Após ser apresentado por seu colega de exílio José Luis Del Roio, o ganhador do Prêmio Averroes, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia, abordou na Mesa Temática Ciência e Tecnologia os motivos que o impulsionaram a trabalhar em pesquisas sobre doenças endêmicas na região e como este trabalho tem se desenvolvido.
Geralmente apresentado como cientista engajado ou humanitário, Hildebrando deixa bem claro que não foram esses os motivos que o levaram a se mudar de Paris, em 1996, onde se aposentou como pesquisador do Instituto Pasteur, mas sim a curiosidade e a certeza de que o conhecimento é capaz de vencer estruturas não conhecidas e não controladas. “Eu não fui para fazer caridade nem humanismo, mas buscar uma forte realização de ordem racional em termos da minha vocação em ciência”.
Ele se considera engajado na maneira de olhar a função dos cientistas dentro da sociedade. Assim como o músico ou o artista, o cientista também procura uma emoção estética em seu trabalho: “poder avançar no conhecimento e ter a satisfação de compreender, antes que qualquer outro, um fenômeno ou uma situação nova e diversa, a emoção estética da descoberta”.
A escolha de trabalhar em Rondônia se deu pelo fato de ser uma região que oferece um problema extremamente complexo no plano da saúde, da estrutura social, do sistema produtivo e de organização socioeconômica, com soluções ainda pouco definidas. “Isso constitui um desafio para a consciência e a humanidade em termos de responsabilidade para o futuro, das posições a serem tomadas e das soluções que vão ser administradas e aplicadas, porque senão a Amazônia como tal vai desaparecer antes que ela seja realmente desenvolvida em termo de soluções possíveis”.
O Instituto de Patologias Tropicais de Rondônia dirigido por Hildebrando desenvolve um trabalho de investigação e pesquisa em patologias tropicais de alta difusão endêmica nas áreas da Amazônia como a malária, hepatites infecciosas, diarréias infantis, infecções respiratórias agudas e outras viroses. Para combater esses processos infecciosos e parasitários, o Instituto se mune com o “arsenal” da microscopia, bioquímica e biologia molecular. “Com isso podemos chegar a conhecimentos novos e propor soluções novas para resolver problemas de saúde em Rondônia”.
Hildebrando considera possível controlar malária na Amazônia através da utilização racional de instrumentos de controle já existentes e de uma organização da estrutura de atendimento clínico, epidemiológico e sanitário que sejam melhores e mais adaptados que os atualmente utilizados. Em algumas localidades de Rondônia, o Instituto atingiu situações de controle ideais com a redução do número de infecções por malária de 600 casos por mil habitantes ao ano, para níveis de um caso por mil habitantes. Nessas regiões, o trabalho não precisa mais ser feito por estruturas especializadas e pode ser transferido diretamente para as estruturas tradicionais de controle de doenças assumido pelo SUS.
Antes de iniciar sua fala Luiz Hildebrando concedeu uma entrevista para o programa Trajetória da TV USP. O programa, dirigido pelo jornalista Pedro Ortiz, mostra a vida e o trabalho dos professores e pesquisadores da USP, que mudam o rumo da ciência e do ensino no Brasil.
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Foto: Luiz Hildebrando Pereira da Silva
Depoimento em vídeo de José Luiz Del Roio
Depoimento em vídeo de Luiz Hildebrando Pereira da Silva
Depoimento em vídeo de Pedro Ortiz
Cobertura completa do Ciclo
3º Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer