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  Cinebiografia de Louis Pasteur suscita discussão sobre a pesquisa científica no Brasil
por Leandro Melito. Foto: Nivaldo Silva.
  24/09/2010

Exibido na noite de sábado (18) como parte da programação do 3º Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, o longa A História de Louis Pasteur (1935), dirigido por William Dieterle, serviu como disparador para um debate sobre o atual cenário da pesquisa científica no Brasil. O filme é uma cinebiografia de Louis Pasteur (1822 - 1895), cientista francês responsável  pela descoberta da causa de algumas doenças e dos métodos de cura e prevenção.

O mediador da mesa, José Luís Del Roio, idealizador do Prêmio Averroes, ressaltou a importância da integração entre ciência e políticas públicas para o atual momento do país. “Não nos preocupa somente a questão de laboratório, mas também a política pública de fomento para evitar o problema da transição democrática pela qual passa o Brasil, onde o estado e  a sociedade encontram dificuldades para investir em pesquisa de base, a exemplo do que acompanhei como parlamentar europeu em países que vivenciaram esse processo”.

Esper Georges  Kallás, professor de Imunologia Clínica  e Alergia da Faculdade de Medicina da USP, considera o filme um tributo à ciência. Ele observa que os preceitos da ciência  na época de Pasteur eram muito frágeis, diferente do que acontece hoje, com  processos regulatórios e normativos que amparam a sua prática. Soraya Smaili, pesquisadora, livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e diretora cultural e científica do ICArabe – Instituto da Cultura Árabe, destaca a atualidade da película e considera “quase uma aula de microbiologia” a cena em que Pasteur ensina o também cientista Charbonnet a fazer a assepssia das mão se dos instrumentos cirúrgicos. 

A professora e pesquisadora da UNIFESP, Guiomar Lopes, que atua na área de cuidados paliativos e pesquisa em envelhecimento, contextualizou historicamente a época vivida por Pasteur: a revolução industrial entrava na fase do liberalismo, os países se encontravam em transição do Absolutismo para a República e a ciência era utilizada principalmente em função da indústria. Contrário à lógica predominante, Pasteur se preocupava em não se associar à indústria, tendo inclusive recusado contribuições financeiras por parte de empresas, o que o levou muitas vezes a trabalhar  em condições precárias. Além disso, ele também sofria fortes pressões da Academia de Ciência da época, que demorou para reconhecer seu método de trabalho e suas descobertas.

Guiomar Lopes destacou um fato da vida do cientista não abordado no filme: quando colabora com as vinícolas francesas e descobre a bactéria responsável pelo “azedamento” da uva, ou seja, o mesmo processo que ocorre na fermentação do leite e seus derivados. Pasteur então descobriu a existência de microorganismos, os micróbios. Essa descoberta o auxiliou em uma dos seus feitos mais importantes: desenvolver a vacina para a raiva, história em torno da qual gira boa parte do filme. As descobertas e o trabalho de Pasteur tiveram repercussão e influência mundial entre médicos e cientistas. O Instituto de pesquisas criado por ele em 1888 e batizado com seu nome, formou uma geração importante de pesquisadores brasileiros como Emílio Ribas (1862 - 1925), Osvaldo Cruz (1872-1917), Vital Brasil (1875 - 1950) e Adolfo Lutz (1855-1940).


Importantes institutos de pesquisa surgiram no país a partir do final da década de 40, como o Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência  (SBPC), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), a Coordenação de Aperfeiçoamente de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que completará 50 anos em 2012 e contou com a participação do Professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva, que se aposentou como Pesquisador pelo Instituto Pasteur e é o  ganhador do Prêmio Averroes 2010, como  Diretor do Instituto de Pesquisas em Parasitologia de Rondônia.

Guiomar Lopes recorda a fala de Hildebrando durante a Mesa de Ciência e Tecnologia realizada na manhã do sábado (18) acerca de sua motivação como pesquisador, baseada em  uma visão global de trabalho do cientista inserido na sociedade,  que depende de uma conjunção  de fatores e questões que envolvem amplos setores dessa sociedade para dar sentido e efetividade de pesquisa.

Atualmente, a universidade pública e o trabalho de pesquisa funcionam nos moldes do mercado, com exigência de resultados quantitativos em termos de publicações em um período cada vez menor. Esper Kallás levanta a questão: qual seria a maneira ideal de realizar esse trabalho? Aquele em que o pesquisador dispõe do tempo necessário para realizar suas descobertas ou a adoção dessa postura industrial, baseada na produtividade? Ele mesmo responde: “Há necessidade de gerar uma produção de conhecimento, que deve ser estimulada de várias formas, inclusive com a cobrança de resultados”. E propõe: “O grande segredo é criar maneiras de estimular pesquisadores jovens a buscarem conhecimentos e dar a eles as ferramentas necessárias para que façam isso”.

Para Guiomar Lopes, é o preciso criar espaços em que o pesquisador possa assumir um papel de compromisso com a realidade brasileira, com tempo para refletir sobre seu trabalho. A pesquisadora também ressalta  a importância desse profissional ter a visão do país como um todo “a exemplo do que faz Hildebrando”. Soraya Smaili, por sua vez, considera o ambiente acadêmico importante para produzir conhecimento e não apenas publicações: “O ambiente é o mais importante, ele deve ser um  espaço para discutir e refletir sobre ciência e política, ciência e tecnologia e políticas de educação, por exemplo”, diz. Ela partilha do pensamento de Thomas Kuhn (1922 - 1996) sobre a revolução na ciência e a necessidade de uma mudança de paradigma para novas descobertas.

A tese de Kuhn fala sobre como a academia discute  geralmente a “cência normal” baseada em um paradigma estabelecido, até que algum acontecimento não possa ser tratado dentro desse paradigma, e ele  passa a ser questionado. Acontece então um período de crise, sucedida por uma “ciência extraordinária” que passa a propor novas lógicas possíveis. E então acontece o que podemos entender como uma revolução científica, ou seja, uma mudança na lógica, um novo contexto da descoberta – a mudança do paradigma.

* Foto, da esquerda para a direita: Guiomar Lopes, José Luís Del Roio, Soraya Samili e Esper Georges Kallás

Depoimento em vídeo de Guiomar Lopes

Depoimento em vídeo de Esper Georges  Kallás

Depoimento em vídeo de Soraya Smaili

Cobertura Completa do Ciclo

3º Ciclo de Cinema e Reflexão: Aprender a Viver, Aprender a Morrer
 
 
 
   
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