18/11/2010
Mais um módulo do Projeto Repórter do Futuro chegou ao fim no último sábado, dia 13. O 9º Curso sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência reuniu 25 estudantes de Jornalismo de todo o Brasil em torno da polêmica temática. O módulo foi organizado pela OBORÉ, em parceria com o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) e a ABRAJI.
No último encontro, no dia 13 de novembro, os estudantes realizaram uma conferência de imprensa com o ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Luiz Gonzaga Dantas e um bate-papo sobre o livro “Repórteres” com o autor, o jornalista Audálio Dantas. No sábado houve também um momento de conversa e reflexão sobre o processo do curso e a entrega dos certificados de participação.
Luiz Gonzaga Dantas começou explicando o papel da Ouvidoria, um canal de comunicação entre a sociedade e o Estado que recebe denúncias sobre a Polícia e as encaminha para os órgãos corregedores. Nem todas as denúncias se tornam inquéritos, uma vez que falta estrutura para dar conta dessa demanda. A Ouvidoria conta com apenas 30 funcionários que no ano passado orientaram 4930 denúncias.
Para o ouvidor, o alto índice de ocorrências tem origem histórica: a concepção que a sociedade e o Estado têm da Polícia brasileira, criada na época do Império, é de uma força militarizada que trata os próprios civis como inimigos. “Quando uma força armada vai defender a soberania nacional, vai com o fuzil para matar o inimigo. Isso é o que permeia a nossa polícia até hoje”, criticou ele. “Não conhecemos uma polícia democrática. Quando a polícia mata alguém, a sociedade pergunta: Era um bandido? A pergunta já é uma sentença.” Assim, a arbitrariedade e o autoritarismo da polícia se sustentam e legitimam entre a população. Para o ouvidor, cabe à sociedade repensar uma nova estrutura policial e decidir que polícia quer para si.
Após a fala de Luiz Gonzaga Dantas, os alunos fizeram um balanço do curso entre si e com os coordenadores. Eles afirmaram que o curso contribuiu para sua formação, pois conheceram pessoas com interesses similares aos seus e puderam exercitar o Jornalismo na prática, algo raro nas Faculdades. Até mesmo as “broncas” ao longo do curso trouxeram a importância de se fazer uma pesquisa prévia à entrevista.
Felipe Donoso, o chefe da delegação do CICV para o Cone Sul e o Brasil, manifestou seu contentamento com o desenrolar do curso e a sua importância para a nova geração de jornalistas. O coordenador pedagógico João Paulo Charleaux destacou o interesse genuíno que os alunos demonstraram no tema do curso, e afirmou que o trabalho pesado se torna mais fácil quando existe gosto pelo assunto. Em seguida aos pronunciamentos, os alunos receberam seus certificados de participação.
Depois do almoço, ocorreu a conversa com o jornalista e escritor Audálio Dantas sobre o seu livro “Repórteres”. Audálio abordou algumas dificuldades do jornalismo atual, como o uso da internet: “Ao recorrer a esse recurso, se despreza uma das práticas fundamentais do jornalismo: perguntar.”disse ele. “Ele não tem a possibilidade de perguntar em cima daquilo que constatou, apenas engole a informação que, na maioria das vezes é incompleta, distorcida”. Audálio também destacou a importância do jornalista ir a campo e “sujar os sapatos” na apuração. Segundo ele, hoje em dia, “o repórter não olha no olho do entrevistado”, o que o impede de questionar aquela informação e fazer uma apuração mais completa.
Retrospectiva
No primeiro dia do curso, 16 de outubro, os estudantes tiveram a oportunidade de realizar entrevistas coletivas com Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV e com o Coronel Silva Filho, do Centro de Comunicação Social do Exército.
Já no segundo dia, 23 de outubro, os entrevistados foram o Coronel Vianna, da reserva da Polícia Militar de São Paulo e a jornalista Patricia Campos Mello, correspondente internacional do jornal O Estado de São Paulo.
Confira o trabalho dos alunos do curso: www.reporterdofuturo.com.br
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