do módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter teve como tema Transporte e Mobilidade Urbana e contou com a participação do ex-Secretário Municipal dos Transportes Frederico Bussinger. Também estiveram presentes o vereador Ricardo Teixeira (PV) e o jornalista Evandro Spinelli, da Folha de S. Paulo.
Bussinger, que já foi Presidente da SPTrans e da CPTM, começou esclarecendo a relação entre o transporte e o bom funcionamento da cidade. “A mobilidade não se refere só a pessoas, também envolve bens, serviços e informações. A saúde da cidade depende da circulação dessas coisas” informou.
Para o ex-Secretário, um dos principais fatores que dificulta essa dinâmica é a falta de planejamento logístico. “O Brasil concentra grande população, grande território e grande economia. Estando nessa condição, a logística é um fator crítico de sucesso. Mas essa questão não está na nossa agenda, os governos não entendem do que se trata”. O engenheiro deu um exemplo: 46% dos caminhões que andam em São Paulo estão vazios. “Os caminhões consomem combustível, consomem espaço viário, emitem mais e são ociosos. Isso diz respeito à organização, não apenas à tecnologia”, considerou.
Bussinger relacionou essa dificuldade à adoção de um modelo rodoviarista para o transporte brasileiro. “O único modo de transporte auto-suficiente é o rodoviário. Você pode transportar qualquer coisa para qualquer lugar. Outros modos, como hidroviário e ferroviário dependem do rodoviário para chegar ao fim da linha” explicou o engenheiro. A contrapartida desse modelo é a poluição ambiental. Segundo relatório do Plano Estadual de Mudanças Climáticas, no mundo, as emissões de carbono advindas do transporte correspondem a 13% do total. No Brasil, o transporte emite 42% do total de carbono. “Nós temos uma matriz de transporte mais suja pois 60% do transporte no país é feito pelo modelo rodoviarista. No caso de São Paulo, esse número salta para mais de 90%”, informou.
O ex-Secretário afirmou que é possível mudar essa matriz. Um exemplo é a estratégia europeia para um sistema único de transportes europeu, plano lançado em março de 2011. “Para atingir competitividade e eficiência, o objetivo do plano é cortar 60% das emissões de carbono na área de transportes. Uma das medidas a serem tomadas é a substituição de 50% do transporte de passageiros e carga do modelo rodoviário para o ferroviário e o hidroviário, mais eficientes do ponto de vista energético e de menor impacto ambiental”, explicou Bussinger. “O Brasil precisa ser o dobro mais eficiente em termos de emissão de carbono do que é hoje. Isso envolve tecnologia, combustível e organização”, acrescentou.
Bussinger afirmou que mudanças já estão ocorrendo. “Desde o início deste século, a hidrovia cresceu sustentadamente 12% ao ano em São Paulo”. A construção de um hidroanel na cidade também foi uma proposta apresentada pelo engenheiro. “Se você pegar os rios Tietê e Pinheiros e as represas Billings e Taiaçupeba, você precisa de um canal de 25 a 30 km para formar um hidroanel de 186 km em São Paulo. A segunda surpresa é que esse hidroanel, o rodoanel e o futuro ferroanel, se cruzam em três pontos diferentes”. Para Bussinger, o transporte de lixo, por exemplo, poderia ser feito por embarcações em vez de caminhões, o que melhoraria o trânsito na capital. “Muitas vezes encontramos soluções em outros aspectos da organização da vida na cidade. Temos que pensar no conjunto dessas variáveis e não tratar isoladamente de cada uma delas”, ele considerou.
Cidade Compacta
Bussinger apresentou a articulação dos sistema hidroviário, ferroviário e rodoviário de São Paulo como uma possibilidade para otimizar o transporte na cidade. O projeto SP 2040, da Prefeitura de São Paulo em parceria com outras instituições, coloca metas para a melhoria da cidade para os próximos 28 anos. Um dos objetivos é a cidade compacta, ou seja, a reorganização da cidade de modo que a população possa chegar a qualquer lugar de que necessite em, no máximo, 30 minutos.
“Será que o problema é o transporte ou onde estão as coisas na cidade?”, provocou o repórter Evandro Spinelli em sua fala. Para o vereador Ricardo Teixeira, ambos os aspectos são relevantes para pensar a mobilidade. Ele defendeu a proposta da cidade compacta. “A saída para os grandes centros é a distritalização da cidade. Temos que morar perto de onde a gente trabalha, estuda e se diverte. Não dá pra tirar uma pessoa lá do Itaim Paulista todos os dias e fazê-la percorrer 30 km até Santo Amaro para trabalhar.” Além do rodoanel e do metrô que atingem diversos pontos da cidade, Teixeira destacou a importância de pulverizar a oferta de infraestrutura para que isso aconteça. “A iniciativa privada já percebeu isso. Hospitais, universidades, centros comerciais já estão se espalhando. Mas o poder público tem que acelerar essa transformação”, recomendou o vereador.
A 5ª edição do módulo sobre a cidade, promovida pela OBORÉ em parceria com a Câmara Municipal, teve início dia 17/12/2011 e contou com a presença do professor Carlos Chaparro, livre docente da ECA/USP. Dirigido a estudantes de jornalismo e profissionais da comunicação ligados aos gabinetes dos vereadores, o curso prossegue até 14/4, no auditório Oscar Pedroso Horta da Câmara Municipal. Neste sábado, dia 28 de janeiro, o tema Habitação será apresentado pelo arquiteto e urbanista Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade.
Confira a cobertura completa do curso no site laboratório do Projeto.
Material de apoio
"Mobilidade e Logística na Região Metropolitana de São Paulo"
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Sobre o módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter
O objetivo do módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter é promover a investigação dos oito principais problemas da cidade de São Paulo por jovens estudantes de Jornalismo. São eles: Desenvolvimento sustentável; Educação; Emprego e Renda (Trabalho); Habitação; Meio Ambiente, Lixo e Saneamento Básico; Saúde; Segurança Pública e Violência; Transporte e Mobilidade. A partir de 21 de janeiro, os alunos terão encontros semanais para discutir cada tema. Todos os sábados, até março, serão realizadas entrevistas coletivas com especialistas, vereadores e jornalistas que investiguem o assunto. Ao final do módulo, os estudantes deverão produzir e publicar uma grande reportagem sobre um dos temas. O módulo integra as atividades do Projeto Repórter do Futuro e é uma realização da OBORÉ em parceria com a Câmara Municipal e a ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Acompanhe a cobertura completa do módulo no site- laboratório do Projeto Repórter do Futuro
Na foto de Camila Moura, da esquerda para a direita: Evandro Spinelli, Milton Bellintani, Fred Bussinger e Ricardo Teixeira.
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