27/10/2010
O segundo encontro do 9º Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, promovido pela OBORÉ em parceria com a ABRAJI e o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), aconteceu no último sábado, 23. Dessa vez, os 25 estudantes realizaram entrevistas com o Coronel André Vianna, da reserva da Polícia Militar de São Paulo e atual consultor do CICV, e com a jornalista Patrícia Campos Mello, correspondente internacional do Estadão.
O Coronel Vianna começou sua fala analisando os deveres da Polícia Militar perante a sociedade: garantir o cumprimento da lei e a manutenção da ordem pública, proteger os cidadãos e promover os direitos humanos. A polícia pode usar a força para isso, mas apenas quando se verifica os princípios de necessidade, legalidade, ética, conveniência e proporcionalidade (a quantidade de força usada pelo policial deve ser igual à do agressor). Vianna brincou: “O policial não é como o 007, que tem licença para matar”. Ele deve avaliar as condições da situação antes de recorrer ao uso das armas, pois responderá pelos resultados de suas ações, sejam eles bons ou ruins.
Motivado pelas perguntas dos estudantes, o Coronel falou sobre a relação da polícia com a imprensa. Segundo ele, apenas os excessos da polícia são noticiados pela mídia, e não seus acertos. Contudo, ele reconheceu que em casos de abuso da força, a intensa cobertura da imprensa às vezes motiva a punição a policiais, como aconteceu no caso da morte de dois motoboys por PMs, em São Paulo.
Ao final de sua fala, Vianna ponderou que e o conteúdo mostrado por ele corresponde às regras e ao comportamento ideal dos policiais, mas que ainda assim a polícia comete deslizes. O Ouvidor das Polícias de São Paulo, Luis Gonzaga Dantas, também foi convidado a falar sobre a relação entre essas regras e a realidade, mas não pode comparecer ao encontro. Sua palestra foi remarcada para o dia 13 de novembro, no encerramento do módulo, juntamente com o jornalista e escritor Audálio Dantas.
A conferência com Patrícia Campos Mello, jornalista do Estadão, teve um clima mais leve e informal, o que estimulou as perguntas dos estudantes. O principal assunto foi a sua experiência cobrindo a Guerra do Afeganistão como jornalista embedded no Exército americano. Essa modalidade de jornalismo internacional consiste na imersão do profissional no cotidiano das tropas, tanto na ação militar, como fora dela, durante as refeições e nos alojamentos.
Apesar de permitir um maior acesso à linha de frente das batalhas e uma maior proximidade com os soldados, Patrícia reconhece que é uma cobertura limitada “A cobertura embedded é incompleta, pois ela corresponde a só uma visão da guerra. É o ponto de vista de um exército que está te abrigando e alimentando”. Por isso, após passar 3 semanas como embedded em bases americanas, ela foi para a capital Cabul como jornalista independente. Nesse período, contou com a ajuda de um fixer, um repórter local que atua como tradutor e motorista, ajudando o correspondente a fazer o seu trabalho.
Patrícia falou também sobre a preparação para ser uma correspondente internacional (ela se considera nerd, pois pesquisa muito antes de cobrir uma nova situação) e sobre a inserção da mulher nessa profissão. No Brasil, ela não sofre preconceito, mas no Afeganistão é considerada uma “não-pessoa”, e, portanto ignorada pelos homens afegãos.
Ao final do encontro, o jornalista Victor Ferreira, ex-aluno do Projeto Repórter do Futuro, compartilhou sua experiência cobrindo a atuação das tropas brasileiras no Haiti.
Na próxima etapa do 9º Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, cada aluno deverá escrever e publicar uma reportagem usando como base as entrevistas coletivas realizadas. No dia 13 de novembro, sábado, ocorrerá o encontro de avaliação e encerramento do Curso.
Acompanhe o trabalho dos alunos no site laboratório do Projeto:
www.reporterdofuturo.com.br |